Quem gosta de futebol provavelmente já ouviu falar de Eric Cantona. Atacante francês que fez muito sucesso no Manchester United na década de 1990. Jogador cheio de marra, autor de dezenas de gols incríveis, o centroavante era carinhosamente chamado de Rei Eric pelos torcedores ingleses.

Quem não é fã do esporte bretão também talvez o conheça por uma cena icônica. Em 25 de janeiro de 1995, seu time jogava em Londres, contra o Crystal Palace. Cantona recebeu um cartão vermelho e deixava o campo quando um torcedor desceu 11 fileiras da arquibancada para xingá-lo de maneira xenófoba. O francês não pensou duas vezes: desferiu uma voadora na cara de Matthew Simmons. 

A imagem correu o mundo. Cantona, que já declarava suas posições antifascistas frequentemente, virou símbolo da luta contra a intolerância e a xenofobia. Neto de espanhóis que lutaram contra Franco na Guerra Civil, o francês ainda deu outras declarações políticas fortes depois de encerrar a carreira. Em 2010, por exemplo, ele chamou a população do país a sacar todas suas economias dos bancos, em protesto contra o sistema financeiro, o que levou até o presidente da França a pedir na televisão que os cidadãos deixassem de lado a ideia.

À Procura de Eric

Depois que pendurou as chuteiras, Eric seguiu a carreira de ator. Em 2009, atuou em um dos filmes mais consagrados do diretor inglês Ken Loach, à Procura de Eric. O longa-metragem de comédia dramática conta a história de um carteiro de Manchester, homônimo de Cantona. Deprimido e cheio de problemas familiares, é ajudado por seus colegas de trabalho, que sugerem que ele mentalize um ídolo que possa inspirar uma mudança em sua vida.

É aí que aparece o outro Eric, Cantona. Ao longo do filme, os dois Erics travam debates existenciais, mas também discutem sobre o futebol. O carteiro, fanático torcedor do United, se lamente por não conseguir frequentar mais o estádio como fazia nos anos 90 por conta da elitização do futebol e do preço abusivo dos ingressos. A trama se desenvolve enquanto Eric, o carteiro, busca se reaproximar da ex-esposa e, ao mesmo tempo, ajudar o filho adotivo a se livrar dos laços com a máfia. 

À Procura de Eric foi apresentado durante o 62º Festival de Cannes e venceu o prêmio Magritte de Melhor Filme em Coprodução. Assim como outros filmes de Ken Loach, como Terra e Liberdade (1995), Ventos da Liberdade (2006) e Eu, Daniel Blake (2016), o filme aborda de maneira crítica a realidade social dos trabalhadores. Só que com um pouquinho mais de humor. 

Recursos Desumanos

O último projeto de Eric Cantona como ator é a série dramática francesa Recursos Desumanos, lançada no Brasil pela Netflix em 2020. Ele é Alain Delambre, um gerente de Recursos Humanos que há anos luta para voltar a trabalhar, se mantendo com bicos e em difícil situação. 

Na fábrica em que trabalhava esporadicamente é demitido depois de revidar uma agressão física de seu chefe. É processado e entra em depressão. Quando, então, surge a oportunidade de voltar a trabalhar com RH em uma empresa de recrutamento. A seleção, no entanto, não é nada convencional. E Alain se vê envolvido em testes violentos que expressam de maneira cruel o mundo do trabalho em um sistema capitalista. 

Recursos Desumanos é uma adaptação do livro Cadres noirs, do romancista francês Pierre Lemaitre. A série tem 1 uma temporada, com 6 episódios. 

Frases de Cantona

- Meu melhor momento? Eu tenho vários bons momentos, mas o meu preferido é quando chutei o hooligan.

- Se eu me arrependo de ter chutado o hooligan no Selhurst Park? Sim, me arrependo de não tê-lo chutado com mais força.

- Em minha visão, um artista é alguém que pode iluminar um quarto escuro. Eu nunca encontrei e nunca encontrarei diferença entre o passe de Pelé para Carlos Alberto na final da Copa de 1970 e a poesia do jovem Rimbaud. Há em cada uma dessas manifestações uma expressão de beleza, que nos toca e dá a sensação de eternidade.

- Ser francês, para mim, é antes de tudo ser um revolucionário.

Assessoria ADUFPel com imagens de divulgação (À Procura de Eric) e reprodução. Matéria publicada originalmente no jornal Voz Docente.