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O mundo se levanta contra o racismo

No dia 25 de maio, um policial da cidade de Mineápolis, no norte dos Estados Unidos, assassinou George Floyd. Por nove minutos, o negro de 42 anos teve seu pescoço esmagado contra o asfalto pelo joelho do policial, enquanto dizia que não conseguia respirar. As imagens da cena de tortura rodaram o mundo, e enormes manifestações contra o racismo emergiram nas principais cidades dos EUA e logo se repetiram em diversos outros países.


Mesmo em meio à pandemia do novo Coronavírus (Covid-19), milhões pessoas foram às ruas em todo o mundo para reafirmar que as vidas negras importam. No Brasil, não foi diferente. O país marcado - assim como os EUA - por séculos de escravidão, racismo, opressão, exploração e segregação se ergueu em luta nas últimas semanas.


Casos semelhantes ao de George Floyd não faltam no Brasil. De Marielle Franco, vereadora carioca executada junto com seu motorista no ano 2018, às crianças João Pedro e Ágatha, vítimas da violência policial. E ao menino Miguel, abandonado à própria sorte pela patroa de sua mãe em Recife. 


Vidas negras importam

Cláudia Durans, docente de Serviço Social da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), acredita que uma série de fatores levou a população a se manifestar nas ruas. “Primeiro, a indignação muito grande com o assassinato. Mas, também, uma combinação de vários fatores: a crise econômica brutal dos EUA, com recessão projetada de 14,2%; mais de 40 milhões de pessoas pediram seguro desemprego durante a pandemia; o salário dos negros é um terço mais baixo que o dos brancos e o desemprego é muito maior entre os negros. Esse é um caldeirão de fatores que desencadeou as manifestações. O que explode nos EUA são décadas de exploração, racismo, opressão”, avalia.


A visão é compartilhada por Miriam Alves, docente de Psicologia da UFPel e diretora da ADUFPel. “No Brasil e nos EUA temos governo extremamente xenófobos e racistas. A extrema direita assume o poder com a pauta conservadora, da moral e dos bons costumes, e a uma economia ultra neoliberal. Um projeto de sociedade que afeta a população negra de modo absurdo, ampliando as desigualdades sociais e raciais. Isso atrelado a um contexto de pandemia, que exacerba ainda mais as desigualdades. É um cenário com todas as condições para emergência da consciência revolucionária, acionada a partir da violência do Estado”, comenta.


A diretora da ADUFPel ressalta que a ideia de raça e racismo é uma construção social da sociedade ocidental para ditar a vida das populações negras. “O conceito de raça é uma abstração, uma invenção, que nada tem a ver com processos biológicos. Para Achille Mbembe, a raça não passa de uma ficção útil, de uma construção fantasista ou de uma projeção ideológica, cuja necessidade de sua invenção foi fundamentar o poder do ocidente, que se considerava o centro do globo, da razão, da verdade”, afirma Miriam.


Segundo a docente da UFPel, a raça sempre esteve na esteira da prática das políticas do ocidente, especialmente no processo de desumanização dos povos africanos. O colonialismo constrói modelos de soberania cujo projeto central é a instrumentalização generalizada da existência humana e a destruição material de corpos. Estamos falando, portanto, de corpos matáveis. É nesse jogo de poder que o Estado exerce controle sobre a mortalidade dos corpos negros, definindo-os como descartáveis, como o outro, como o não-humano”, completa Miriam Alves. 


Consciência revolucionária

As populações negras dos EUA e do Brasil vivenciam os horrores do genocídio racista há mais de 500 anos. Mas essa situação gera, também uma consciência revolucionária entre os povos negros. Exemplos não faltam, dos Panteras Negras nas periferias das grandes cidades estadunidenses, à Frente Negra Brasileira. 


“A consciência revolucionária levou homens negros e mulheres negras a protagonizarem lutas e revoltas contra um sistema colonial, capitalista e racista, na perspectiva de articular possibilidades de sobrevivência e existência na dureza desse mundo ocidentalizado, mantendo viva a luta por uma sociedade que reconheça que vidas negras importam”, cita a diretora da ADUFPel. 


“Meu desejo é de uma revolução que instaure a restituição do poder do estado ao povo, especialmente o povo preto, um processo que permita pensar modelos alternativos ao do capital, que tem no racismo um de seus elementos fundamentais”, conclui Miriam Alves. 

Assessoria ADUFPel com imagem de Outras Palavras. Matéria originalmente publicada no jornal Voz Docente.

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