Seminário da Comissão da Verdade do ANDES-SN debate a ditadura
Nos dias 26 e 27 de
abril, docentes de diversas seções sindicais do ANDES-SN participaram do
Seminário da Comissão da Verdade do Sindicato Nacional, realizado no campus
Butantã da Universidade de São Paulo (USP).
Com o tema
“Continuidades da ditadura na universidade e na sociedade”, o seminário contou
com a presença na mesa de abertura de João Zanetic (USP), Luiz Carlos Prates
Mancha (CSP-Conlutas) e Ailton Krenak, uma das maiores lideranças indígenas no
país. Logo após a mesa, ocorreu a exibição do documentário “Como a Volkswagen
colaborou com a Ditadura”, produzido por uma televisão pública alemã, seguido
de debate com o Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas (IEEP) que a
partir de 2007, com a elaboração do Projeto Memória da Oposição Sindical
Metalúrgica, o grande foco de atenção passou a ser a memória política dos
trabalhadores e vem investigando o período que se sucedeu a partir de 1964
quando se deu o golpe militar no Brasil.
Segundo Ana Maria
Estevão, 1ª vice-presidente da Regional São Paulo do Sindicato Nacional e
coordenadora da Comissão da Verdade do ANDES-SN, durante o seminário, tanto o
depoimento do indígena Krenak quanto o documentário, enriqueceram os debates e
apresentaram aos presentes do evento facetas do regime militar até então pouco
conhecidas.
“O Ailton Krenak
falou sobre o conceito de desenvolvimento econômico que está diretamente ligado
à destruição dos indígenas, o que é uma continuidade dos processos de repressão
da ditadura empresarial-militar e permanece até os dias atuais. A construção da
rodovia Transamazônica é um exemplo em que várias etnias foram dizimadas. E
agora com a construção de Belo Monte, acontece a mesma coisa. Para se conseguir
o desenvolvimento, é usada da violência de Estado contra os grupos indígenas”,
conta a docente.
“Também fizemos um
debate sobre a responsabilização empresarial no período ditatorial no Brasil. A
IEEP compartilhou conosco informações de que grandes fábricas colaboraram com a
ditadura, abrigando policiais, e torturando líderes sindicais dentro de suas
fábricas. 53 fábricas contribuíram para isso para a ditadura empresarial-militar”,
ressaltou Ana Maria.
Outros temas foram
debatidos no seminário como a repressão da ditadura na universidade e na
sociedade, os ataques à autonomia e a democracia na universidade e a
continuidade estrutural do aparato repressivo nas universidades. “Os mecanismos
da ditadura empresarial-militar continuam presentes nas universidades. A
comissão tem feito um trabalho de pesquisa com levantamento de todos os
mecanismos de repressão a ditadura que permanecem nos estatutos da universidade
e isso, tanto na pesquisa quanto nos depoimentos, ficou evidente com a questão
do assédio, da falta de democracia, a intervenção nas reitorias, os processos
administrativos punitivos contra professores, técnicos e estudantes, estatutos
das universidades com vários artigos repressivos”, ressaltou.
Para Ana Maria
Estevão, a realização do seminário mantem viva a memória dos que foram
perseguidos, presos, torturados e assassinados pela ditadura
empresarial-militar no país e traz elementos para relacionar com a realidade
enfrentada pela sociedade no que tange a sua repressão e retirada de direitos.
“Temos que continuar
com esse trabalho e expandir os estudos e debates sobre a continuidade dos
processos repressores para além das universidades, temos que levar esse debate
a periferia, com a população preta e pobre, que continuam sofrendo com os
mesmos mecanismos de violência do estado, como a questão da policia militar,
que é uma herança da ditatura. Então é importante que a próxima comissão da
verdade junto com o GT História do Movimento Docente continue esse trabalho e
traga para o presente esse debate para que continue o trabalho de denuncia e
luta para construção de políticas relativas à verdade, memória, justiça e
reparação”, concluiu a coordenadora da Comissão da Verdade do ANDES-SN.
Fonte: ANDES-SN