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Com vacina própria, Cuba promete imunizar toda a população até agosto

Mesmo diante do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos – ou, talvez, por conta dele, o governo cubano informa que deverá ter vacinado toda a sua população de 11 milhões de pessoas até o mês de agosto com uma vacina de fabricação própria. A primeira da América Latina.


Mais do que isso, a expectativa é a produção de 100 milhões de doses até o final do ano, que poderão ser utilizadas para a imunização de turistas ou mesmo para compor o banco de vacinas da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba-TCP). A proposta é que os países membros que solicitarem possam receber gratuitamente o imunizante. Além de Cuba, a Alba-TCP é composta por Venezuela, Antígua e Barbuda, Dominica, Nicarágua e São Vicente e Granadinas, com novos países membros ainda a serem efetivados.


No momento, existem cinco vacinas candidatas em desenvolvimento na ilha, cada qual em um diferente estágio de testes: Soberana 01, Soberana 02, Soberana Plus, Abdala e Mambisa. A mais avançada atualmente é a Soberana 02, que desde o início de março está na fase três dos testes clínicos. A Abdala deve seguir o mesmo passo nos próximos dias. As diferentes variantes da vacina não concorrem entre si no âmbito da produção, permitindo que a infraestrutura produza as milhões de doses prometidas.


Concebida em equipe, a estratégia foi conciliada com o Ministério da Saúde e acompanhada pelo governo. Seu passo inicial foi a convocação das instituições com vasta experiência na produção de vacinas para que trabalhassem em conjunto, em uma articulação que contou ainda com o Grupo Técnico Nacional para a luta contra a Covid-19. Os estudos persistem para dar conta das novas variantes do vírus que surgem pelo globo.


Dependendo da vacina, é preciso duas ou três doses para a imunização contra o coronavírus em um intervalo de duas semanas. Uma das vantagens, no caso da Soberana 02, é que ela não precisa ser armazenada em baixas temperaturas como a da Pfizer e da Moderna – algo importante para regiões mais pobres, em que a infraestrutura já fez com que centenas de doses fossem perdidas.


No caso da vacinação dos turistas, uma das alternativas é que o visitante receba uma dose ao entrar no país e que possa levar a outra na mala caso não fique na ilha durante o tempo necessário para a segunda dose. Parte da mídia estrangeira vê a medida como uma estratégia capitalista para estimular o turismo a partir da vacina ou promover uma diplomacia médica que mude a imagem da ilha diante do mundo. A ideia de que haja vacina gratuita e para todos parece absurda demais para analistas neoliberais.


Embargo e Desenvolvimento

Para Eduardo Martínez Díaz, presidente da BioCubaFarma – indústria envolvida na produção da vacina, a integração foi a chave para os resultados. “Não possuíamos grandes recursos financeiros e, devido ao bloqueio econômico dos Estados Unidos, vários fornecedores nos recusaram materiais e equipamentos”. Até mesmo aquisição de espectrômetros, utilizados para controle de qualidade, foram uma dificuldade.


Desde a década de 1960, o país sofre com o embargo comercial, econômico e financeiro promovido pelos EUA. Não por acaso, foram preciso tomar medidas que levassem à auto-suficiência daquilo que lhes era negado. Em 1965, a indústria biofarmacêutica cubana teve início com a criação do Centro Nacional de Investigações Científicas (CNIC) por Fidel Castro. Nos anos 1980 o status de pesquisa de ponta já havia sido alcançado.


Em 2012, o conjunto de iniciativas do governo se reúne na forma da organização empresarial BioCubaFarma, que abriga hoje 32 empresas. São mais de 800 produtos ao sistema de saúde, 182 objetos de patente da organização que exporta seus produtos para mais de 50 países.


O desenvolvimento científico caminha junto à conscientização e ao acesso à saúde. Após cinco epidemias de poliomielite, Cuba começou a erradicar a doença após uma campanha de vacinação que imunizou toda a população com menos de 15 anos no país.


Desde 1962, nenhuma nova morte por conta de pólio foi contabilizada, o que fez com que a doença fosse considerada eliminada em 1994 pela Organização Mundial de Saúde e pela Organização Pan-americana de Saúde. Com um esquema de vacinação desde a infância, foi possível erradicar doenças como difteria, rubéola, sarampo, caxumba, bem como o tétano neonatal e a meningite.


Questionado sobre os motivos para o sucesso da campanha anos atrás, o pesquisador Enrique Beldarráin Chaple, na Universidade Médica de Havana, atribuiu a dois fatores fundamentais: atendimento integral e gratuito.


Em dados de 2018, percebemos que a expectativa de vida ao nascer é maior em Cuba (78,7 anos) do que na média dos países da América Latina e Caribe (75,4 anos). Cabe notar ainda que o país investe 11,1% de seu PIB em saúde, enquanto no restante da região esse índice é de 7,9%.


Diplomacia Médica

Durante o governo Donald Trump, os Estados Unidos não apenas restringiram ainda mais o embargo comercial à ilha como também agiram para “desencorajar” países aliados a firmarem acordos com médicos cubanos – acusados de serem agentes enviados para espalhar o comunismo no país ou trabalhadores explorados pelo governo.


O discurso ganhou eco entre governos conservadores na América Latina. Como resultado, mais de 8 mil médicos deixaram o Brasil logo após a eleição de Jair Bolsonaro em 2018. Em 2019, cerca de 700 deixaram a Bolívia durante o governo interino resultante do golpe contra Evo Morales.


Mesmo durante a pandemia, o Departamento de Estado estadunidense se manifestou em 2020 dizendo que os países que aceitaram ajuda de Cuba na luta contra a Covid-19 deveriam rever seus acordos. Ainda assim, poucos meses após o início da pandemia, o governo cubano já havia enviado brigadas médicas para 23 países – especialmente no Caribe, América Latina e África. Os médicos também estiveram na Itália durante o período mais crítico da doença no país. O conjunto de ações fez com que o Conselho Mundial para a Paz indicasse formalmente o contingente ao Prêmio Nobel da Paz.


Assessoria ADUFPel

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