A matéria, resumida, foi publicada na 11ª edição do jornal Voz Docente. Confira a versão completa

As moradias estudantis da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) são, de um modo geral, precárias. Obras inacabadas, umidade, falta de segurança e superlotação descrevem não só a Casa do Estudante mas também as instalações cedidas para as duas turmas especiais do Movimento Sem Terra (MST). Custeado pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), o projeto conta com um orçamento de R$ 1,4 mi para cinco anos.

A Assessoria de Comunicação da ADUFPel-SSind visitou, em novembro, o alojamento onde os quase cem acadêmicos que cursam Medicina Veterinária dividem um ginásio nos fundos da antiga AABB desde 2011. Foram entrevistados um dos coordenadores das turmas, Tiago Cassol, e o estudante e morador Djones Zucolotto.

Quando questionado sobre a precariedade das instalações, Tiago afirmou que é dever da Universidade: “A infraestrutura e professores são responsabilidade da UFPel e o Projeto não banca”.

Problemas

Quartos

Os quartos, feitos com divisórias típicas de escritório, acomodam em média seis estudantes em um espaço de, no máximo, 8m². Djones conta que o lugar já foi bem pior, já que as divisórias só foram feitas no ano passado e o piso levantava pó. Um forro melhor seria colocado no mesmo ano, para melhorar a acústica, porém o que instalaram não isola o barulho e nem mesmo garante melhor sensação térmica. 

Banheiros

Há, dentro do alojamento, quatro banheiros – dois masculinos e dois femininos. Metade tem apenas sanitários e o restante chuveiros coletivos. Apesar de terem três chuveiros em cada banheiro e frequentemente estarem estragados, por queimarem muito, apenas dois podem ser utilizados ao mesmo tempo porque a rede elétrica não suporta. “No inverno, por exemplo, sempre teve só um chuveiro funcionando, quando não queimava, porque precisávamos comprar resistência. Eles queimam muito frequentemente”, diz Djones.

O estudante explica que a Universidade já enviou técnicos para arrumar a rede elétrica, mas não resolveu o problema. “A gente tem que ir se adaptando e aprendendo a conviver com isso, mas que é difícil é, é bem complicado”, afirma. Os mictórios constituem outro problema. A Universidade comprou dois em 2014, mas não foi feita a instalação correta, deixando um forte odor se utilizados. Para “resolver” o problema, os estudantes forraram os mictórios com plásticos e os desativaram.

Cozinha e refeitório

A cozinha e o refeitório também são bastante precários. O refeitório fica localizado logo na entrada do alojamento. Não há mesas e bancos para todos os cem moradores, fazendo com que os alunos alimentem-se na rua ou até mesmo na sala de aula. Os móveis do espaço são velhos e improvisados. “Fazemos a refeição na cozinha e trazemos para cá. O pessoal come do lado de fora na sombra, na sala de aula. Se todo mundo resolver sentar aqui no horário da refeição não tem espaço”, complementa. O Pronera prevê a compra dos alimentos para o café da manhã e refeições do final de semana, garante também o almoço e a janta no Restaurante Universitário durante os dias úteis. 

Os estudantes reclamam, também, da cozinha. Não há equipamentos suficientes para todos cozinharem e possuem apenas uma geladeira velha, adquirida pelos moradores com recursos próprios. Além disso, os bebedouros doados pela UFPel são recentes: têm apenas um ano. Djones explica que, na metade do curso de Medicina Veterinária, surgiu a oportunidade de serem deslocados para o Campus Canguru, onde teriam uma estrutura um pouco melhor em relação aos banheiros e cozinha. A mudança nunca foi feita.

Limpeza e lavanderia

A limpeza dos espaços é feita pelos próprios alunos, que se dividem em grupos de trabalho. Dessa mesma forma, fazem a utilização da lavanderia. Hoje, o espaço tem três máquinas de lavar roupa, compradas pelos próprios moradores. Porém, logo quando chegou a primeira turma, só havia um tanque para 60 pessoas. Recentemente, conseguiram a liberação de uma sala, onde ficava localizada a sauna da AABB, para colocarem as máquinas e mais dois tanques. “A gente foi se adequando e comprando coisas”, afirma Djones.  

Salas de estudo

Ao lado da lavanderia, está localizada a sala de estudo. Um espaço pequeno, com um mesa velha, cadeiras enferrujadas e/ou quebradas, é o único local reservado para estudo.

Segurança

A segurança do local é terceirizada pela UFPel. Os seguranças que trabalham no ginásio também fazem a ronda da moradia. O controle dos portões é responsabilidade dos próprios estudantes. “A gente tem a chave dos portões. Fechamos às 23h e abrimos às 6h. É assim que temos conseguido manter um pouco da segurança. Quando chega alguém depois desse horário tem que telefonar para algum colega abrir. Temos um grupo, chamado “grupo da disciplina”, que se responsabiliza por fechar os portões e cuidar da segurança.”, explica o estudante.

Piscina

A falta de manutenção da piscina consiste em um problema de saúde pública. A casa de máquinas não funciona, impossibilitando a manutenção e escoamento da água, que, parada, transforma-se em um criatório de mosquitos. Os vizinhos já denunciaram, porém, de acordo com Djones, uma vez foi colocada, pela Universidade, uma estrutura de metal e lona, que durou menos de um mês devido ao vento. O que sobrou da estrutura está enferrujado e permanece no local. Os estudantes chegaram a retirar toda a água uma vez para manter a piscina limpa, que voltou a encher com as chuvas. A preocupação é a de que transborde.

Pronera

O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária é uma política pública de Educação do Campo, desenvolvida em áreas de Reforma Agrária, executada pelo governo federal.

Foi criado em 1998, como resultado da luta dos movimentos sociais e sindicais de trabalhadores rurais pelo direito à educação com qualidade social e incorporado ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em 2001.

Na UFPel, o termo de cooperação para criar o primeiro curso de Medicina Veterinária específico para assentados da reforma agrária foi assinado em novembro de 2011.  

Assistência estudantil na UFPel é direito e não favor

Para a diretora da ADUFPel-SSind, Daniela Hoffmann, a assistência estudantil é um direito e nesses casos de projetos especiais, em que a moradia faz parte da contrapartida da Universidade, não poderia haver situação como essa. “Os estudantes, em vez de serem acolhidos com condições de estudo e convivência, estão custeando as melhorias na infraestrutura do local”, destaca.

“Infelizmente, esta situação precária da assistência estudantil na UFPel é uma realidade histórica para a qual não se vislumbra mudança, basta verificar as últimas notícias da Reitoria sobre o tópico.”, referindo-se à resposta da administração central ao documento enviado pelo Movimento de Casas de Estudantes. O ofício, enviado pelos estudantes, apresentou demandas ligadas à moradia estudantil, como a entrega do Condomínio Estudantil, manutenções, melhorias, transporte, bolsas e auxílios. O documento, assim como a resposta da Reitoria, podem ser encontrados no site da UFPel.

A Assessoria de Comunicação da ADUFPel-SSind realizou várias tentativas de contato com setores da Universidade. Nenhum deles soube dizer de quem é a responsabilidade pelo alojamento. A Assessoria aguarda posicionamento da UFPel.

Assessoria ADUFPel

Fotos: Assessoria ADUFPel