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Posse de Lula: emoção pelo fim de um governo de ultradireita e os desafios da luta de classes

Cerimônia de posse, presença estrangeira e novos ministros dão o perfil do governo Lula que terá um cadeirão com nove partidos representados nos ministérios, desde a direita, centro e esquerda   

A cerimônia de posse do novo governo contou com momentos emocionantes. Talvez o principal deles tenha sido a subida da rampa com diversas representações de setores marginalizados, oprimidos e invisibilizados da sociedade: mulher negra catadora de materiais recicláveis, criança negra, empregada doméstica, professor, operário metalúrgico, o líder indígena Raoni, o influencer Ivan Baron da comunidade PCD (pessoas com deficiência), um professor e dois apoiadores da vigília de quando Lula esteve preso.

Faltou, no entanto, uma representação do setor LGBTQI+ e, talvez poderia ser acrescentado uma representação de uma profissional da saúde pública, setor fundamental para salvar milhões de brasileiros e brasileiras e que deu a vida durante a pandemia da covid-19.

Lula recebeu a faixa presidencial de Aline Souza, catadora de recicláveis, porque quem deveria entregá-la era o ex-presidente Jair Bolsonaro, que se recusou a fazê-lo e mais que depressa fugiu do país, antes de ter o mandato encerrado oficialmente.   

Durante as comemorações de posse ficou evidente, e era legítimo que assim o fosse, que havia uma sensação de alívio. Uma sensação de que seria possível respirarmos um pouco melhor depois de quatro duros anos sob ataques diários aos mais pobres e oprimidos da sociedade, à classe trabalhadora em geral, de negacionismo e mortandade na pandemia e,  especialmente, as constantes ameaças e atitudes golpistas, autoritárias e ataques às liberdades democráticas, afinal Bolsonaro fora um explícito defensor da ditadura.

O discurso no Palácio do Planalto frisou a desigualdade social no Brasil. Lembrou que 5% dos brasileiros mais ricos têm a mesma renda dos 95% da população brasileira. “E não adianta subir o vidro do automóvel de luxo para não ver nossos irmãos que se amontoam debaixo dos viadutos, carentes de tudo. A realidade salta aos olhos em cada esquina.” Assim, o atual presidente fez uma leitura da realidade brasileira de maneira que fez com que o caráter de seu amplíssimo arco de alianças, de campanha e de projeto de governo, assim como a presença dos banqueiros, ruralistas e grandes empresários bilionários, que terão verdadeiramente poder, tomasse um segundo plano na percepção de nosso povo, em especial dos setores organizados de nossa classe.

A posse acabou com festa entre artistas, famosos e ativistas da campanha.

O que esperar do novo governo

Se as mensagens da posse fizeram se dissipar o momento anterior que o povo brasileiro enfrentou contra a tropa bolsonarista, a constante presença do vice Geraldo Alckmin e tantas outras figuras da classe dominante e da chamada classe política tradicional nos lembraram de que as contradições são enormes neste governo devido a sua composição e o verdadeiro programa estratégico que esses defendem e irão implementar em nosso país.

Ainda está na memória dos que lutam por moradia e em defesa de justiça e igualdade o massacre promovido no Pinheirinho em São José dos Campos (SP) e quem esteve à frente de uma PM violenta no estado de São Paulo foi exatamente o sorridente vice de Lula.   

“A eleição foi uma vitória porque derrotamos Bolsonaro, mas é hora de encararmos de frente o debate sobre a serviço de quem, em essência,  estará o governo Lula-Alckmin, sobre a natureza de classe do projeto que será implementado, e os desafios colocados à classe trabalhadora, à juventude e aos setores oprimidos. Guardado todo a nossa comum comemoração diante da queda do nefasto governo de Bolsonaro, manter vivo esse olhar de independência de classe e a CSP-Conlutas independente dos governos é, para nós, uma grande necessidade para que assim possamos nos colocar à altura dos novos desafios e lutas de nossa classe”, disse o dirigente da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, Atnágoras Lopes.

Os ministérios do governo se mostraram bem ecléticos na apresentação oficial, mas no todo, mesmo com contradições, não questionam o sistema . Desde setores de direita e ultradireita, como o ministro da Defesa, José Múcio, ou os bolsonaristas do União Brasil de Luciano Bivar – esse setor, por exemplo, abocanhou três ministérios.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, ruralista, encabeça as tentativas de frear as demarcações de terras indígenas, sua família possui uma fazenda numa Terra Indígena reivindicada pelos Guarani-Kaiowá, em Caarapó (MS). Um expoente representante do agronegócio.

MDB, PSD e União Brasil estão entre as legendas contempladas com ministérios que se somam ao PT, PSB, PDT, PCdoB, Rede, e até Sonha Guajajara, eleita deputada federal pelo. Um caldeirão de amplitude que deixa flagrante o real propósito de manter o país nos marcos do sistema capitalista e submisso, em última instância, aos interesses do mercado e do lucro.  

Se de um lado a ampla unidade com todos esses setores teve como o objetivo derrotar eleitoralmente o governo Bolsonaro, do outro opinamos aos setores mais pauperizados e a classe trabalhadora em geral que não devem se iludir com o novo governo, afinal, o mercado financeiro, nacional e internacional, setores da burguesia nacional, as multinacionais instaladas no país e o agronegócio estão bem representados e não se intimidarão em impor suas exigências e sua política. O farão em acordo com Lula e Alkimim.

Manter autonomia, a mobilização e a independência de classe

Frente ao novo governo, a classe trabalhadora, o povo pobre, negros e negras favelados e periféricos, quilombolas, povos originários, LGBTI’s, mulheres precisam levantar suas bandeiras e reivindicações, defender a manutenção, resgate e ampliação de direitos!

Na última reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas realizada no início de dezembro foi aprovado um programa mínimo com o qual a Central norteará sua atuação no próximo período.  

Entre as bandeiras estão a luta por emprego e salários, com plenos direitos e fim das terceirizações; a revogação integral da reforma trabalhista e da Previdência, bem como do chamado “novo ensino médio”; o fim das privatizações e a reestatização das empresas privatizadas; investimento em saúde, educação pública e demais serviços públicos; assim como o não pagamento da dívida pública para reversão dessas verbas para as áreas sociais. O fim do marco temporal, a titulação e demarcação das terras quilombolas e indígenas, o fim do desmatamento e defesa do meio ambiente. A garantia dos direitos dos setores marginalizados não devem ficar apenas na subida da rampa, mas devem ser atendidas por esse governo.

“É preciso, para isso, exigir das organizações do movimento, principalmente suas direções, que se mantenham independentes e autônomas, coisa que já está sendo abandonada, por exemplo, pela maioria das grandes Centrais Sindicais de nosso país que já optaram em se atrelar ao governo. Só a organização independente da classe pode a luta consequente por essas pautas, e ainda enfrentar, de forma consequente e até o fim, a ultradireita, que seguirá organizada e mobilizada e contra a qual devemos exigir do novo governo que sejam punidos pelos crimes praticados por estes nos últimos quatro anos”, reforça Atnágoras, que lembra que temos ainda a batalha organizada contra a extrema direita que se organizou no Brasil.

Foto: Marcelo Camargo (Agência Brasil)

Fonte: CSP-Conlutas

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