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Comunicação colaborativa entre as Seções Sindicais do RS é fortalecida em Seminário sediado pela ADUFPel

Trabalhadores e diretores das seções sindicais do Rio Grande do Sul do ANDES-SN debateram, por dois dias, no último final de semana em Pelotas, os desafios da comunicação contra-hegemônica e encaminharam iniciativas de articulação e ampliação de uma comunicação sindical em rede. As discussões ocorreram durante o Seminário de Comunicação Sindical, promovido pela Secretaria Regional do ANDES-SN nos dias 13 e 14, com o apoio da ADUFPel-SSind. 


A abertura do evento ocorreu na noite de sexta-feira (13), no auditório do ASUFPel-Sindicato, com a participação do diretor do Sindicato Nacional, Carlos Pires, da presidente da ADUFPel, Celeste Pereira, e do diretor da Seção Sindical, Giovanni Frizzo. Logo após, teve início a mesa central sobre os desafios da comunicação contra-hegemônica no contexto atual, que contou com a presença do editor contribuinte sênior do Intercept Brasil em Brasília, Rafael Moro Martins, e do professor da Universidade de São Paulo (USP), Pablo Ortellado. A atividade também foi transmitida ao vivo pela página do Facebook da RádioCom. 


Mudanças no padrão de comunicação do Brasil

Ortellado, além de professor universitário, é filósofo e colunista. Atualmente, dá aulas de Gestão de Políticas Públicas na USP, onde fundou o Monitor do Debate Político no Meio Digital, uma ferramenta que acompanha a postagem e compartilhamento de conteúdos em páginas de veículos jornalísticos ou ligados a movimentos sociais. O estudo do docente envolve a aplicação de pesquisas empíricas que têm como objetivo buscar entender a polarização política e a centralidade das mídias sociais na comunicação, a partir do monitoramento do consumo de notícias no Brasil.


Com base em sua pesquisa, comentou que nos últimos anos houve mudanças no padrão de comunicação, o que tem produzido efeitos políticos enormes. Com o crescimento das mídias sociais, a barreira existente em outros meios, como a televisão, por exemplo, foi derrubada, permitindo a entrada e a interação de um número significativo de atores políticos e contribuindo para o aumento da polarização. Embora o impacto e o grau de penetração ainda ser menor nas mídias sociais, é nelas onde as pessoas despendem maior tempo, produzindo “efeitos políticos enormes”, segundo Ortellado. 


“Nos veículos de massa, [a pessoa] tem que passar por uma ‘muralha’. Há os ‘guardiões do portal’, que são os editores que definem quais vozes poderão falar. Na mídia social não tem essa barreira”, explicou. Isso resulta em alterações também no padrão de mobilização da sociedade, que passou a aumentar “enormemente”, conforme Ortellado. A diminuição do custo, nas mídias sociais, para a organização de protestos e atos também contribuiu para esse processo. 


Em sua pesquisa sobre o padrão de mobilização da sociedade brasileira, o professor apontou que em São Paulo, desde 2013, 30% da população participou de um protesto de rua. “Esse é um nível de mobilização muito superior do que o que aconteceu nos anos 1970. (...) A nossa sociedade tá super engajada e mobilizada atualmente”, ressaltou. 


Rafael Moro Martins, editor contribuinte sênior do The Intercept Brasil em Brasília (DF) desde o início de 2019, em sua intervenção inicial, refletiu sobre qual seria o conceito, atualmente, da comunicação hegemônica. Para Rafael, a Globo, que seria normalmente identificada como um veículo hegemônico, hoje, paradoxalmente, se localiza na oposição a Jair Bolsonaro, embora esteja satisfeita com a política econômica do Ministro da Economia Paulo Guedes e, inclusive, teve a renovação de sua concessão ameaçada pelo presidente.


Para o editor do The Intercept, é necessário entender que o mundo mudou, e, consequentemente, a comunicação mudou. “Todos produzimos notícias hoje. Alguém com um celular na mão pode fazer jornalismo sem ser um jornalista”, disse. Rafael citou, também, o Twitter como um exemplo da mudança de paradigma na comunicação. No microblog, considerado por ele horizontal, todos têm o mesmo direito a escrever 280 caracteres. 


