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Candidatos da chapa Autonomia e luta reforçam compromisso por autonomia universitária

As eleições para a diretoria da ADUFPel e conselho de representantes, para o biênio 2021-2023, ocorrem virtualmente na próxima terça-feira (25). De modo a conferir maior transparência ao pleito, convidamos para uma entrevista a professora Regiana Wille e o professor Luiz Schuch, candidatos à direção e 1ª vice-presidência pela Chapa Autonomia e Luta.


Ao longo das discussões, os candidatos partilham com a comunidade acadêmica suas reflexões sobre grandes temas que nos circundam: pressões para o retorno presencial; privatização e precarização do ensino público; perseguição e censura docente e muito mais.

 

Regiana Blank Wille é docente do curso de música, que atua há 28 anos na Universidade. Já Luiz Schuch é professor aposentado da Faculdade de Veterinária. Ambos reforçam, em suas falas, o compromisso pela autonomia universitária, liberdade e pela mobilização coletiva em nome dos trabalhadores e trabalhadoras. A entrevista completa você pode escutar, em áudio, no programa Viração que foi ao ar esta semana.


Confira a entrevista.

 

Diante da pandemia, percebemos o movimento de trabalhadores e trabalhadoras de procurarem, por vezes pela primeira vez, os seus sindicatos em busca de uma voz em defesa da vida e da razão. Qual a importância desse movimento e como se posicionar diante das pressões sociais pelo retorno presencial?

Regiana Wille: Nós apoiamos e reivindicamos a vacinação para todos e todas, não somente para uma parcela da população enquanto a outra parcela estará exposta a um vírus que é extremamente letal. Ao vacinar os professores, isso não significa que estaremos imunizando toda a comunidade educativa. Convém lembrar que esta comunidade inclui também os outros servidores técnicos que atuam nas universidades e nas escolas. Além disso, os alunos também não estarão imunizados, - tanto os da universidade quanto os alunos da Educação Básica. Voltar às aulas implica no ônibus que vai lotar, e assim por diante. Então, essa é uma questão de país.

 

Recentemente a prefeitura de Pelotas lançou o decreto de que os alunos vão voltar dentro de três semanas na Educação Básica. Isso é muito grave, é muito sério. Nós já tivemos professores, tanto da escola particular (que já voltaram) quanto nas públicas que faleceram porque foram contaminados na volta às aulas. 

 

Nós temos um sistema, que é o SUS, que sempre foi elogiado, que sempre teve campanhas de vacinação extremamente complexas e efetivas em um país grande como nosso. Agora, estamos vivendo um caos sanitário porque não temos coordenação, porque temos corrupção... As pessoas estão morrendo e nós vamos para meio milhão de pessoas mortas por falta de controle, de organização e, provavelmente, por um plano de genocídio.

 

Ronda sobre nós a ideia de que não estamos trabalhando ou produzindo. Na verdade, estamos trabalhando muito mais do que antes. Isso é fato. Estamos todos estressados, cansados, porque o trabalho dobrou. Por certo que, de maneira alguma, defendemos o ensino remoto. Nós defendemos uma escola e uma universidade presencial, mas não neste momento. Estamos em meio a uma crise sanitária, que coloca vidas em risco.  Que todos possam ser vacinados para que então imunizados possamos pensar em um retorno gradual.

 

De que modo as políticas neoliberais para a educação colaboram para minar o ensino público?

Regiana Wille: No momento em que entregamos o patrimônio público para outros grupos, eles subvertem o interesse público porque a ideia é a lógica lucrativa. E isso está acontecendo de forma avassaladora. Cada vez mais nos deparamos com notícias sobre Universidades ameaçando fechar por falta de verbas, pois o repasse recebido neste ano é referente ao ano de 2014. Uma coisa absurda...

 

A ideia é sucatear a universidade, fazendo com que o acesso às fontes, aos recursos, seja suprimido. E que haja cortes orçamentários, tanto em ciências quanto cultura e tecnologia - porque a universidade não trabalha em um âmbito só. Esse sucateamento empobrece as Universidades e, nisso, vem a “falácia” de que as parcerias público-privadas serão a única alternativa para que a instituição continue funcionando.

 

É por aí que esse interesse liberal, esse interesse pelo lucro, vai adentrando pela Universidade e tomando conta, subvertendo o patrimônio público e, aos poucos, privatizando seus espaços. E então, quando formos perceber, não haverá mais universidade pública. Teremos uma universidade gerenciada por interesse privado e que só quer gerar lucro. Só que Universidade se sustenta a partir de um patrimônio público e pelo interesse público. Então, a nossa luta é a para que isso não ocorra. 

 

Nós sabemos que isso está na mira desse governo. E o sindicato, como um ente construído historicamente invocando esse direito constitucional de organização que ainda temos, defende a democracia como princípio básico, como um processo decisório, em contradição às imposições totalitárias. Defendemos os serviços públicos de qualidade como um direito de cidadania, e o estado é o responsável por esse financiamento.

 

Sabemos que, com uma Universidade centrada no lucro, o impacto mais negativo será para as pessoas que não têm acesso. Vários dos nossos serviços vão acabar não chegando na maioria da população, aumentando a distância social.

 

É por isso, também, que a Chapa se lançou nesse momento. Para poder pensar, junto aos colegas, que nós não podemos entregar a universidade, os bens públicos que temos, ao interesse privado. Por isso a importância de um sindicato, como uma entidade autônoma em relação às reitorias, aos governos ou a partidos políticos, defendendo a universidade pública, laica, gratuita, e o compromisso com uma luta social mais ampla.

