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Maioria no combate à Covid-19, trabalhadoras da saúde enfrentam desgaste físico e mental

Na linha de frente da Covid-19, as trabalhadoras da saúde estão entre os grupos mais expostos e vulneráveis às consequências físicas, emocionais e psicológicas da pandemia. No trabalho, encaram rotinas exaustivas, nas quais o foco é o tratamento do próximo. Porém, esse cuidado as expõem à inúmeros riscos, inclusive, o de perder a vida. 


Desde o início da pandemia, mais de 200 profissionais de saúde morreram e outros 257 mil foram infectados pelo novo coronavírus. Os dados foram apresentado pelo Ministério da Saúde em entrevista coletiva no dia 24 de agosto. 


As categorias mais vitimadas foram técnicos e auxiliares de enfermagem (38,5%), médicos (21,7%) e enfermeiros (15,9%). Entre os casos de Covid-19, os mais atingidos foram técnicos e auxiliares de enfermagem (34,4%), enfermeiros (14,5%), médicos (10,7%) e agentes comunitários de saúde (4,9%). 

De acordo com o Observatório da Enfermagem, os números de óbitos de trabalhadores da saúde já alcançaram, na data de fechamento desta edição do jornal Voz Docente, 376, com letalidade de 1,84%. A maioria (63,30%) ocorreu entre as mulheres, que também representam 85,03% dos casos de contaminação. 

Pandemia acentua desigualdade de gênero

Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), dentre os efeitos imediatos dessa pandemia, é acentuada a desigualdade de gênero e a piora da qualidade de vida das mulheres. Há predominância das mulheres na força de trabalho da saúde e no combate à Covid-19 em nível global. Cerca de 70% das equipes de trabalho em saúde e serviço social são compostas por profissionais do sexo feminino, incluindo, além de médicas, enfermeiras, parteiras e trabalhadoras de saúde da comunidade. 

No Brasil, conforme aponta o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres representam 65% dos mais de seis milhões de profissionais atuantes no setor público e privado de saúde, em todos os níveis de complexidade da assistência. Em algumas carreiras, como Fonoaudiologia, Nutrição e Serviço Social, elas ultrapassam 90% dos profissionais e em outras, como Enfermagem e Psicologia, representam mais de 80%.

O que explica números tão elevados de Covid-19 no Brasil? 

São diversos os fatores, que incluem falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados, sucateamento da saúde pública, sobrecarga de trabalho. Circulam relatos, imagens e vídeos de trabalhadoras e trabalhadores atuando sem avental, viseira, máscaras adequadas, luvas e álcool em gel. A situação acende um alerta, pois o afastamento desses profissionais pode comprometer ainda mais o sistema de saúde, que já colapsou em diversos lugares. 

Além disso, os trabalhadores em geral, incluindo os da saúde, têm sido impactados com Medidas Provisórias que flexibilizam as condições de trabalho. Entre elas, a MP 936/2020, que prevê a possibilidade de redução de salário por meio de uma negociação individual entre o trabalhador e empregador.

Não bastasse o risco de morte e as condições, muitas vezes, precárias, esses profissionais ainda tiveram de lidar com o incentivo, por parte do presidente Jair Bolsonaro aos seus apoiadores, para invadirem hospitais e documentarem a ocupação dos leitos. 


Trabalhadoras de Pelotas

Em Pelotas, a situação não é diferente. Enquanto o poder público cede às pressões do empresariado e não toma as medidas necessárias para conter a Covid, há centenas de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, entre outros profissionais, trabalhando diariamente nas unidades de saúde para defender a população.


É o caso de Maria Laura Silveira Nogueira, médica da Secretaria Municipal de Saúde há 24 anos, que atua na UBS Simões Lopes e também na preceptoria da UBS CSU do Areal. Ela que conta que, no início da pandemia, a situação foi difícil. “Foram mudanças grandes de rotinas individuais e coletivas. Até para nos acostumarmos com o uso dos EPIs foi difícil. Recebemos EPIs de qualidade ruim, inicialmente, e em pouca quantidade, o que gerou muita insegurança e ansiedade nos funcionários em geral”, comenta. 


Segundo ela, atualmente os EPIs são de boa qualidade e em quantidade adequada, e não faltam materiais de proteção. “Tem funcionários de higienização que trabalham incansavelmente para manter o ambiente adequado e seguro. Estamos trabalhando de acordo com estratégia da SMS, com atividades diferentes nos turnos de trabalho”, completa. 


Para Renata Lemos, enfermeira do Hospital Escola e da Prefeitura, que no momento está afastada do trabalho presencial por fazer parte do grupo de risco, mas encontra-se encarregada de outras tarefas, no início da pandemia os materiais que chegavam nas Unidades de Saúde eram de má qualidade. No entanto, isso foi melhorando com o tempo, mas em um tempo maior que o ideal. Conforme explica, ainda nem todos os materiais que chegam são suficientes. Faltam, muitas vezes, pilhas e baterias para utilização em termômetros e outros equipamentos, por exemplo. “Então é uma luta e essa necessidade diária”. 


