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Notícia

Estrutura pública da UFPel é utilizada para beneficiar o agronegócio

Os graves impactos sociais e ambientais causados pela expansão desenfreada do agronegócio no Brasil não impediram que a UFPel e a Embrapa Clima Temperado firmassem um termo para potencializar o desenvolvimento da ciência e tecnologia voltadas à agroindústria na região. A assinatura de uma carta de intenções para a instalação de um Parque Tecnológico Agropecuário foi realizada no dia 10 de fevereiro, durante a 31ª Abertura da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas. 


A proposta é que o projeto seja executado no Capão do Leão, na Estação Experimental Terras Baixas da Embrapa, próximo ao Campus da Universidade, e irá reforçar a instalação de incubadoras para startups do setor agropecuário, utilizando das ferramentas, habilidades e experiência dos dois entes públicos federais. 


O formato da parceria, conforme aponta a Assessoria de Comunicação da UFPel, é o primeiro do Brasil. Nele, um Comitê Gestor, composto por representantes das duas instituições, será o responsável pelo Parque, onde haverá espaço para dez empreendimentos. A documentação jurídica deverá ser oficializada em 40 dias e, após, será apresentado um edital público para inscrição de empreendedores interessados. 


O convênio de cooperação técnica, conforme defende a Embrapa, “surge de demandas do setor produtivo, o qual já possui duas empresas inovadoras a se candidatarem à avaliação e seleção para o segmento de incubação e/ou Associação”. O público-alvo são empreendedores e empresas que demonstrem potencial para absorver e desenvolver conhecimento científico e tecnológico e que queiram constituir empresas inovadoras e/ou inserir inovações no meio produtivo ligado à cadeia produtiva do agronegócio.


De acordo com o coordenador de Inovação Tecnológica da UFPel, Vinícius Farias Campos, o Parque Tecnológico Agropecuário será mais um espaço de fomento ao empreendedorismo local e destaca que a região tem vocação para o agronegócio, mas importa tecnologia para isso. Ele defende que, a partir do conhecimento e da experiência da UFPel e da Embrapa, as startups poderão transformar os estudos em novos negócios e tecnologia. 


Situação é vista com apreensão  

Henrique Mendonça, docente da Faculdade de Agronomia e representante da ADUFPel-SSind no Fórum em Defesa da Democracia Ambiental (FDAM), alerta que esta iniciativa do poder público trata-se de mais uma, dentre uma série de outras iniciativas, que apoiam o modelo agrícola dominante no país, o qual tem sido altamente criticado pelas suas agressões ao ambiente natural e por seus efeitos de estímulo à concentração da riqueza. 


“Sua promoção, há algumas décadas, tem provocado impactos sociais nefastos, com a exclusão da população mais pobre do campo, utilização, em larga escala, de agrotóxicos e suas consequências à saúde dos trabalhadores rurais e consumidores, além do desmatamento das florestas nativas. Em sua grande maioria, os produtos deste modelo agrícola são destinados a atender demandas do mercado exportador, negligenciando as necessidades de produção de alimentos para a maioria dos brasileiros”, reforça. 


O apoio ao agronegócio por instituições públicas também é criticado por Mendonça, que questiona: “Sendo a universidade ‘socialmente referenciada’, como explicar à opinião pública que dê prioridade a este modelo em detrimento da Agricultura Familiar? Como explicar à opinião pública, pagadora de impostos e financiadora das duas instituições (UFPel e Embrapa), a necessidade de apoiar o já poderoso ‘Agronegócio’, enquanto a Agricultura Familiar, que sustenta a maior parte da produção de alimentos para a população brasileira, continua a receber um retumbante não aos pedidos de estímulos?”


O convênio para a instalação do Parque também é visto com preocupação pela diretoria da ADUFPel. Para a presidente da entidade, Celeste Pereira, “significa a utilização da estrutura pública da UFPel para beneficiar o agronegócio, que destrói o meio ambiente, envenena a comida e explora trabalhadores/as para obter seu intento”. 


Agronegócio e seus impactos 

O agronegócio, nos últimos anos, tem ocupado um papel de protagonismo no noticiário brasileiro e tem sido responsável por uma parcela considerável do Produto Interno Bruto (PIB), cerca de 21%, mesmo em momentos de crise. Entretanto, esses números de crescimento são interessantes apenas por uma perspectiva meramente econômica. Em uma perspectiva ambiental, o avanço do agronegócio e a superexploração causam impactos profundos no meio-ambiente. 


O setor econômico mais produtivo do país é responsável pelo desmatamento, degradação do solo, perda de biodiversidade, esgotamento de mananciais, contaminações, exploração do trabalho e conflitos agrários. 


O desmatamento é a maior consequência do agronegócio no Brasil. Desde o início da colonização, grande parte das áreas de vegetação do Brasil foi desmatada para abrir espaço para áreas de pastagem e cultivo. Em virtude desse crescente desmatamento, o Cerrado e a Mata Atlântica já foram introduzidos na lista mundial de biomas com grande diversidade que estão ameaçados de extinção. 


Por conta do desmatamento, muitas espécies da fauna e da flora entram em extinção, já que não conseguem garantir a sua sobrevivência nas pequenas reservas que restam de seu ecossistema.


Além disso, o desenvolvimento extensivo da agroindústria tem causado a degradação do solo, o deixando improdutivo ao longo do tempo, gerando não só problemas ambientais, mas também problemas econômicos para aqueles que o degradaram. As técnicas de cultivo inadequadas, o uso intensivo de máquinas e a não rotatividade das culturas produzidas no solo podem ocasionar o esgotamento dos nutrientes, compactação, erosão e aceleração da desertificação.


Também, o uso indiscriminado de agrotóxicos, fertilizantes e antibióticos tem sido responsável pela contaminação do ar, do solo e da água. O agrotóxico, ao ser lançado nas plantações ou no pasto, pode espalhar-se pelo ar, infiltrar-se no solo, atingir o lençol freático ou ser levado pela água da chuva para os mananciais. Eles podem causar diversos problemas, como neurológicos, dificuldades respiratórias, irritações na pele, manifestações gastrointestinais, alterações no sistema reprodutor masculino e feminino, além de cânceres como no cérebro, mama, esôfago, de pele e sistemas digestivo e de reprodução. 


Trabalho escravo

Além disso, gigantes do agronegócio são os que mais figuram na ”lista suja” do trabalho escravo - cadastro de empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas à escravidão. As violações aos direitos humanos incluem ameaças de patrões, condições degradantes de moradia e higiene, servidão por dívidas e até trabalho infantil. 


Os fazendeiros e os “atravessadores” - intermediários que fazem a ponte entre os fazendeiros e as grandes empresas de moagem - constituem-se como maioria na lista que contém mais de 100 empregadores, segundo o Ministério Público do Trabalho. Ambos exploram e escravizam os chamados meeiros - pessoas que trabalham em troca de moradia e dividem os lucros da produção com os proprietários das moradias - e os boias-frias, que representam uma fatia importante da escravidão contemporânea.


Assessoria ADUFPel


Com informações de Embrapa Clima Temperado, Assessoria de Comunicação UFPel e Brasil Escola

Fotos: Paulo Lanzetta, Getty Images e Públicas/Mayke Toscano


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