 

Em paralelo, há no discurso político a imposição de uma lógica do empresariado sobre as instituições públicas. Em especial, espera-se que a Universidade dê lucro, quando sua função não é ser lucrativa, mas cumprir função social e produzir conhecimento. Como compreender este projeto?

Luiz Schuch: Esse ponto é decisivo para organizar uma consciência, neste momento, da defesa do espaço público. Nós estamos vivendo, especialmente depois de 2004/2005, um grande movimento mundial do capital, estratégico, preocupado com o esgotamento da equação capitalista mundial, que escolhe o setor de serviços como o locus principal de expansão dos lucros no mundo. O setor de educação e o setor da saúde são os grandes filões, vistos como um campo de lucro, e a pressão é muito grande. No ensino superior do Brasil, praticamente 80% das vagas para estudantes já são oferecidas no ensino privado. Então, quando nós estamos falando em defender a educação pública, nós estamos falando do que, hoje, já é apenas 20% da oferta do ensino superior do país. Estes setores têm vínculos muito pesados com bancadas parlamentares, que estão lá para atendê-los. 

 

Um outro elemento que, neste momento, é didático, é eloquente, é a vinculação da universidade pública com o SUS, que é outro braço de expressão do espaço público e que está em xeque justamente por uma política genocida intencional de governo, de abandonar realmente o interesse da população em nome de outros interesses. Estamos discutindo, recentemente, a proposta da quebra da patente de uma vacina que pode salvar a humanidade. Uma patente é um componente secreto do saber, é o registro secreto de algo construído pela sabedoria humana - muitas vezes subsidiada enquanto pesquisa básica nas universidades públicas, mas apropriada mercadologicamente.

 

Se a universidade que nós defendemos é a universidade do saber, como ela pode ser submetida a um sistema que o sistema do segredo? Este é o “segredo” do negócio. Como submeter os movimentos universitários à lógica de um negócio? É impossível a humanidade e a tarefa universitária conviver com a perspectiva de que o saber não é social, e que o segredo é o que comanda o processo. Então, acho que nós estamos realmente com instrumentos da razão, do interesse social, que demonstram mais do que nunca, especialmente para um país como o Brasil, a necessidade universidade pública aberta, e não com segredo.  

 

Uma outra situação deste projeto de ataque à educação é a perseguição a docentes por parte do governo federal – seja por meio de termos de ajustamentos de conduta, seja por inquérito como no caso da Aduferpe... Como lidar com estes ataques institucionais?

Regiana Wille:  Ao atuar na luta de forma unitária, junto aos trabalhadores do setor da educação em todas as esferas. Nós somos, aqui, sindicato de base porque nós estamos vinculados ao ANDES-SN como nossa representação maior. Então, nossas campanhas nacionais são unificadas, com uma pauta unitária e mobilizações conjuntas. A importância de nós, enquanto docentes, estamos ligados ao sindicato pressupõe também que nós, a partir da base, estaremos ligados para que possamos realmente nos defender tanto em relação a essa uberização dos processos de trabalho quanto em relação à defesa do emprego e, também, à autonomia e à possibilidade de não sofrermos essas represálias.

 

A nossa luta e a defesa são por meios adequados para que possamos atuar, enquanto docentes, com autonomia e liberdade de expressão. Porque não é possível que o fato de nós nos manifestarmos, de mostrarmos o nosso movimento em defesa da qualidade do ensino seja tolhido por pessoas que, de alguma forma, não concordam e não querem isso.

 

Nós defendemos as lutas populares e as lutas sindicais de forma radical porque a nossa universidade é pública e precisa continuar pública, gratuita, laica, democrática, inclusiva e social. E nos posicionamos contra toda e qualquer forma de repressão, em que a democracia não seja respeitada.

 

Schuch: Não é a primeira vez, na história, que as universidades são atacadas em uma escalada fundamentalista, negacionista, autoritária, como nós estamos nessa vez acompanhando. Próximo da barbárie, da bestialidade... Não é a primeira vez, porque as Universidades públicas têm um componente de incomodar o que está estabelecido, exatamente porque elas não estão aqui para defender a lógica Econômica de hoje, a religião de hoje, o governo de hoje. Ela está aqui exatamente para lançar interrogações sobre isso tudo e precisa ter liberdade para buscar formulações que avancem a respeito daquilo que parece estabelecido neste momento.

 

A perspectiva de que a universidade precisa ter autonomia, de levantar questões sobre tudo, incomoda especialmente nesses períodos de escalada autoritária – aproximando-se de perspectivas nazistas, fascistas, como algumas expressões que estamos vendo. Mas isso coloca uma interrogação para dentro da Universidade também: porque a universidade, para indicar liberdade acadêmica e a autonomia institucional, deve atuar na perspectiva pública. Enquanto a universidade, internamente, cair na tentação de abandonar a perspectiva pública, menos ela terá razões e fundamentos para invocar a autonomia e a liberdade acadêmica.

 

Nossa obrigação é fazer entrar na mente esse chamado associado à luta permanente, sem entregas, às agressões que temos sofrido. É um bom tema para localizar com a maior seriedade que temos o papel de uma seção sindical neste momento. 


Assessoria ADUFPel

 


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