Fraude nos exames pré-câncer de Pelotas completa um ano e segue sem resolução
As vítimas e seus familiares clamam por justiça e exigem que a Prefeitura tome providências
Em julho, completa-se um ano da denúncia de servidores públicos sobre a fraude nos exames pré-câncer de colo de útero em Pelotas e até então as investigações seguem sem conclusão. Nesses últimos 12 meses, três mulheres morreram, inúmeras adoeceram e muitas ainda estão sob risco, já que nem todos os exames preventivos foram refeitos.
Diversas denúncias foram realizadas e inquéritos abertos sem qualquer conclusão. Além disso, mulheres que tiveram falsos resultados negativos nos seus exames seguem sem o acolhimento necessário. Segundo o Coletivo Mobilização Pela Vida das Mulheres Pelotenses, o Executivo também não tomou providências para a verificação da qualidade o serviço prestado pelo laboratório de nível 1. De acordo com o que determina a Portaria Federal de número 3.388, é necessária a contratação de um laboratório nível 2 para a análise dos exames de papanicolau, que até então não foi cumprida.
Mulheres seguem sem respostas
Muito pouco foi feito de lá para cá e o novo laboratório contratado - Serviço Especializado de Ginecologia (SEG), de Porto Alegre - descumpre as regras do edital ao atrasar em mais de dois meses a entrega dos resultados, em vez de disponibilizá-los de sete a dez dias.
Ainda, o inquérito do Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul segue aberto e a sindicância da Prefeitura foi suspensa à espera de prova técnica. O Ministério da Saúde aguarda os apontamentos feitos pelo Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde (Denasus) para adoção de medidas. Enquanto isso, o Instituto Geral de Perícias, também de Porto Alegre, ficou responsável por analisar novamente 589 lâminas, sendo 489 da Unidade Básica de Saúde Bom Jesus, da qual partiu a primeira denúncia.
Como tudo começou
Em julho de 2017, seis profissionais de saúde da Unidade Básica de Saúde (UBS) Bom Jesus enviaram um memorando para a Secretaria de Saúde de Pelotas, no qual relataram preocupação com os resultados de exames de pré-câncer analisados pelo laboratório Serviço Especializado em Ginecologia (SEG), de Pelotas. A denúncia indicava que entre janeiro de 2014 e junho de 2017 todos resultados dos exames citopatológicos apontavam como negativos para malignidade. Em outros anos, a média era de 760 exames, e o número de pacientes com câncer foi em torno de 40.
A denúncia aconteceu a partir da morte de Greice Dóro (UBS Bom Jesus), vitimada pelo câncer de colo do útero com seu papanicolau falso-negativo. Em seguida, houve mais dois falecimentos: Emanuele dos Santos (UBS Balneário dos Prazeres) e Ieda de Ávila (UBS Bom Jesus). O caso de Ieda originou a desconfiança dos servidores da UBS Bom Jesus sobre a padronização dos laudos, já que era paciente padrão - realizava seu exame preventivo anualmente e era acompanhada pela equipe de saúde. Já doente e tratando o câncer, Ieda realizou novo papanicolau que de novo atestou “nenhuma alteração”, apesar de ter feridas visíveis a olho nu no colo uterino.
CPI dos Exames
A Câmara de Vereadores de Pelotas instaurou, em julho de 2018, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar suspeita de fraude nos exames. Em setembro, o presidente da comissão, vereador Marcos Ferreira (PT), anunciou a decisão de deixar a CPI por motivos político-partidários. O vereador Salvador Ribeiro (MDB) foi escolhido como presidente interino da comissão até que se definisse um novo comando, mas não aceitou permanecer. Com a indefinição em torno da presidência, a CPI foi encerrada sem qualquer resultado.
Vigília
O Coletivo Mobilização Pela Vida das Mulheres Pelotenses, que vem acompanhando o caso, realizou um ato-vigília de um ano das fraudes nos exames pré câncer em Pelotas na sexta-feira (12). Mesmo sob chuva, mulheres saíram em caminhada pelo centro da cidade para reivindicar que a Prefeitura realize um mutirão que inclua todas as mulheres em idade preventiva e que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) para fazerem o exame pré-câncer. Também, pedem a contratação do laboratório tipo II para monitorar a qualidade do trabalho realizado pela empresa responsável pelas análises.
Vários cartazes foram colados no chão, com pingos de sangue simbólicos, desde o calçadão da Andrade Neves, até a Prefeitura. Também foram distribuídos panfletos para conscientização da população e reforçar as reivindicações.
Assessoria ADUFPel
Fotos: Assessoria ADUFPel e Ana González
* Com informações de Coletivo Mobilização Pela Vida das Mulheres Pelotenses, Gaúcha e Diário Popular.