22º Curso do NPC aborda comunicação e manipulação das consciências
Entre os dias 16 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro, aconteceu o 22º Curso do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), sob o tema “A fusão da mídia com o Estado e a manipulação das consciências”. Durante os quatro dias, comunicadores, dirigentes sindicais e professores debateram o papel da comunicação na América Latina, a disputa de hegemonia, a manipulação da grande mídia, a imprensa alternativa no Brasil, a comunicação na internet e analisaram as batalhas enfrentadas pela mídia em 1964 e 2016. Foram realizadas, também, oficinas de jornal, redação, vídeo, internet, rádio e televisão. No último dia, os participantes ainda fizeram uma visita cultural à comunidade do Morro Santa Marta.
Os diretores da ADUFPel-SSind, Renato Waldemarin e Giovanni Frizzo, e a jornalista Gabriela Venzke participaram do curso, que reuniu mais de 200 pessoas. Renato Waldemarin ressaltou a importância do curso para a troca de conhecimento: “Uma questão interessante é a oportunidade de encontrar pessoas de outras realidades sindicais, observando suas experiências e dificuldade para elaborar novas estratégias de comunicação dos trabalhadores”.
O desafio da comunicação na América Latina e Portugal
A comunicação na América Latina e o desafio dos trabalhadores em Portugal foram abordados no primeiro dia. O jornalista Beto Almeida, um dos fundadores da TeleSur – rede de televisão multi-estatal com sede na Venezuela –, a professora da Universidade Rural do Rio de Janeiro, Flávia Braga, e o escritor Frei Betto, propuseram uma discussão sobre o que se passa ao sul da fronteira. Beto destacou o legado deixado por Hugo Chavez para a cultura e democratização da informação e defendeu uma comunicação mais direcionada. A avalanche do conservadorismo nos países latino-americanos e o combate seletivo à corrupção no Brasil foram citados por Flávia. Frei Betto ressaltou que estamos passando por um período de mudanças significativas, sustentadas em um paradigma: o mercado. O grande desafio, hoje, segundo Betto, é reorganizar a esperança e para isso é necessário resgatar nossa memória histórica.
O professor português Francisco Louçã, fundador do Bloco de Esquerda em Portugal, falou sobre banalidade e a produção do senso comum. Para o professor, a construção desse senso constitui o principal motivo para a disputa da produção de sentidos entre os meios de comunicação de massa e a comunicação alternativa assim como em Portugal e no Brasil.
Internet como resistência e mercadoria
O uso da internet e redes sociais como resistência foi discutido pelas jornalistas Camila Marins (Fisenge) e Renata Miele (FNDC) no dia 17. Camila falou sobre o discurso de ódio disseminado na internet e propôs uma reflexão aos participantes: “O que estamos fazendo além das redes sociais?”. Renata abordou a hegemonia da mídia na internet, citando o Facebook como a ferramenta que mais ameaça a liberdade de expressão e a democracia, por filtrar o debate através de algoritmos e patrocínios, acabando por reproduzir o monopólio por trás dele e disseminar o discurso de ódio. No dia 19, os jornalistas Gustavo Gindre e Arthur William analisaram a produção da informação nas redes sociais como mercadoria e a influência dessas ferramentas em nossas vidas. Os jornalistas falaram sobre a canibalização do Facebook sobre o mercado das redes sociais e as restrições impostas, defendendo a utilização de aplicativos para dispositivos móveis como uma fuga da mediação imposta pelas redes sociais.
Imprensa alternativa
As jornalistas Elaine Tavares e Rita Freire avaliaram as mídias alternativas como fundamentais para a mobilização e luta. “A informação hoje não está mais limitada a criar um consenso do presente. Ela cria o futuro. É uma commodity”, esclareceu Elaine. As jornalistas também criticaram os governos vistos como de esquerda, que não contribuíram para o crescimento da comunicação alternativa no Brasil.
Assessoria ADUFPel
Foto: Assessoria ADUFPel