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Servidores sinalizam greve geral - resposta a ataques à Universidade dão a tônica da mobilização

Publicado no jornal Voz DocenteMarço de 2022

A demanda não é nova, mas a sinalização enfim se alinha. Sessões sindicais do ANDES-SN de todo o Brasil  acenam positivamente para o indicativo de greve geral das servidoras e servidores públicos. No Rio Grande do Sul, todas as Seções Sindicais do ANDES-SN já aprovaram indicativo de Greve Unificada, e se articulam para a paralização coletiva no dia 16 de março. Na semana seguinte, dia 23, a deflagração será discutida a nível nacional.


Com os salários congelados desde 2017 e perdas salariais de mais de 10% somente em 2021, os SPF acumulam uma defasagem de 49,28% em seus vencimentos. A demanda acordada, entretanto, é lutar por 19,99% de recomposição - referentes aos índices inflacionários do governo Bolsonaro.


Os servidores também pedem a revogação da Emenda Constitucional (EC) 95 - do Teto dos Gastos, que congelou o teto dos gastos públicos por 20 anos, e lutam contra a aprovação da PEC 32; eco da pauta que marcou o retorno às grandes manifestações presenciais dos trabalhadores do setor em 2021. 


Em entrevista ao podcast Viração, da ADUFPel,  Amauri Fragoso de Medeiros, da diretoria do ANDES-SN e coordenador do Grupo de Trabalho de Política de Formação Sindical, refletiu sobre a importância da greve enquanto instrumento de lutas. Para ele, todo sindicato deve ter a greve como um horizonte de possibilidades. Uma disposição que se perdeu durante o governo Lula e que, agora, a categoria precisa recuperar.


"A greve já está atrasada, a meu ver. A Universidade vem sendo amplamente atacada nos últimos anos. Só que uma greve não se faz sozinho e nem por decreto, e sim por um processo de construção. E agora o coletivo responde nesta direção".

Um dos motivos que uniu os servidores foi a indignação. No fim do ano passado, o governo reservou R$ 1,7 bilhões para reajuste salarial de policiais federais, policiais rodoviários federais e agentes penitenciários. Os fins eleitoreiros da medida, fortalecendo sua base, é evidente.


Para as demais categorias, entretanto, Bolsonaro pediu "compreensão". A pauta nacional de reivindicações dos SPF foi protocolada pelo Fonasefe no dia 18 de janeiro, no Ministério da Economia. Desde então, são mais de 50 dias de silêncio.


Desafios na Universidade

Outra das dificuldades em debate para a deflagração da greve está justamente ligada ao ensino remoto. "O que significa entrar em greve neste momento? É não ligar o computador?", questiona Amauri. Entender o que fazer e como se portar diante dessa nova realidade foi um processo construído. 


A própria desagregação do coletivo, proporcionada por dois anos de atividades apenas online, cumpriram seu papel. Nesse sentido, o retorno presencial - ainda que incerto e inadequado - colaborou para alinhar as movimentações. 


Com a retomada das aulas, a questão que passou a inquietar os educadores foi a de entender que universidade é esta para a qual se está retornando. Uma universidade precarizada, que flerta com o ensino híbrido e que ao longo dos dois anos de pandemia mal conseguiu manter sua infraestrutura funcional. 


"Na minha instituição, a Federal de Campina Grande, o teto do ginásio esportivo desabou em 2021. A ponte que liga um bloco ao outro em 2020... ". Outras universidades experienciam situações semelhantes. Na UFRJ, para trazer outro exemplo, o vice-reitor Carlos Rocha alertou sobre os riscos de incêndio de um dos prédios que, sem verba não poderá ser mitigado. Não se trata de uma mera suposição: em 2016, o oitavo andar de um dos prédios foi destruído pelas chamas e até hoje parte da estrutura está isolada. Em abril do ano passado, parte do segundo andar também foi tomada pelo fogo. "Precisamos entender que este é um projeto", reflete Amauri. "Bolsonaro faz as universidades, em média, trabalharem com o orçamento de 2009. Isso abre espaço para o discurso de que a solução é a iniciativa privada".


Pelotas

A UFPel retornou as aulas no dia 07 de março. Conforme a instituição, o retorno é híbrido - com disciplinas teóricas online e práticas presenciais. A partir de agosto, entretanto, todas as disciplinas retornam ao modelo presencial.


Sem instruções institucionais de como proceder, a prevalência do individual em relação ao coletivo toma conta. Há relatos de professores que levam seus próprios notebooks para atender ao mesmo tempo alunos no presencial e online. Outros persistem disponibilizando a gravação das aulas para acompanhamento assíncrono - gerando um clima entre os alunos de que os docentes que não acreditam nessa forma de ensino estão agindo contra eles. 


Durante reunião do Grupo de Trabalho de Política Educacional (GTPE) da ADUFPel, realizada em 09 de março deste ano, a professora Valdelaine Mendes partilhou uma insatisfação que atravessa tanto docentes quanto alunos. Para ela, o segundo semestre de 2021 foi o pior em termos de aprendizado - e os estudantes, em sua própria perspectiva, manifestam a mesma impressão.


"A obrigação de gravar as aulas, deixando espaço para um acompanhamento assíncrono, desobrigou os alunos a acompanharem. Eles assumiam outras agendas, iam trabalhar, fazer outras coisas...”, recorda. “Como resultado, o que tínhamos não era uma aula em um formato remoto, era outra coisa. A ausência de participação e de envolvimento foi mais intensa no último semestre, afetando ainda mais a formação que, durante a pandemia, já ficou tão precária". 


Com o indicativo de greve, muitos alunos manifestaram revolta - reivindicando seu desejo de se formar logo, passar por este momento. Amauri reconhece que a questão é delicada. Enquanto reivindicações individuais são mais do que válidas, mas há uma dimensão coletiva em jogo. Durante a pandemia vimos a importância do SUS, e quantas vidas foram salvas por conta das vacinas e da insistência em políticas de preservação da vida - à revelia do que o governo genocida vociferava. "SUS é ciência, e  a ciência em nosso país está diretamente ligada às universidades, e especialmente as universidades públicas. Quando nos atacam, atacam a todos os brasileiros. É preciso deixar clara essa mensagem". 


Com ou sem greve, a luta pela educação não para.


Fonte: Assessoria ADUFPel

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