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Arte e cultura como instrumentos de resistência são temas de Encontro do ANDES-SN, realizado em Vitória (ES)

Durante os dias 1 e 2 de novembro, ocorreu o VI Encontro Nacional de Comunicação e Arte do ANDES-SN. O evento foi sediado pela Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (ADUFES), em Vitória, e reuniu 40 pessoas, entre diretores, jornalistas e professores de seções sindicais de todo o país, que trocaram experiências e debateram a comunicação e a arte como redes de resistência.


Com o tema central "Culturas populares resistindo ao fascismo", o encontro objetivou ampliar o debate sobre o papel e a inserção da arte e da comunicação sindical como instrumento de luta nas ações desenvolvidas pelo ANDES-SN e suas seções sindicais. Foram dois dias de rodas de conversas, intercaladas por apresentações culturais locais, e diversas oficinas: dança circular, modelagem de panela de barro, hip hop, de mídia radical e capoeira. 


Reunião do GTCA

Após o evento, na manhã do dia 3 de novembro (domingo), na sede da ADUFES, ocorreu reunião do Grupo de Trabalho de Comunicação e Arte (GTCA) do Sindicato Nacional, com a presença de diretores e jornalistas de 12 seções sindicais. A ADUFPel-SSind esteve representada em ambas as atividades pela presidenta Celeste Pereira e pela jornalista Gabriela Venzke. 


A reunião, que pautou a avaliação da sexta edição do Encontro, também tratou da preparação do primeiro Festival de Arte e Cultura do ANDES-SN. Em relação ao Festival, que deverá acontecer no primeiro semestre de 2020, encaminhou-se a constituição de um grupo que ficará responsável por sua organização. 


Cultura e arte para organização da classe trabalhadora

A programação do Encontro englobou duas rodas de conversa. A mesa que abordou “Comunicação e Arte: construindo redes de resistência” abriu a programação e contou com a participação do professor Cesar Ricardo Siqueira Bolaño (Universidade Federal de Sergipe) e do jornalista Gustavo Faria Sixel (Esquerda Online). 


Bolaño discorreu sobre a comunicação a serviço da classe trabalhadora e a apropriação cultural pelo capital. Segundo o docente, “comunicação é um elemento que está no âmago dos processos sociais e nas formas de organização da classe trabalhadora”. Ele abordou a relação da cultura e da arte com a comunicação, a qual é o elemento chave de todas as estruturas de poder. Além disso, falou sobre a apropriação do capital das formas de mediação social e de que forma isso representou uma mudança significativa na organização do sistema capitalista. 


Segundo ele, no século XX, o processo de democratização complicou-se com o surgimento de estruturas de mediação manipulatórias da comunicação e da cultura. A partir do surgimento das grandes indústrias de comunicação e da intervenção do capital sobre elas, em nível global, a autonomia cultural da classe trabalhadora foi posta em cheque e transformou-se em mercadoria. Frente a isso, o professor defendeu a necessidade de resgatar a cultura brasileira a partir de uma organização da autoconsciência para a construção de mecanismos contra-hegemônicos. “A estrutura do sistema é uma estrutura de manipulação. (...) É preciso criar outro tipo de mediação em benefício da classe trabalhadora”. Ainda, reforçou que a comunicação deve ser coletiva e de baixo para cima. 


O jornalista do Esquerda Online, Gustavo Sixel, falou sobre os retrocessos do governo de Jair Bolsonaro em relação à cultura e à comunicação e os processos de resistência que têm se formado na arte e na cultura. “O projeto do ‘Bolsonarismo’ não é só um ataque ideológico às culturas. Ele é combinado com o ataque neoliberal. Então, o corte de verbas e a política de Estado mínimo são combinados com a luta ideológica para estabelecer o retrocesso em todos os aspectos”. 

Sixel apontou alguns dos alvos dos ataques de Bolsonaro, como censura, esvaziamento do Ministério da Cultura, ofensivas aos povos originários, perseguição e ameaças a jornalistas e combate às mídias tradicionais. De acordo com ele, esses ataques têm em comum o conceito de pós-verdade, no qual, ao criar e modelar a opinião pública, os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais. “O que se tem é um mecanismo que tenta desacreditar qualquer verdade, sobre a ciência e sobre qualquer tipo de conhecimento. Isso permite uma manipulação e controle maior da sua base militante”, avaliou. 


Frente a isso, o jornalista salientou que, do outro lado, viu-se um crescimento de formas de resistência muito importantes na cultura e na comunicação. A resistência tem assumido esse papel de muitas formas: charge, cinema, teatro, cartoon. Da mesma forma, a comunicação também, por meio de uma onda crescente do jornalismo de resistência e contra-hegemônico. 