Para encerrar, Rafael Moro Martins, citando artigo recente da professora Rosana Pinheiro Machado, afirmou que no cenário polarizado há uma tendência de grupos falarem para eles mesmos. E, para o jornalista, a esquerda se fecha mais ainda nesse círculo vicioso. Falta ser mais inclusivo na comunicação, deixar de falar apenas para nichos e públicos específicos. E falta, para Rafael, voltar a ouvir as pessoas, especialmente ouvir as pessoas que não pensam como a esquerda.


Oficina de produção gráfica 

No sábado pela manhã, na sede da ADUFPel, Thiago Scherer, integrante do Design Ativista Pra Quem Não Aguenta Mais e do Mídia Ninja - site de jornalismo livre que ficou amplamente conhecido após a cobertura dos protestos de 2013, realizou uma oficina. Scherer falou sobre a necessidade de cobrir movimentos sociais que nem sempre recebem atenção da grande mídia e, em sua oficina de comunicação nos meios digitais, orientou os participantes a criar materiais gráficos para divulgação de eventos deste segmento.


Segundo Thiago, “é importante fazer a cobertura dessas mobilizações, porque se a grande mídia não fizer, aquilo acaba ali”. Ainda afirmou que “um festival pode ter milhões de pessoas, mas se ninguém postar o que está acontecendo, pra quem não estava ali vai passar despercebido”. 


Durante o bate-papo, refletiu-se sobre como direcionar a mensagem para o público correto, isso sem perder a essência ideológica. Thiago explicou que a comunicação deve ser o centro de toda ideia dos movimentos, pois para alcançar novas pessoas com pensamentos diferentes, é preciso estar aberto a ouvir. 


Um exemplo discutido na oficina, foi a utilização da bandeira do Brasil em atos. Em 2013, foi muito usada em mobilizações pró-impeachment e recentemente por movimentos da direita. Scherer ressaltou a necessidade da esquerda apropriar-se também dela para atos não ligados ao governo, e sim de luta da população. 


Ao final, Thiago refletiu sobre o quanto é preciso, em tempos de tantas divergências e lutas por causas diferentes,  aprender a conviver com opiniões distintas: “As pessoas têm suas ideologias e suas ideias, então acho que a gente tem que se unir pelas semelhanças e não se separar pelas nossas diferenças. Não é ter uma grande rede, mas ter várias redes que interagem quando tem pontos que ligam elas”. 


Fortalecimento da comunicação colaborativa

Na última atividade do Seminário, as seções sindicais do ANDES-SN no RS relataram, em uma roda de conversa, experiências de comunicação e da mobilização em torno do estado de greve do Sindicato Nacional. A atividade, assim como a oficina, ocorreu na sede da ADUFPel. 


Entre as sugestões para a ampliação de uma comunicação em rede, foi aprovada a proposta da ADUFPel, que aponta para uma comunicação colaborativa entre os jornalistas. Encaminhou-se que aconteça, semanalmente, a partir do início do ano que vem, uma produção conjunta entre as seções, que pode ser texto, vídeo ou material gráfico. Com a elaboração de um Especial Estado de Greve, a cada semana, uma seção tomará frente para a confecção do material, com o auxílio das demais. 


Na avaliação da presidente da ADUFPel, Celeste Pereira, o Seminário resultou em um final de semana de excelentes resultados. “A comunicação sindical tem sido para nós um aspecto de grande relevância. É um instrumento fundamental de diálogo com a nossa categoria e com a comunidade em geral. E o Seminário nos trouxe elementos para refletirmos sobre a forma como temos trabalhado a comunicação e nos apresentou algumas possibilidades e novidades”. 


Ainda, a docente destacou que o Seminário contribuiu para que as seis seções sindicais saíssem com uma formulação objetiva de uma tarefa a ser cumprida em conjunto, na perspectiva do debate sobre o estado de greve e para a preparação da categoria aos enfrentamentos que estão por vir em 2020. 


Segundo o diretor do Sindicato Nacional, Carlos Pires, no encontro foi possível vencer as dificuldades iniciais de articulação. “Foi possível produzir um incipiente processo de articulação da comunicação no estado. É uma primeira experiência e estamos apostando que vamos conseguir crescer bastante com essa articulação e espero que em um futuro muito próximo a gente uma comunicação bem articulada e consigamos atingir os espaços que precisamos atingir dentro da universidade, na base do nosso sindicato, na sociedade e no movimento sindical”. 


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Assessoria ADUFPel

Fotos: Assessoria ADUFPel


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