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Filme aborda luta boliviana contra a privatização da água

Publicado no Voz Docente de abril de 2022


Em uma conjuntura em que as privatizações avançam no Brasil e caminham para a redução do Estado, apontando um futuro nada promissor, a exemplo de outros países que vivenciam as consequências das escolhas políticas neoliberais, indicamos, nesta edição do Voz Docente, o filme “También la Lluvia” - O Conflito das Águas. 


A produção, que mistura drama e ficção histórica, dirigida por Icíar Bollaín, apesar de ser de 2010, não perde a atualidade. Ao utilizar-se da metalinguagem, a trama aborda a luta vitoriosa do povo boliviano contra a privatização da água. O enredo trata, de forma geral, da gravação de um longa-metragem que se passa na Bolívia, em 2000, sobre a visão crítica da colonização espanhola na América.


O diretor ambicioso do filme, Sebastián, interpretado por Gael García Bernal, e sua equipe de produção vão até o país gravar um longa de época a respeito da chegada de Cristóvão Colombo à América (1492). Naquele momento, a população de Cochabamba, terceira maior cidade boliviana, passava pelo processo de tentativa de privatização de todo o sistema hídrico, fato real. 


Quando dão início às filmagens, as relações com os bolivianos são estabelecidas de uma maneira muito semelhante à que ocorreu quando Colombo e os espanhóis chegaram, no final do século XV, e nos séculos seguintes. Uma relação que objetivava a exploração da força de trabalho para gerar riqueza à Coroa espanhola. 


A gravação provoca agitação entre os moradores que estão sendo selecionados para participarem do elenco, que se empenham em conseguir um papel. Um deles é Daniel, eleito para atuar como líder da resistência indígena. Esse momento expõe a carência da população em todos os sentidos, que luta por atenção e por um direito básico: o acesso à água.


A trama, que se passa em 2000, momento em que o país foi vítima das políticas neoliberais impostas pelos Estados Unidos e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), remete à história real da Guerra das Águas, quando, em Cochabamba, eclodiu uma revolução popular contra a tentativa do governo em privatizar o serviço de distribuição de água. 


A empresa que adquiriu o sistema hídrico foi responsável por elevar de forma abusiva o preço, em 100%. Além disso, decidiu tapar os poços, fazendo com que os moradores tivessem de cavar buracos para guardar a água da chuva. A cidade transformou-se, então, em uma praça de guerra.


A pressão foi tão grande que levou o governo a anular o acordo com a transnacional estadunidense Bechtel, que depois do ocorrido acionou a administração pública por quebra de contrato, mas com a repercussão acabou desistindo. 


Tramas convergem

Nos primeiros dias, a equipe do filme envolvia-se apenas na realização do longa, sem dar importância ao que ocorria na cidade. No entanto, a contratação de Daniel, jovem local que desempenharia um papel de destaque, levou à uma guinada na produção, pois, concomitante ao filme, ele era também um dos líderes das manifestações da Guerra das Águas.


Os acontecimentos começam, então, a interferir diretamente na gravação do filme. Outra integrante da filmagem, que estava responsável por registrar os bastidores para a montagem de um documentário, também acabou se envolvendo com o que ocorria na cidade e passou a registrar a mobilização contra a desestatização da água.


Revolução

Em 1952, a Bolívia passou por uma revolução, popularmente conhecida como a Revolução Nacional (RN), que marcou a entrada da Bolívia no século XX. Foi um período que se estendeu de 9 de abril de 1952 até o golpe de Estado de 4 de novembro de 1964, durante o qual governou o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR). 


Em todos esses anos, o MNR conduziu um processo de adoção de medidas neoliberais, impostas de forma repressiva, que alteraram o curso do desenvolvimento político, econômico e social do país. Essas ações, junto ao Governo Neoliberal de Paz Estenssoro, resultaram em privatizações de praticamente todas as empresas públicas do país latino-americano, incluindo a empresa de abastecimento de água da cidade de Cochabamba (SEMAPA). 


Situação brasileira

Assim como na Bolívia, o governo brasileiro caminha em direção à ampla privatização das estatais nacionais. Em 2020, o governo de Jair Bolsonaro sancionou o novo marco regulatório do saneamento básico no Brasil. O projeto constitui-se como um ataque à soberania nacional. 


Além de permitir que empresas explorem o serviço de saneamento, dá o direito delas controlarem os recursos hídricos brasileiros como rios e lençóis freáticos e aquíferos. As beneficiadas serão as grandes empresas que utilizam água como matéria-prima, como a Coca-Cola, grande apoiadora do projeto. 


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