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Condições de trabalho dos jornalistas sindicais e o papel da imprensa são debatidos no 3° Seminário Unificado de Imprensa Sindical

A ADUFPel-SSind participou do 3° Seminário Unificado de Imprensa Sindical entre os dias 23 e 25 de setembro no Hotel Canto da Ilha, em Florianópolis. O evento, organizado pelo Fórum de Comunicação da Classe Trabalhadora, foi precedido pelo 1º Encontro Nacional de Jornalistas Sindicais.

O papel da imprensa sindical na mobilização dos trabalhadores

Na noite de quarta-feira (23), teve início a primeira mesa de debate com a presença das jornalistas Cláudia Costa (CSP-Conlutas) e Cláudia Santiago (Núcleo Piratininga de Comunicação). Sobre o papel da imprensa sindical na mobilização da classe trabalhadora, Cláudia Costa defendeu que, para a comunicação sindical acontecer, é fundamental o tripé composto por trabalhador, jornalista e dirigente sindical. Também falou que as multifunções exercidas pelo jornalista sindical têm atrapalhado a qualidade do conteúdo produzido nos sindicatos. Ela acredita que falta uma maior apuração de dados e que um jornalismo menos institucional seria uma maneira de melhorar a comunicação sindical. “Nós jornalistas não só relatamos os fatos, mas também temos que ter uma análise sobre eles”, afirmou.

Cláudia Santiago questionou o uso da expressão “imprensa sindical”. Segundo ela, o certo seria falar em “comunicação sindical”. “Quando falamos de comunicação sindical, falamos de uma comunicação de classes que busca uma outra sociedade e para isso não existe uma fórmula, senão mudar a maneira de pensar”, explicou. Falou, ainda, sobre o jornalismo ser a parte mais importante dentro da comunicação sindical. Cláudia Santiago substituiu a participação de Vitto Giannotti, que faleceu recentemente. Vitto foi homenageado na abertura do Seminário com a leitura de uma poesia de Mauro Iasi – “Quando os trabalhadores perderem a paciência”.

Jornalismo e redes sociais

O primeiro painel do dia 24 abordou o tema “A informação como mentira: a realidade do jornalismo em um mundo de redes sociais”. O jornalista Gustavo Gindre (Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ), destacou a questão da mediação em um contexto de redes sociais, em que o papel de mediador é realizado por algoritmos (mapeamento realizado por máquinas que filtram as informações que chegam aos usuários). Ele ressalta que as pessoas que utilizam redes sociais, como Facebook e Twitter, geram e produzem valor e esse valor é apropriado pelas empresas privadas. Destacou que “o jornalismo na internet tem que assumir o papel da mediação sem abandonar o fato real”.

Breno Altman (Ópera Mundi), falou que vivemos uma janela de oportunidades e as novas tecnologias contribuem para fazer um jornalismo contra hegemônico, porém estão sendo mal utilizadas. “A circulação e alcance do jornalismo sindical são muito pequenos”. Breno destaca que o nível de articulação de força no jornalismo sindical pouco evoluiu nos últimos 20 anos e que isso é resultado de um interesse coorporativo. “Nenhum sindicato quer deixar de ter o seu jornal ainda que ele seja desnecessário”, afirma. A solução seria a integração dos sindicatos e a criação de uma comunicação integrada, com condições de disputar a hegemonia com a grande mídia.

Movimentos sociais no Brasil

O segundo debate do dia proporcionou uma intensa discussão sobre os movimentos sociais e a disputa comunicacional no Brasil. Participaram, a jornalista do Intervozes, Bia Barbosa, a representante do movimento Mães de Maio, Débora Maria da Silva e a cacica da terra indígena do Morro dos Cavalos, localizado em Santa Catarina, Kerexu Yxapyry.

