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Documentários acendem alerta sobre a situação da saúde pública

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Imagens: Reprodução/Divulgação

Se os impactos negativos do sucateamento da saúde pública já são sentidos no dia a dia, tanto por aqueles que necessitam de atendimento quanto pelos profissionais da área, durante uma pandemia são ainda mais evidenciados.


Não é de hoje que a saúde pública é alvo de uma política de desmonte. A degradação do Sistema Único de Saúde (SUS) é um problema estrutural que já vem de muito tempo e, agora, está exposto, revelado na falta de leitos de UTI para pacientes de Covid-19, insuficiência de equipamentos, medicações e materiais. Única opção para milhões de brasileiros e brasileiras, o SUS vive a explosão de atendimentos em hospitais, que sofrem até mesmo, em alguns lugares, com falta de sabão. 


Apesar da situação crítica, ao sancionar o orçamento de 2021, o governo Bolsonaro não poupou nem mesmo a pasta da Saúde e passou a tesoura. O corte no Ministério foi de mais de R$ 2 bilhões e afetou as ações de enfrentamento à pandemia e o projeto de custeio para assistência hospitalar e ambulatorial. Na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), três programas de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação sofreram redução de R$ 10 milhões.


“Na Fila do SUS”

Esse cenário precarizado inspirou a realização da websérie documental “Na Fila do SUS”, que estreou em 13 de abril na plataforma online Bombozila. A produção independente, de financiamento coletivo, começou a ser gravada em 2020 e contou com o apoio do sindicato dos trabalhadores da Fiocruz e de profissionais de saúde de todo Brasil.


Cada episódio trata de um tema: população de rua, indígenas, linha de frente, uberização da vida e saúde nas vilas e favelas. A direção é da profissional e pesquisadora em saúde pública, Ellen Francisco, que buscou registrar, em diferentes perspectivas e regiões do país, os impactos do desmonte das políticas sociais na saúde de populações vulneráveis, ressaltados pela pandemia. 


O episódio de estreia, chamado "O povo da Rua", foi gravado na cidade de São Paulo, com a participação do padre Júlio Lancelotti - conhecido pelas suas ações sociais -, e trata da situação da população em situação de rua e usuária de drogas. A cidade foi escolhida por não ter políticas públicas voltadas a essa parcela. 


Já o segundo debate a luta dos povos indígenas em defesa de seus territórios e do direito à saúde, além de denunciar a influência do agronegócio nas áreas de preservação ambiental da Amazônia. No terceiro, é promovido um debate sobre a vulnerabilidade da população negra e de favela no Rio de Janeiro, devido ao racismo estrutural e ao abandono do Estado.


O quarto aborda a luta dos trabalhadores da saúde em defesa do SUS, que relatam a rotina na linha de frente no enfrentamento à Covid-19. O quinto foi gravado em Porto Alegre e mostra a precarização da saúde na cidade, bem como a batalha de moradores nas vilas em busca de garantir o mínimo para sustentar suas famílias. Por fim, o último foca na exploração de trabalhadores que atuam nos serviços de delivery e a chamada “Economia de Plataforma”. Todos os episódios contam com a participação de pesquisadores e acadêmicos especialistas no assunto. 


A plataforma de streaming Bombozila é conhecida por seu catálogo voltado às lutas sociais. São mais de 500 documentários independentes sobre luta e resistência não só no Brasil, mas no mundo todo. Foi criada em 2016, no RJ, pela comunicadora chilena, Sabina Alvarez, e pelo cineasta brasileiro, Victor Ribeiro. 


Collective”

A situação da saúde pública não é muito diferente na Romênia e foi exposta no documentário indicado em duas categorias do Oscar neste ano, de Melhor Documentários e Melhor Filme Internacional. A produção foi construída como uma obra investigativa e de denúncia que, a partir de um incêndio semelhante ao que ocorreu com a boate Kiss em Santa Maria (RS), expôs a corrupção envolvendo todas as camadas do sistema de saúde do país.  


Em 2015, a boate Colectiv, de Bucareste, sofreu um incêndio de grandes proporções durante a apresentação de uma banda de rock, resultando, inicialmente, na morte de 27 jovens e 180 feridos. No entanto, parte daqueles que sobreviveram, mesmo com ferimentos leves, acabaram falecendo no hospital nas semanas seguintes. 


A situação chamou atenção sobre o que realmente teria levado essas pessoas à morte e fez com que a equipe de um jornal esportivo se mobilizasse para apurar o ocorrido. Liderada pelo editor Catalin Tolontan, os repórteres da Gazeta Sporturilor descobriram que as mortes estavam sendo causadas por uma epidemia de infecções hospitalares por toda a Romênia, por conta do uso de desinfetantes diluídos. 


Com o objetivo de potencializar os lucros, a indústria farmacêutica Hexi Pharma estava vendendo produtos adulterados para vários hospitais romenos. Os desinfetantes, que deveriam ser usados para esterilizar as instituições, eram tão diluídos que não atingiam a eficácia necessária. Muitas das pessoas que sobreviveram à tragédia, acabaram falecendo  por infecções de superbactérias. 


Além de acompanhar os jornalistas durante a investigação, o filme também mostra como o governo tentou conter a crise. A situação se transformou em um escândalo de saúde pública, envolvido por uma rede de corrupção, que mobilizou a população. As matérias publicadas frequentemente pelo veículo, somadas a uma série de protestos, pressionaram os líderes do Partido Social-Democrata e provocaram a demissão do ministro da Saúde.


O documentário foi lançado em 2019 no Festival de Veneza e é inteiramente produzido, dirigido, roteirizado e editado pelo romeno Alexander Nanau. Antes do Oscar, o cineasta rejeitou uma medalha do presidente romeno Klaus Iohannis e o criticou pela forma como geriu o setor cultural durante a pandemia. 


Assessoria ADUFPel


Matéria publicada na quarta edição do jornal Voz Docente.

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