Segundo dia de evento na Unila tem debate sobre multicampia, povos originários e afrodescendentes
Teve continuidade, em Foz do Iguaçu, o evento do ANDES-SN sobre os desafios da organização docente, multicampia e papel da arte da luta de classes. O segundo dia das atividades, nesta quarta-feira (7), começou com um ato na Ponte Internacional da Amizade, que liga o Brasil e o Paraguai, em defesa da educação pública e pela integração latino-americana. O clima de luta e de integração de povos e culturas marcou também os debates.
O evento reúne o II Seminário Internacional Educação Superior na América Latina e Caribe e Organização dos/as Trabalhadores/as, I Seminário Multicampia e Fronteira e o I Festival de Arte e Cultura: Sem fronteiras, a arte respira lucha (arte respira luta. Luta respira arte), que acontecem de forma intercalada, de 6 a 9 de dezembro.
Fronteiras e Multicampia
A terceira mesa teve como tema "Universidade, condições de trabalho e lutas sociais na fronteira", com Andreia Moassab (Unila), Susana Cavalheiro de Jesus (Unipampa) e José Sávio (UFAC e diretor do ANDES-SN). As explanações abordaram as várias particularidades, desafios e problemas das universidades de fronteira e multicampi.
Foram apontadas desde as dificuldades de deslocamento da comunidade acadêmica, especialmente estudantil, e a constante migração de quadros docentes, até as particularidades da relação com povos originários e de outros países, que nem sempre são bem acolhidos nas instituições. As e os participantes relataram ainda a brutalidade da convivência com a violência de grupos criminosos e conservadores, com a forte presença do agronegócio, da mineração que ameaçam a população local e docentes, que desenvolvem projetos de extensão e de pesquisa em defesa dos povos originários, com movimentos sociais ou de temas contrários aos interesses desses grupos.
“Enquanto temos colegas debatendo a inclusão das populações tradicionais, que militam nesse campo da inclusão dessas populações em nossos projetos políticos pedagógicos, há professores que continuam ajudando a fazer projetos de impacto ambiental, construir estradas em terras indígenas. A universidade não está apontada para um rumo da inclusão. Temos uma série de disputas, um quadro de conservadores”, pontuou José Sávio, 2º vice-presidente da Regional Norte I do ANDES-SN. “Estamos diante de uma perspectiva de certa insegurança de como vamos sobreviver em uma região que está em disputada enquanto região de tantas fronteiras”, acrescentou.
Arte e Cultura
Após o debate, as e os cerca de 150 participantes assistiram as apresentações do Duo Che Valle, com músicas do Paraguai e Argentina, e do Elenco folclórico "Avances Internacional de Ciudad del Leste", com a maestra y coreógrafa, Soledad Álvarez.
Povos Originários e Afrodescendentes
Na sequência, aconteceu a quarta mesa de debate, com o tema "Universidade e lutas dos povos originários e afrodescendentes", com Camille Chalmers (PAPDA/Haiti), Maria Raimunda (UFF/Brasil) e Senilde Guanaes (UNILA/Brasil). As apresentações trouxeram reflexões profundas sobre a presença dos povos originários e afrodescendentes nas universidades, a necessidade de mudanças estruturais na grade curricular e nas regras e epistemologias das instituições de ensino.
Foi reforçada ainda, em todas as falas, a necessidade de lutar contra o aprisionamento e elitização da produção de conhecimento nas universidades, assim como contra o apagamento dos sujeitos das comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhas produtores desses conhecimentos e tecnologias.
Também foi ressaltada a importância da integração das lutas entre os povos da América Latina e o Caribe e de criar laços de intercambio entre os movimentos dessas regiões, em especial daqueles ligados à educação, e de se aplicar na luta cotidiana a Pedagogia da Revolução.
Camille Chalmers, que professor da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Estatal do Haiti e coordenador da PAPDA - Plateforme Haïtienne de Plaidoyer pour un Développement Alternatif, destacou que o sistema de opressão e de monopólio de produção de conhecimento e tecnologias e da difusão desses exclui, nega e inferioriza uma grande parte da sociedade mundial. “É muito importante, como passo estratégico, organizar o diálogo civilizatório e criar uma nova epistemologia a partir de quatro fraturas desse sistema opressor”, ressaltou.
Ele citou como fraturas a relação do sujeito com o mundo, que resulta no individualismo, a relação entre homens e mulheres, baseada na superexploração das mulheres, da sociedade com a natureza, com o impacto ambiental e dos “civilizados” com os “bárbaros”, que sustenta a exclusão de parcela significativa da população das universidades.
“Em todos os processos de luta, sobretudo a partir do século 20, o sistema educativo, em particular as escolas secundárias e universitárias, foram atores importantes de questionamento e resistência”, lembrou, ressaltando a importância das lutas travadas pelos movimentos sindicais e estudantis.
Chalmers recitou, como referência, uma reflexão do cubano José Martí. "Esta é a América, a terra dos rebeldes e dos criadores, e aqui se sente íntegro, sangrando daquilo que ela sangra e amando seus amores, aquele que nunca abusa das palavras solenes".
As atividades do dia foram encerradas com a DJ Sthe, que comandou a pista de dança no Sudacas Bar.
Fonte: ANDES-SN, com edição de Assessoria ADUFPel Fotos: ANDES-SN