Covid-19 se alastra em comunidades quilombolas: 155 mortos e 4,5 mil infectados
Segundo
o monitoramento autônomo da Coordenação Nacional de Articulação das
Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), em parceria com o
Instituto Socioambiental (ISA), ao menos 155 quilombolas já foram mortos
pela Covid-19 e mais 4.504 mil foram infectados.
Desde 11 de abril, quando foi registrado o primeiro óbito entre
quilombolas, morreu, em média, 1 quilombola por dia. Há ainda 1.212
casos em monitoramento e 3 óbitos com suspeita, mas sem confirmação de
diagnóstico. As informações, referentes até o dia 28 de agosto, foram
coletadas junto às lideranças quilombolas de territórios de todo o país.
De acordo com o monitoramento, o Pará é o estado com o maior número de
óbitos (43), seguido do Rio de Janeiro (38) e Amapá (22).
A falta de ações efetivas de enfrentamento à proliferação do novo
coronavírus em territórios quilombolas revela uma situação
potencialmente drástica, que evidencia o descaso das autoridades
públicas, segundo a Conaq.
Para a organização, há subnotificação nos territórios quilombolas pelas
autoridades sanitárias, pois muitas secretarias municipais ainda deixam
de informar quando ocorre a transmissão da doença e morte entre pessoas
quilombolas.
Em maio deste ano, a Conaq alertou sobre a desigualdade do enfrentamento
à Covid-19 e o impacto "arrasador nos quilombos", se a doença
mantivesse o ritmo de alastramento e letalidade. O boletim divulgado no
dia 13 de maio contava com 128 casos e 21 óbitos por Covid-19;
aproximadamente um óbito a cada dois dias, portanto, entre quilombolas.
Ataques
No final de março, 800 famílias de 30 comunidades quilombolas do
município de Alcântara, no Maranhão, foram surpreendidos pela Resolução
11 de 2020, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo
federal, que autoriza a remoção das famílias das suas terras para expandir o Centro de Lançamento de Alcântara.
Na época, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, órgão do
Ministério Público Federal, solicitou a suspensão de despejos e remoções
em todo o país, para coibir a propagação do novo coronavírus.
Meses depois, em outro ataque, o presidente da República, Jair
Bolsonaro, vetou uma série de dispositivos da Lei 14021/2020, que dispõe
sobre medidas de proteção social para prevenir a propagação da Covid-19
em territórios indígenas, quilombolas e outras comunidades
tradicionais. Em agosto, o Congresso Nacional derrubou 16 dos 22 vetos
do presidente.
Fonte: ANDES-SN
* Com informações da Conaq