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Notícia

Inclusão como forma de enfrentamento ao preconceito linguístico

A inclusão, nos diferentes âmbitos e espaços da nossa sociedade, vem sendo cada vez mais reivindicada por grupos historicamente excluídos, e quando esse debate trata da linguagem, podemos perceber diversos equívocos e preconceitos por parte de um extrato conservador e hegemônico da nossa sociedade. 


Primeiramente, é importante distinguir a linguagem inclusiva da linguagem neutra, já que esses dois termos vêm se intercambiando para falar da mesma coisa. A linguagem inclusiva – não sexista – é aquela que envolve todas as pessoas, sem especificar gênero e sem alterar a ortografia das palavras. A linguagem neutra – não binária – é aquela que evita a binaridade entre gêneros feminino e masculino. A primeira, busca considerar a inclusão de todos/as através da utilização de expressões, por meio das quais todas as pessoas se sintam contempladas, como por exemplo: quando ao cumprimentar um grupo misto consideramos ambos os gêneros presentes através da fala. 


Segundo a professora do Centro de Letras e Comunicação da UFPel, Taís Bopp, a expressão “linguagem neutra” pode ser considerada equivocada já que, do ponto de vista ideológico, nenhuma linguagem é neutra. “Usar a língua é se posicionar. Do ponto de vista linguístico, também podemos dizer que não existe linguagem neutra. A língua é um sistema de oposições, a gente precisa das oposições para marcar as diferenças que existem no mundo, então masculino e feminino, singular e plural, aumentativo e diminutivo. Todas são marcas e estão presentes no mundo e a gente expressa na língua, através das ferramentas que a língua disponibiliza”. 


A neutralidade na língua busca evitar o uso dos gêneros tradicionalmente perpetuados (feminino e masculino), tornando a comunicação mais inclusiva e menos sexista e surge para tentar suprimir essas diferenças. Sua proposta central é tentar neutralizar as diferenças que existem no mundo. 


Por outro lado, Taís chama a atenção para as contradições que cercam a discussão sobre o tema, isso porque, de acordo com ela, “Muitas vezes as pessoas que assumem o seu gênero trabalham nessa construção. A gente costuma dizer que o gênero é performativo, quando escolhemos uma roupa, um sapato, uma maneira de falar, nossas opções culturais”. 


E questiona: “será que uma mulher trans não preferia ser tratada como ela e não como ili? É uma questão para refletir, aqui eu não to me propondo a trazer soluções ou respostas prontas, porque o debate sobre língua e sociedade é, por natureza, permeado de contradições e é isso que faz da linguística um campo de estudo tão interessante”. A ideia é justamente ampliar o debate, tirando de dentro da academia e levando para o público em geral. 


Nos últimos anos, foi possível perceber o quanto o tema esteve em evidência, especialmente após a mal sucedida implementação do projeto Escola sem Partido. Alguns parlamentares, principalmente os que são diretamente ligados à base governista, empenharam-se para impedir o uso da linguagem neutra nas escolas. A professora explica que em 2021, no Brasil, 34 projetos em 19 estados e mais no Distrito Federal, em diversas cidades, tentavam coibir a utilização da linguagem neutra. Essas iniciativas visavam impedir o uso nas escolas, nos materiais didáticos, nas grades curriculares, proibindo a variação linguística. 


No entanto, a docente diz que não existe nenhuma proposição formal tramitando, que justificasse um contra-projeto, ou seja, a tentativa é de interdição contra as aplicações variáveis da língua. Isso expõe, sobretudo, a ignorância de nossos governantes e o preconceito linguístico evidente contra o falante. 


Preconceito linguístico 

É o prejulgamento contra formas linguísticas divergentes daquelas que são preconizadas pela norma. Conforme Taís: “o que nós vemos, predominantemente, é o preconceito incidindo sobre formas linguísticas originadas de extratos sociais menos privilegiados, então este é predominantemente um preconceito social”. 


Já em relação às questões de gênero, ela destaca que: “é um preconceito especializado, pois incide contra as pessoas que utilizam essas formas, então é sobretudo um preconceito de gênero”. O que podemos observar de semelhante entre os dois é que em ambos o que predomina de fato é a discriminação contra o interlocutor. 


Hegemonia cultural do uso da língua 

A hegemonia em relação à linguagem, também é uma disputa por poder e privilégios, é o tradicional versus o inovador, e, como usualmente fazemos, foi pensado para perpetuar um gênero ou outro. Mas o que acontece é que qualquer falante, quando usa esses contrastes na língua, faz isso abaixo do nível da consciência. 


A motivação para a aceitação de uma linguagem neutra vem de uma luta por reconhecimento em relação às pessoas que se sentem excluídas, então é um conflito de classes, seja por poder ou por legitimação, as pessoas buscam seus lugares e isso é genuíno. O cuidado que precisamos tomar, como chama a atenção a professora, é para o tom deste debate não se tornar normativo, caindo no dogmatismo de quem está no poder.


Matéria publicada na sétima edição de 2022 do jornal Voz Docente. Leia aqui. 

Assessoria ADUFPel


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