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Retorno presencial na UFPel evidencia os impactos dos cortes orçamentários

No mês de agosto, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) retomou suas atividades integralmente presenciais e, após dois meses e meio, já é possível identificar os efeitos do ensino remoto emergencial e avaliar os reflexos dos cortes orçamentários no dia a dia da instituição.


A Universidade não é mais a mesma desde que as atividades foram suspensas e depois adaptadas por conta da pandemia de Covid-19, que modificou a realidade do mundo todo em 2020. Após dois anos, os impactos são visíveis e foram apontados pela professora da Faculdade de Educação (FAE), Maria das Graças Pinto, e pelo professor da Faculdade de Agronomia, Rogers Ademir Drunn Pereira, em entrevista para o programa viração da ADUFPel. 


A rotina apontada pelos/as educadores/as como exaustiva na pandemia, por conta da sobrecarga de trabalho, onde as atividades docentes foram intensificadas, dificultaram a autonomia dos/ das trabalhadores/as do ensino superior. Segundo Graça, algumas normativas institucionais pareceram impositivas, prescritivas e, de certa maneira, desconsideraram a trajetória profissional construída ao longo dos anos. 


“As propostas de aulas assíncronas e síncronas ou mesmo a obrigatoriedade de gravação de aula pelos docentes foram dos vários encaminhamentos e medidas que me parece que dificultaram bastante o desenvolvimento do nosso trabalho, da nossa autonomia. Especialmente, em meio a todo esse processo, eu percebo professores, técnico-administrativos e discentes adoecidos, abalados físico e emocionalmente, e acho que seria muito interessante um estudo nesse sentido”, aponta ela. 


Trazendo outra perspectiva, o professor da Faculdade de Agronomia afirma que precisou adquirir diversos equipamentos para realizar suas aulas de uma maneira satisfatória durante o ensino remoto, como: câmera, condensador, microfone e até mesmo alguns softwares, pois as ferramentas oferecidas gratuitamente pela Universidade não atendiam o que ele considerava necessário para suas aulas. Já em relação ao Moodle, plataforma utilizada para o ensino a distância, hoje chamado de E-aula, não foi explorado como deveria. 


“É evidente que a gente não viu a contrapartida do governo federal para financiamento de equipamentos pelos professores, mas havia coisas, especificamente na UFPel, que poderiam ser feitas de forma institucional que não foram concebidas”, afirma Rogers, que salienta não estar fazendo uma crítica a ninguém em específico, mas alertando para que se tenha aprendido com a experiência.


Retorno presencial 

A retomada das atividades tem sido considerada como um momento de adaptação, pois, segundo Graça, não dá para desconsiderar que a Universidade, as pessoas e o mundo sofreram uma grande mudança. Segundo ela, é justificável a falta de planejamento em relação às aulas remotas emergenciais, mas a estruturação para o retorno presencial poderia ter sido organizada de maneira mais efetiva. 


“Voltamos com uma estrutura física que já vinha sendo deficitária e indevida. No nosso caso especificamente, na Faculdade de Educação, estamos sem acesso a uma internet de qualidade, os equipamentos estão muito desgastados, não tem para todas as salas que nós precisaríamos. Laboratórios quase inexistentes, sem falar nos próprios recursos humanos”, enfatiza a professora. 


Um dos aspectos considerados problemáticos para os/as educadores/ as é a questão humanitária que envolve todo esse processo. Alguns alunos e alunas vieram de regiões bem distantes de Pelotas e muitos foram conhecer as dependências da Universidade somente no quarto semestre. Fora isso, uma das dificuldades agravadas pela diminuição dos/ das trabalhadores/as terceirizados/as é a escassez do transporte, que vem ocasionando filas enormes e impedindo que os/ as estudantes consigam chegar no horário para suas aulas. 


“Para mim, o maior desafio hoje é a gente lidar com tudo isso e tentar superar, até que alguma gestão se preocupe um pouco mais com o ensino superior no Brasil. A gente sabe que quem faz pesquisa no país é o Ministério da Ciência e Tecnologia, a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], o INPE [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais], as Universidades e os Institutos Federais, e isso é importante de ser dito. Precisamos levantar essa bandeira, tem que ficar repetindo como se fosse um mantra para que as pessoas atentem para isso”, acrescenta Rogers.


Impacto dos cortes orçamentários 

Os cortes no orçamento vêm afetando significativamente o funcionamento das universidades e institutos federais e ficaram ainda mais evidentes com o retorno presencial. Os impactos disso podem ser observados, principalmente, no sucateamento das instituições, na precarização do trabalho docente e de técnico/a-administrativos/as, na manutenção da pesquisa e da extensão e na permanência dos serviços prestados por trabalhadores/as terceirizados/as. 


“Nós estamos, gradativamente, passando por restrições orçamentárias e de contratação também. A proposta de terceirização de recursos humanos na Universidade se alinha, em grande medida, a um projeto de enxugamento do Estado e do serviço público como um todo. O grande problema, no caso da terceirização, está na fragilidade do vínculo trabalhista desses trabalhadores. Adota- -se uma política de subcontratação, na qual esses funcionários não têm as mesmas condições de envolvimento em um projeto de formação que deveria pautar a universidade pública, gratuita, de qualidade que historicamente nós temos lutado para construir e manter”, reforça a professora da FAE. 


O alinhamento com políticas de contrarreformas do Estado e Trabalhista, que vêm estancando cada vez mais os recursos, também intensificam as responsabilidades dos/as servidores/as, que apontam a questão como um grande problema enfrentado por eles/as, principalmente salientado na pandemia em relação à rotina de trabalho. 


A escassez de políticas públicas no país também afeta outros setores que prestam serviços à população e a diminuição de recursos humanos prejudica o trabalho prestado à comunidade. Em alguns setores da UFPel é possível observar o resultado da diminuição dos/as terceirizados/as. 


“No meu departamento a gente consegue perceber, por exemplo, a dificuldade de limpeza. Tem uma única pessoa que faz a higienização dos banheiros e das salas de aula. Às vezes, eu dou aula na terça-feira e na quinta a sala ainda não está limpa. Em relação ao serviço de portaria, apenas uma foi mantida no campus e alguns professores precisam se deslocar até lá para pegar as chaves de sua sala”, explica o professor que dá aula no Capão do Leão. 


Na Faculdade de Educação, a portaria do segundo andar foi fechada durante a pandemia, mas com a promessa de que seria reaberta quando houvesse o retorno presencial. No entanto, isso não aconteceu e tem impactado de forma negativa na rotina de trabalho dos/as servidores/as e no funcionamento do prédio, já que o espaço abriga três institutos. 


Em decorrência de todos esses desafios impostos à comunidade acadêmica, a FAE mobilizou servidores/as e estudantes para realizar um protesto reivindicando melhores condições de trabalho e de estudo na UFPel. 


“Essa nossa mobilização é uma tentativa de trazer e dar visibilidade a algo que não é específico da Universidade de Educação, que quando estamos conversando aqui com o Rogers ou outras pessoas, nós começamos a ver que são situações muito comuns que vivenciamos. Estamos sob esse impacto, de uma gestão federal e de uma gestão institucional também que, infelizmente, muitas vezes, não contribuem para o fortalecimento do papel da Universidade, que a gente vem historicamente lutando e que não é um papel privado, é um papel público”, finaliza Graça. 


Assessoria ADUFPel

Fotos: Assessoria ADUFPel


Esta matéria foi publicada na sexta edição de 2022 do jornal Voz Docente. Confira aqui. 

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