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Notícia

Olhares sobre a diversidade e a cultura fronteiriça

Matéria publicada no Voz Docente n. 8/2021


Fronteira é definida como uma linha imaginária ou marco que separa duas ou mais nações. Geograficamente, sim, mas culturalmente o que acontece é bem diferente. A fronteira une, entrelaça comportamentos e hábitos, forma costumes tão únicos que se fundem até que os limites não sejam mais percebidos, constituindo o que se pode chamar de cultura fronteiriça. 


Isso é o que acontece com o Brasil e Uruguai. É na fronteira que as semelhanças transbordam e as diferenças se atenuam. E como uma forma de reconhecimento da diversidade dessa região, surgiu o longa Fronteriz@s. 


O filme traz cinco episódios em curta-metragem, documentais e ficcionais, que abordam singularidades multiculturais da fronteira Brasil-Uruguai a partir de cinco localidades, sob diferentes olhares e linguagens de seus diretores e diretoras: Adriana Ferreira (Bagé), Alexandre Mattos Meireles (Pelotas), Chico Maximila e Felipe Yurgel (Santa Vitória/Chuy), Fabi Ud (Livramento/Rivera) e Luiz Alberto Cassol (Jaguarão/Río Branco). 


Umas das histórias é ambientada em Pelotas, Jaguarão e Rio Branco e chama-se Além da Fronteira. Ela foi dirigida e roteirizada por Alexandre Meireles, produtor cultural há mais de 20 anos, que também interpreta um dos personagens. 


O curta conta a história de Edmilson, um jovem pai negro viúvo que precisa criar sozinho a filha Clara, de 11 anos. Desempregado e sem alternativas, vê como única saída recomeçar a vida no Uruguai. Conforme conta o diretor, a história é sobre um trabalhador brasileiro, comum nas periferias do Brasil. Uma pessoa simples, que enfrenta problemas com o alcoolismo apesar de ser jovem.  


O papel de Edmilson é desempenhado por Hilton Oliveira, ator porto-alegrense que participou das séries Amizades de outono e O protetor. Clara é interpretada pela filha de Alexandre, Clara Lua Pinhatti Meireles. 


O curta foi feito durante a pandemia, o que dificultou a produção. Foram necessárias revisões de roteiro, cenas reescritas para evitar contato próximo e até mesmo as gravações tiveram de ser pausadas por um mês. Por conta dos obstáculos impostos, Alexandre também teve que atuar como um dos personagens do curta. 


“Eu não estava escalado para participar enquanto ator. Um dos atores testou positivo para Covid e a gente achou por bem afastá-lo. Eu acabei fazendo o papel do Mozar, mas já imaginava que em algum momento, se precisasse de alguma coisa, eu estaria pronto. E eu gostei de fazer, me agrada. Eu gosto também de construir personagens e tipos”. 


Escolha do tema

A ideia para o roteiro surgiu com a intenção de mostrar, segundo Alexandre, o oposto do que costuma observar nas relações fronteiriças. “Eu, durante toda a vida, vi pessoas vindo do Uruguai para Pelotas. A colônia uruguaia é muito grande na cidade, por possibilidade de emprego, pela Universidade e por sermos uma capital dessa região da metade Sul. Só que eu queria fazer o inverso disso, queria também contar a história de um brasileiro ir, por qualquer motivo que seja, tentar também a vida no Uruguai. E esse fluxo também existe.” 


A cidade de Pelotas foi eleita para contar essa história, de acordo com Meireles, não só porque a considera como fronteira com o Uruguai também, mas por ter muito mais em comum do que apenas isso: a forma de falar, agir, vestir, a hospitalidade e a simplicidade. “Muita gente não se dá conta, mas Pelotas é uma cidade fronteiriça. Por questão da legislação, que diz que até 200 km é considerada área de fronteira, mas também pela questão da nossa cultura, do chimarrão, dos termos uruguaios que nós utilizamos no dia a dia, da parrilla, de estar junto. Muitas coisas nos tornam também fronteiriços, não é só a questão de morar próximo, mas também as questões culturais”, salienta. 


Cinema negro

Além da Fronteira foi lançado na Mostra OHUN de Cinema Negro de Pelotas, que aconteceu de 17 a 23 de junho, e também é realizada com recursos da Lei Aldir Blanc. A Mostra acontece desde 2017, organizada por estudantes e egressos negros do Centro de Artes da UFPel. Ohun, que quer dizer voz em Yorubá, tem o sentido de valorização das vozes como uma força ética e estética mobilizadora, tanto discursiva quanto sensorial. Foram 20 curtas-metragens, dentre eles ficções, documentários, performances visuais e videoclipes selecionados. 


Segundo Meireles, o cinema negro vem crescendo no Brasil. “As narrativas negras estão cada vez mais em voga e acho que a gente ficou muito tempo tendo alguém contando as nossas histórias, por uma hegemonia branca, na maioria das vezes de homens brancos, que sempre tiveram acesso a tudo, principalmente às verbas. Através de muito custo, muita luta, muita capacidade, também, as coisas vêm, de certa forma, modificando. Tem muitas histórias boas sendo contadas”, ressalta. 


Alexandre destaca que o Brasil é um país miscigenado, onde todos temos narrativas e histórias para contar, e as mudanças, nesse sentido, no cinema brasileiro, já ocorrem. “Está acontecendo um boom do cinema negro aqui no estado. Vários filmes sendo premiados. A gente está passando por um processo que está longe de ser o ideal ainda, mas já consegue ver isso nas premiações e nas participações em festivais. A gente acredita que a luta ainda está no começo e tem que batalhar muito para que o cinema negro seja cada vez mais competitivo, cada vez mais visto por pessoas nas grandes telas, mas isso só acontece com muita luta mesmo”. 


Recentemente, o filme também foi selecionado para o Panorama Estadual da 4ª Mostra Sesc de Cinema. O Rio Grande do Sul terá 21 representantes na edição, que acontece em novembro. Isso significa que aqueles que ainda não assistiram ao curta poderão o ver nas plataformas do Sesc durante todo o mês em que ocorrer o festival, antes de ser liberado ao público por streaming. 


“Essas mostras servem para isso, para a gente ver o panorama do que é produzido no Brasil, mesmo com todo esse desmonte. É uma categoria que está sempre, de certa forma, unida e o cinema tem a sua vocação de sempre enfrentar o autoritarismo. Então, com certeza, o cinema vai contar essa história do que está acontecendo hoje, assim como anos depois da ditadura a gente assistiu a uma enxurrada de filmes. O cinema tem essa vocação, de estar sempre próximo das causas populares, falando das coisas sensíveis, de temas como racismo, homofobia e machismo”, frisou Meireles. 


O Fronteriz@s é financiado com recursos da Lei Aldir Blanc e realizado pela Sociedade Independente Cultural de Jaguarão, em parceria com o coletivo Fronteras Culturales. A produção executiva é de Magnum Patron Sória e produção geral de Ricardo Almeida. Para mais informações sobre o longa-metragem, acesse www.fronterizos.org. Para saber mais sobre o curta Além da Fronteira, siga a página no Instagram @alemdafronteirafilme.


Assessoria ADUFPel



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