Periferia e democracia

No sábado, segundo dia do Encontro, o tema “Arte e cultura como instrumento de resistência” continuou em pauta. A roda de conversa contou com a participação da professora e diretora da Associação Docente da Universidade Estadual do Norte Fluminense (ADUENF), Luciane Soares da Silva, e dos professores da Universidade Federal do Espírito Santo, Victor Neves Souza e Fábio Luiz Loureiro, também mestre de capoeira.


Luciane Soares da Silva abordou o assunto sob o viés da relação entre periferia e democracia. A docente falou sobre a criminalização da cultura produzida na e pela periferia e o processo de resistência nas favela, indicando, sob a perspectiva do funk, o papel da cultura popular como forma de expressão. “Nada é mais vergonhoso, para pensar cultura popular, que a proibição dos bailes funk”, comentou. Em sua avaliação, a criminalização do Estado à algo absolutamente legítimo persiste por conta da perseguição injusta do governo aos bailes. Através da censura, o Estado tenta calar a voz das comunidades, assim como ocorreu com Marielle Franco. “A morte de Marielle não é só a morte de um corpo. É a morte de um corpo muito específico, quanto à gênero, cor e pertencimento, praticado pelo corpo do Estado”, destacou. 


De acordo com ela, a resistência no Brasil se dá em muitos momentos às custas da vida das pessoas que vão para luta. Essas tentativas de silenciamento, no entanto, nos fazem retomar todas as discussões sobre mortes de sindicalistas, de líderes dos trabalhadores sem terra, indígenas e quilombolas e de operários do Brasil do século XXI. 


Arte e cultura como instrumentos de resistência 

Os professores Victor Souza e Fábio Loureiro falaram sobre a arte e a cultura como instrumento de resistência. Enquanto Loureiro abordou o assunto do ponto de vista da capoeira como, Souza tratou de como a arte e a cultura constituem-se como elementos fundamentais para a luta política e social. 


O mestre de capoeira, destacou que a capoeira é um importante instrumento de resistência por tudo que historicamente ela representa. "A capoeira, para mim, é luta. É indissociável", afirmou. Segundo ele, é uma manifestação cultural que tem diretamente relação às lutas sociais e um instrumento de resistência contra as barbáries. 


Para Souza, arte e cultura como instrumentos devem estar relacionadas e ter com objetivo a resistência contra a perda de algo ou a afirmação de superação. De acordo com o professor, estamos diante de um problema em que se faz necessário pensar esses elementos como resistência, em um momento de aprofundamento das desigualdades e cerceamento das potencialidades humanas. 


Segundo ele, o "outro lado" tem instrumentalizado-se cada vez mais e utilizado a arte e a cultura para o convencimento. Dessa forma, faz-se necessário que também nos apropriemos desses elementos em uma luta política para reverter a situação que vivenciamos. A tarefa, porém, não é fácil, dadas as últimas derrotas históricas que temos sofrido, explicou. "O enfrentamento é muito difícil porque exige do produtor cultural e do artista optar por um caminho consciente. Eu não acho que a arte e a cultura não são resistência por si só. Exige uma tomada de posição consciente e um compromisso político com um projeto de sociedade e uma militância ativa nessa direção. Isso é um negócio trabalhoso de se construir, mas é um debate que temos que enfrentar e fazer", concluiu. 


Avaliação do Encontro

Segundo a presidenta da ADUFPel-SSind, Celeste Pereira, as discussões apontaram os desafios e a necessidade de fortalecimento da comunicação, arte e cultura, em um cenário de neoliberalismo, onde se agudiza a retirada de direitos dos trabalhadores em prol do capital. E, em sua avaliação “o evento foi exitoso no sentido da retomada do debate em torno da comunicação sindical, num momento duro da conjuntura, onde a mídia hegemônica ainda detém grande parte da fatia no processo de disseminação de notícias e formação opinião", declarou Celeste. 


Um dos coordenador do GTCA, Benedito Carlos Libório Caires Araújo, avaliou o evento como positivo e destacou a importância de avançar ainda mais a comunicação com a base. Segundo ele, o evento buscou abarcar a necessidade de uma nova perspectiva de entender o sindicato. "A gente encontrou, no Grupo de Trabalho de Comunicação e Arte, uma forma de interlocução para chegarmos na base que está bem distante da luta sindical, e nesse momento precisamos de todo mundo. (...) Nosso objetivo é de enfrentar o atual governo e toda a conjuntura de desdobramento das necessidades do capital, que são de destruição do trabalho e de jogar boa parte da população na miséria absoluta". 


Assessoria ADUFPel 

Fotos: Assessoria ADUFPel

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