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Projeto da UFPel mapeia impactos da pandemia em festivais de folclore

Publicado no Voz Docente 01/2021

Não é novidade que o setor cultural brasileiro sofreu graves impactos neste quase um ano de pandemia do COVID-19. No entanto, há um braço nessa área que merece especial atenção: o folclore. Manifestações culturais marcadas pelo forte valor identitário e tradicional, penam com a ausência do ato presencial – uma marca dos eventos do povo – e diante da idade avançada dos Mestres e precariedade das condições dos membros, o que torna as alternativas digitais mais do que um desafio.

 

Compreender as consequências desse processo é o objetivo do projeto de pesquisa Diagnóstico Internacional sobre os Impactos da Pandemia do Covid-19 em Contextos Folclóricos, realizado pelo Grupo de Pesquisa Omega – Observatório de Memória, Educação, Gesto e Arte, e do Núcleo de Folclore da UFPel, o Nufolk. A coordenação geral fica a cargo do professor do Thiago Silva de Amorim Jesus, docente da licenciatura em Dança e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade.

 

O projeto, batizado de Folkcovid, consiste em um questionário virtual disponibilizado em três idiomas (português, inglês e espanhol) destinado aos organizadores de festivais folclóricos do mundo todo. Os festivais foram escolhidos, de início, uma vez que são eles os aglutinadores dos grupos dos mais diversos, pautando com frequência suas apresentações ao longo do ano. A coleta das respostas começou em meados de janeiro e segue até março.

 

O pesquisador relata que a proposta surgiu durante a participação em um dos fóruns da Associação Brasileira de Organizadores de Festivais de Folclore e Artes Populares (Abrasoffa), entidade que entraria futuramente como parceira do FolkCovid. Para dar corpo ao estudo, o grupo mobilizou apoio também de instituições como a Universidade Regional de Blumenau (Santa Catarina), a Universitat Politècnica de València (Espanha) e a Sociación Civil América Unida (Ciudad del Plata/Uruguai).

 

“Recebemos uma informação extraoficial de que cerca de 600 festivais folclóricos na Europa foram cancelados por conta da pandemia. Alguns nem terão edições futuras, e isso é um número muito preocupante”, relembra. “Como Universidade, foi preciso fazer alguma coisa. Nem que fosse estudar esse fenômeno”.

 

O diagnóstico é apenas a primeira etapa. Thiago Jesus sugere que, com os dados compilados, será possível produzir relatórios que serão enviados para diferentes organismos: ministérios da cultura e do turismo de diversos países, ONU, Unesco, Organização dos Estados Americanos, etc. “Esperamos que isso possa resultar em políticas públicas para a cultura, ações de fomento ou mesmo para que os festivais possam rever formatos”.

 

Democracia Cultural

Um dos valores fundamentais apontados pelo pesquisador em eventos folclóricos é o acesso democrático do povo à sua cultura. No entanto, enquanto diversos setores se organizaram bem com as lives e transmissões digitais, o campo da cultura tradicional vem penando.

 

Thiago, entretanto, relembra que essa democratização já estava ameaçada há muito tempo pela falta de incentivo público e privado. “São eventos que eram de três semanas e passaram a ser de 5 dias. Grupos com 50 pessoas que passaram a ter 10… O boom dos festivais de folclore é dos anos 1970, pós-guerra do vietnã, como exercício à tolerância, integração entre os povos, cultura pela paz. Até os anos 2000 e depois ladeira abaixo.

 

Ele, que também é diretor da Abambaé – Companhia de Danças Brasileiras, relata que mesmo em seu grupo manter as atividades online foi um desafio. “Eu já tive bailarino que não podia ir ensaiar porque não tinha dinheiro para a passagem do ônibus. Nós já pagamos a feitura de documentos para pessoas viajarem conosco porque não tinham RG. Imagine uma conexão boa com a internet?”.

 

A preocupação também ganha eco em outras ações internacionais. Em seu site, a Unesco organizou um mapa de ações de valorização do patrimônio imaterial durante a pandemia. Até agosto de 2020, quando foi feita a última atualização, eram 241 projetos cadastrados – sendo apenas um do Brasil.


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