Bia Barbosa abordou o histórico de criminalização e marginalização dos veículos comunitários. Em dados, apresentou que somente 16% da classe E tem acesso à internet no Brasil, em comparação com 90% da classe A. Bia falou que é necessário um serviço de universalização da internet para maior circulação da informação. Sobre democratização da mídia, citou o Projeto de Lei (PL) de Mídia Democrática como uma ferramenta de mobilização e sensibilização da sociedade, criticando a ausência de pluralidade nos meios de comunicação de massa. “A população precisa saber que a comunicação é um direito fundamental”, explicou.

Regularização das terras indígenas

Kerexu contou sobre a luta dos povos indígenas pelo direito às suas terras. Como exemplo, citou a batalha que vem enfrentando para regularizar a terra do “Morro dos Cavalos” e a cobertura do caso pela mídia. “Estamos sendo bombardeados pela mídia. Em nenhum momento a imprensa quis saber quem são os moradores do morro. Nem fomos procurados para darmos nossos depoimentos”, criticou. Com orgulho de ser Guarany disse: “Conheço meus direitos e jamais vou abrir mão deles”.

A cacica conta que o genocídio dos povos indígenas ainda não acabou e falou sobre a PEC 215, que define a remarcação de todas as terras, o que é totalmente contrária à Legislação de 1988. “Dizem que não podemos comprovar com fotos e documentos que as terras são nossas, mas continuaremos em uma luta unificada com os quilombolas e sem-terra”, declarou.

Transformando luto em luta

“Eu sou mãe de vítima. Sou mãe dos 600 jovens que foram assassinados”. Foi com esse emocionante depoimento que Débora Maria da Silva, representante do movimento Mães de Maio, deu início a sua fala. Débora é mãe de um dos 600 jovens assassinados entre os dias 12 e 19 de maio de 2006 no estado de São Paulo. O episódio que ficou conhecido como “Crimes de Maio” foi uma reação de grupos de extermínio com a participação de agentes do Estado a ataques da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Foram mortos, principalmente, jovens negros, moradores da periferia. O resultado do momento mais trágico vivido por Débora foi transformar a perda em uma luta que continua até hoje.

Hoje, Débora defende, também, os movimentos sociais e apoia a luta da classe trabalhadora. “O movimento Mães de Maio trabalha junto aos trabalhadores.” Para ela, os sindicatos devem ter mais participação nos movimentos sociais e defendeu a valorização do jornalista. “O sindicato que não investe em movimentos sociais é pelego”, afirma.

Condições de trabalho e multifunções na imprensa sindical

Considerada a mesa mais aguardada do dia, o último debate tratou sobre condições de trabalho dos jornalistas sindicais. A mesa foi composta pelos jornalistas Carlos Eduardo Batista e Renata Maffezoli (assessora do ANDES-SN e diretora do Sindicato dos Jornalistas do DF).

Carlos explicou que as necessidades exigidas são, muitas vezes, maiores que a capacidade de resolver as demandas. Para ele, “é preciso que o sindicato tenha noção do limite físico do jornalista”. Criticou ainda as divergências existentes nas diretorias e como atrapalham o trabalho desenvolvido pelo profissional de comunicação. “Deve haver um balanço, antes, com as dimensões das atividades a serem desenvolvidas. Planejamento é a palavra de ordem”, afirmou. Ainda, criticou a falta de autonomia dada aos jornalistas pelos dirigentes sindicais. Segundo ele, há cada vez mais interferência no trabalho do profissional em textos e fotografias, por exemplo.

Renata falou sobre a exploração do trabalhador. De acordo com ela, não existe dentro dos sindicatos uma consciência do que é um jornalista. “Há entidades que lutam contra o aumento da jornada de trabalho, mas estendem a jornada de seus jornalistas”, criticou. Ainda, explicou que o papel dos assessores não é o de militar ao lado dos sindicatos.

A luta comunicacional na Venezuela

A luta contra a mídia hegemônica e a reforma do jornalismo na Venezuela foram temas debatidos pela jornalista venezuelana, Esther Vargas (apresentadora do programa Al-Instante, do Circuito Unión Rádio) e pela representante do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA), Elaine Tavares.