Desgaste mental e ansiedade

No momento em que o foco é dar tudo de si para cuidar dos pacientes infectados, falta também amparo à saúde mental dos que estão na linha de frente. Jacqueline da Silva Coppa, técnica de enfermagem da UBS Simões Lopes há seis anos, reafirma que na unidade não há falta de equipamentos. “Há bastante desgaste, tanto físico quanto mental, mas fazemos o máximo para aliviar a tensão de trabalho. Por vezes, a sensação é de "enxugar gelo", mas não podemos desanimar”, diz, referindo-se a parte da população e do poder público que ignoram as orientações sanitárias de isolamento.


“Mudou muita coisa, tal como calçados e roupas mais higienizadas, sem passeios, sem ajuntamentos familiares. É uma nova forma de vida, que é indispensável.Tomara tudo isso passar e chegar a nossa vacina”, completa Jacqueline. 


A médica Maria Laura Silveira Nogueira também acredita que a maioria dos trabalhadores da saúde esteja, no mínimo, ansiosa com essa nova realidade. “Mas não creio que seja exclusividade do nosso setor. Ainda não presenciei alguma situação grave, mas acredito que se houver, vai ter o apoio necessário, em ambas as instituições”, cita. 


“A Pandemia veio como um terremoto para todo mundo. Nada mais vai ser como antes. Tudo tem peso diferente do que tinha antes. A grande tentativa é fazer diferença em cada atendimento, tentando sanar dúvidas, esclarecer medos e oferecer o que a ciência nos permite na atualidade”, conclui.


Descaso do poder público

De acordo com a enfermeira Renata, com toda a vivência dos demais países, onde começaram os primeiros casos, o Brasil deveria estar mais preparado atualmente no combate à pandemia. “Infelizmente não se fez muito e o sistema público não está de acordo com seus gestores para responder a essa demanda de uma forma eficaz. Estamos na mão de governantes que não respeitam a vida, que são incapazes de realizar o seu trabalho. E de uma forma geral, o Brasil não está preparado, não se preparou em todos os níveis de gestão, nacional estadual e municipal. O Brasil escolheu nas urnas, infelizmente, o que a gente está colhendo agora como o país, uma situação tão grave para humanidade”. 


Conforme salienta, em Pelotas, as ações do governo nunca foram suficientes para o controle do vírus. Isso resultou em baixa adesão ao isolamento, que nunca chegou ao ideal e, hoje, as consequências são visíveis: no aumento significativo de casos e óbitos, e na superlotação de leitos de UTI adultos. “E isso tudo demonstra que a saúde está trabalhando sob muita pressão e certamente não está dando a resposta necessária a esse momento”. 


Hospitais psiquiátricos do RS enfrentam surto de Covid

O descaso dos governos também tem resultado em surtos de Covid-19 dentro de hospitais., como, por exemplo no Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, e no Hospital Colônia de Itapuã, em Viamão. Há pelo menos 57 pacientes e 38 trabalhadores contaminados, além de 8 óbitos, dentro das duas instituições, ambas administradas pelo governo do Rio Grande do Sul. 


Diante da gravidade da situação e da falta de informações do poder público, o Fórum Gaúcho de Saúde Mental (FGSM) protocolou uma medida cautelar na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). A medida cautelar pede que a CIDH, órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA), exija do governo medidas para solucionar o problema.


Entre as denúncias do FGSM estão: a falta de equipamentos de proteção individual, de higiene e limpeza; a falta de testes; a ausência de protocolos sanitários; o uso de medicamentos não reconhecidos cientificamente; e, principalmente, falta de transparência do governo na prestação de contas à sociedade.


Fátima Fischer, psicóloga e militante do Fórum, critica a omissão do poder público. “Faltam materiais de higiene pessoal e de proteção. Desde março, o Fórum Gaúcho de Saúde Mental busca informações junto ao poder público. Estamos angustiados com a situação e com a falta de qualquer informação e transparência. Há uma omissão do Estado em garantir o cuidado e respeitar o direito dos usuários e dos trabalhadores”, afirma. 


Larissa Dall’Agnol da Silva, diretora da ADUFPel e também militante do FGSM, ressalta que o Estado precisa tomar medidas para proteger a vida dos trabalhadores e dos pacientes. “Lamentamos a estrutura precária dos hospitais. Há a hipervulnerabilidade das pessoas nesses locais. Pessoas com comorbidades diversas, com deficiências físicas e com necessidades especiais. As medidas precisam ser tomadas. O Fórum entende que é necessário precisar a vida das pessoas”, comenta.


Imagem de Prefeitura de Recife. Matéria originalmente publicada no jornal Voz Docente. Leia aqui: https://cutt.ly/jornaladufpel

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