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Centenário da Reforma de Córdoba é tema de palestra promovida pela ADUFPel-SSind

O professor Gonzalo Adrián Rojas, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), esteve em Pelotas, na tarde de ontem (30), para abordar o centenário da Reforma Universitária de Córdoba e seus impactos na América Latina em palestra organizada pela ADUFPel-SSind. A atividade aconteceu no auditório da Faculdade de Direito da UFPel.


Doutor em Ciência Política na UFCG e integrante da Rede Internacional de Jornais Esquerda Diário no Brasil, Rojas, em um primeiro momento, contextualizou o movimento político anti hierárquico ocorrido na Universidade de Córdoba, interior da Argentina, em 1918, dando sequência à abordagem da forma como os estudantes universitários inseriram-se no processo de luta e inspiraram mudanças em toda a América Latina.


O movimento

Antecedendo a Reforma de Córdoba, em 1916, segundo o docente, a situação política na Argentina era representada pela luta das classes médias, que haviam, na época, conquistado uma lei eleitoral que “democratizava” minimamente o regime político. A lei representou uma derrota aos grandes fazendeiros e setores  conservadores da sociedade - vinculados à Igreja Católica de Roma - que, apesar de perderem força política, mantinham um grande poder nas universidades do país, fundamentalmente a de Córdoba, fundada em 1613 pelos jesuítas. “Então, existia uma diferença gigantesca entre aqueles que tinham perdido posições políticas no plano do governo, mas ainda mantinham poder nas universidades. Esses grandes fazendeiros e setor conservador estavam muito vinculados e tinham uma ideologia imperialista”, afirmou Rojas.


O resultado disso, foi o surgimento de um movimento de características anti imperialistas da juventude, que se manifestou em diferentes países. O movimento, segundo o professor, teve um significado muito importante para a época, já que a Argentina era semicolonial. Ao mesmo tempo em que era um país independente politicamente, dependia do mercado capitalista do ponto de vista produtivo. “A burguesia era forte no interior do país, mas não tinha condições de resolver as próprias demandas que a sociedade burguesa exigia. A classe operária era muito heterogênea ainda, mas politicamente não tinha a influência necessária para resolver essas tarefas que a burguesia não conseguia resolver”, comentou.


Enquanto a maioria negava a necessidade de participação política, a Reforma de Córdoba representou uma contradição, de acordo com Rojas. Foi um grande avanço social e científico para o regime democrático. Ao conquistar a reforma do Estatuto, o movimento pró-reforma, em 1918, permitiu uma série de mudanças, entre elas a participação da comunidade no processo de escolha de reitor e ao incorporar as reivindicações dos estudantes por autonomia, participação na gestão acadêmica e modernização dos currículos. A instituição foi, então, desvinculada dos jesuítas que a fundaram.


Impactos na América Latina

A Reforma Universitária de Córdoba foi considerada um marco histórico para as universidades latino-americanas, pelo seu pioneirismo na construção de um modelo institucional que permitiu a renovação do ensino superior. A partir da reforma do Estatuto de Córdoba, são reformados também estatutos de outras universidades da América Latina. “Pela primeira vez, na América Latina, os estudantes puderam fazer parte do governo universitário, de forma igualitária. (...) Córdoba foi a faísca que incendiou um pouco a chama para toda a América Latina”, ressaltou Gonzalo.


Se na Argentina a reforma foi mais atrelada à Universidade, em outros países onde o movimento reverberou, como Peru e Cuba, segundo Rojas, ganhou caráter político. Houve uma mobilização anticlerical muito forte, com relação a preocupações com a sociedade. A ideia, em Cuba, por exemplo, era de uma universidade que produzisse conhecimento para a classe trabalhadora. “Queriam uma classe operária que pudesse pensar o conjunto dos problemas da sociedade, uma classe operária mais culta”, explicou.  


A repercussão no Brasil foi mais tímida e demorada do que nos países vizinhos, mesmo porque as primeiras universidades do país só surgiriam no Rio de Janeiro, em 1920. O professor destaca que o movimento foi mais forte no Paraná. Em 1928 foi lançado, no Brasil, um manifesto dos estudantes, inspirado na Reforma de Córdoba, que defendia a democracia na eleição para reitor, a participação dos estudantes na gestão e a autonomia.


Rojas concluiu a sua fala abordando os legados da Reforma de Córdoba: a necessidade de mudança na estrutura da universidade, de organização, de reivindicações políticas, da crítica aos saberes e fragmentação do conhecimento.
Ainda ressaltou que a autonomia universitária vem sendo desrespeitada atualmente e criticou propostas que buscam feri-la.


Assessoria ADUFPel


Fotos: Assessoria ADUFPel

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