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Docentes compartilham dificuldades com o ensino remoto e perspectivas para o retorno presencial

Matéria publicada no jornal Voz Docente de maio/2022

Um longo período se passou desde o início da pandemia e a paralisação das atividades presenciais na UFPel. Desde junho de 2020, a comunidade acadêmica teve que enfrentar uma nova realidade, a do Ensino Remoto Emergencial, implementado como alternativa para a manutenção das atividades acadêmicas no ensino de Graduação e de Pós-Graduação. 


Após todo esse tempo, as atividades devem voltar, em sua totalidade, ao formato presencial, no dia 1º de agosto, quando terá início o Calendário Acadêmico referente ao primeiro semestre de 2022. A decisão foi divulgada em Nota Oficial pela reitoria da Universidade em 29 de abril deste ano. 


Isso significa uma nova etapa. Estudantes, docentes e técnico-administrativos, que tiveram suas rotinas alteradas, jornadas duplicadas e enfrentaram as dificuldades do ensino remoto, passarão por um novo obstáculo. Para aqueles que faziam parte da instituição antes da pandemia, o cenário será de readequação, já os que ingressaram nos últimos dois anos, será ainda mais desafiador. 


Nesse retorno, a professora da Faculdade de Enfermagem, Aline Basso da Silva, que entrou na UFPel em setembro de 2020, vivenciará uma experiência distinta do professor da Faculdade de Veterinária, Luiz Filipe Damé Schuch, que leciona na UFPel desde agosto de 1997. Entretanto, até chegar às perspectivas para o retorno integralmente presencial, ambos confidenciam como lidaram com o ensino remoto no dia a dia. 


Experiências novas

Para Aline, foram inúmeros os desafios de entrar para a UFPel como docente iniciante sem conhecer, de fato, a instituição. Até então, em sua bagagem acadêmica, contava com uma passagem como professora substituta e pesquisadora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde ficou por dez anos, incluindo o período de pós-graduação. 


Lá, já havia tido contato com a educação remota na Graduação, porém isso não foi o suficiente para lidar com a prática rotineiramente. “Tinha algum conhecimento com a parte tecnológica, mas, muito embora minha geração tenha uma certa proximidade com a questão tecnológica, foi um desafio muito grande trabalhar com essa metodologia toda voltada ao ensino remoto, à internet”, conta. 


Conforme ressalta, os pontos que mais a impactaram foram o contato com os alunos e os colegas de trabalho e o controle pedagógico. “Na questão do contato com os alunos, eu sou uma defensora muito grande do ensino presencial, principalmente na questão da Enfermagem, que é uma Graduação muito voltada ao cuidado e precisa de uma proximidade com o ser humano”. 


Nesse sentido, o ensino remoto também a distanciou do controle pedagógico, resultante muito da precariedade de estrutura e material em que os estudantes estiveram inseridos durante o período: de internet instável, falta de um computador de qualidade, entre tantas outras questões que os afetaram durante a pandemia. 


Aline também reforça que enfrentou muita dificuldade de adaptação. Chegou a realizar um curso de formação de professores iniciantes, que a ajudou um pouco a entender a UFPel de forma institucional, mas faltou o contato direto. “Há colegas que eu não conheço e nunca vi. Às vezes, só escuto a voz durante as reuniões. Então, de fato, eu não me sinto tendo conhecimento desse mecanismo da Universidade como um todo, tanto ele vinculado ao institucional, de como funciona a Universidade, como de conhecer os colegas e os meus alunos”. De acordo com ela, o isolamento só foi amenizado por algumas aulas práticas nas redes de saúde do município, onde acompanhou pequenos grupos de alunos.


Dificuldades de adaptação 

A situação para Luiz Schuch também não foi fácil. Em 25 anos de UFPel, ele comenta que não havia passado por nada semelhante. Segundo relata, o percurso foi todo percorrido sem preparo e os docentes tiveram que se adaptar ao longo dele. “A gente acabou executando um processo em que as condições foram se criando parcialmente no caminho e a gente foi aprendendo com a colaboração das pessoas com mais experiência, mas sem efetivamente uma preparação e uma tecnologia adequada para isso”. 


Schuch defende que a implementação emergencial do modelo remoto para a manutenção da vida acadêmica foi essencial, mas avalia que ele não foi capaz de sanar todas as necessidades de um curso prático como a Veterinária, em que o contato é fundamental. “Eu acho que o nosso curso é muito prático e vai esbarrar sempre no limite do contato, de observar e reconhecer os movimentos do animal. No sentimento dos alunos, para mim, foi muito claro o medo inicial e a imensa dificuldade de acesso que perdurou durante todo o tempo. E, agora, chegou à extenuação total do modelo. Eu acho que, na forma como se colocou, chegou no limite, que extenuou os professores e tenho certeza que extenuou os alunos”. 


Aline também aponta as dificuldades de adaptação, principalmente em relação aos materiais. Ela destaca que sentiu o processo ocorrer de forma muito individualista. “O professor teve que comprar o seu computador, o material adequado para dar aula, uma internet boa. Antes de vir para Pelotas, eu tive todo um momento de transição. Eu fiquei em outra cidade dando aulas remotas e a internet não era boa, tive que comprar uma internet melhor”. A professora confessa que sentiu todas essas fragilidades bastante presentes na sua rotina de trabalho, assim como na dos estudantes.


Do ponto de vista estrutural, o professor Schuch também comenta que sentiu tudo de uma forma muito individual. “O que a gente fez foi aprender com as condições individuais que cada um conseguiu, com a própria disposição e com a própria capacidade mental e emocional de realmente encontrar um caminho para fazer a adaptação”, afirma, destacando que não houve preparo, na Universidade, para esse tipo de docência: “Eu acho que o que a gente se obrigou a fazer foi repentino e, sem dúvidas, sem a adequada preparação e construção tecnológica de equipamento para isso”. 


Perspectivas

Faltando poucos meses para um retorno totalmente presencial, Schuch e Aline contam quais serão os maiores desafios do processo educacional na prática e o que esperam para o período. 


Segundo Luiz, será um momento necessário para maturar e processar o que passou e reencontrar seus espaços, dando prioridade à atenção à saúde. “Tenho percebido alguns colegas com dificuldade para várias questões, então há um impacto psicológico muito grande desse período [pandêmico], e eu acho que o respeito aos tempos de cada um é importante. Certamente, com relação aos docentes e com relação aos alunos, a gente não pode esquecer todo o impacto econômico e social que o país está passando e isso traz uma ansiedade muito grande a todos”. 


Aline também reflete sobre as questões referentes à organização estrutural e todos os fatores externos que atingem a comunidade acadêmica. Para ela, a Universidade não voltará a funcionar como antes, em um primeiro momento, pois será necessário um tempo para a adaptação e reorganização, tanto estrutural e metodológica quanto de recursos humanos. “Dentre essas questões todas, os determinantes dos impactos do processo da pandemia, essa crise que se instalou e que não é só a crise da Covid, do vírus, mas essas consequências que a gente tem visto tanto da saúde mental da população dos professores e dos alunos como a questão do aumento da pobreza, da desigualdade social e do desemprego, isso traz impacto para as pessoas que frequentam a Universidade. Eu vejo muito isso na prática”, afirma. 


A entrevista completa com os professores foi divulgada no episódio 121 do podcast Viração. Confira aqui. A ADUFPel, através do GTPE, está organizando um seminário Regional para a profundar esse debate e trocar experienciais com outras seções sindicais e categorias. O evento será anunciado em breve.


Fonte: Assessoria ADUFPel

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