Esther falou sobre o Movimento Jornalismo (Periodismo) Necessário (MPN) – plataforma de comunicadores da Venezuela que busca promover a reforma do jornalismo. “Liberdade de expressão é um conceito burguês de direita. Nós temos que lutar pelo direito à comunicação”. Ainda, afirmou que a Venezuela avançou muito em relação aos direitos sociais nos últimos 15 anos.

Elaine abordou a questão da TeleSUR – rede de televisão multi-estatal da Venezuela feita para ser transmitida na América Latina –, com início em 24 de julho de 2005, aniversário de nascimento de Simón Bolívar. O canal, cujo lema é "Nuestro Norte es el Sur" (Nosso Norte é o Sul), foi criado numa parceria que é financiada pelos governos da Venezuela, Cuba, Argentina e Uruguai. Para ela, a TeleSUR é um importante veículo contra-hegemônico, pois “mostra a verdadeira cara da América Latina” e forma os telespectadores ao mesmo tempo que informa.

Ainda, observa que a televisão nos rouba a mais-valia ideológica porque passamos a querer consumir os mesmos produtos que são mostrados em novelas e propagandas. E questiona: “Por que a mídia hegemônica se mantém e qual a força dos meios alternativos?”

A plenária final, com propostas e encaminhamentos, encerrou a terceira edição do encontro.

 

Propostas do 1° Encontro de Jornalistas Sindicais:

1. Elaboração de uma política de comunicação sindical nas entidades, que extrapole o tempo de mandato da gestão, com a participação e jornalistas, dirigentes e trabalhadores.

2. Estímulo à criação de coletivos de comunicação nos sindicatos como instrumentos de política de formação de classe.

3. Debates com as direções dos trabalhadores sobre o tipo de jornalismo praticado nos sindicatos, tendo como ponto de partida os interesses da categoria e não apenas das direções.

4. Realização de planejamento estratégico nas entidades que contemple ações de comunicação sindical e previsão de recursos financeiros para viabilizá-las.

5. Investimentos e melhorias nas condições de trabalho dos jornalistas. Estrutura física e equipamentos adequados às suas necessidades e contratação de profissionais.

6. Respeito aos direitos trabalhistas e às funções jornalísticas dos profissionais.

7.  Apoio à formação e qualificação do profissional de comunicação proporcionando a sua participação em cursos, seminários e palestras e demais atividades relacionadas ao seu trabalho.

8. Debate sobre a participação e o apoio político e financeiro das entidades ao Fórum de Comunicação da Classe Trabalhadora.

9. Inclusão no 2° Encontro Nacional de Jornalistas Sindicais de debates e palestras sobre o adoecimento de jornalistas, tendo como pano de fundo a realidade da multifunção, a paridade do relacionamento interpessoal travado nas entidades, as demissões e a pressão do mercado de trabalho. Bem como as possíveis ações para a possível da saúde dos trabalhadores.

10. Inclusão no 2° Encontro Nacional de Jornalistas Sindicais de debates e palestras sobre as melhores práticas de comunicação sindical.

11. Criação de grupos de estudo visando a produção teórica sobre jornalismo sindical, com definição de comissão responsável e prazo para publicação de artigos.

12. Estímulo e apoio à criação de centrais de notícias populares e sindicais como instrumentos de divulgação da luta dos trabalhadores nos diversos meios de comunicação dos movimentos sociais.  

13. Criação de coletivo, grupo ou entidade capaz de aglutinar os jornalistas sindicais do Brasil.

 

Propostas do 3° Seminário Unificado de Imprensa Sindical:

1.  Que as centrais sindicais orientem seus sindicatos a respeitar as jornadas de trabalho e o piso salarial dos jornalistas de suas entidades filiadas.

2.  Que as centrais sindicais orientem seus sindicatos a realizarem encontros de comunicação regionais e/ou nacionais a fim de debater a comunicação de suas entidades filiadas.

3. Criar uma rede de troca de informação de jornalistas participantes do Seminário para troca de informações.

 

Assessoria ADUFPel

Foto: Assessoria ADUFPel

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