Desigualdade e tecnologia marcam abertura de Seminário Internacional
Na manhã de quarta-feira (10),
começou o Seminário Internacional “Universidade, Ciência e Classe em uma era de
crises”, em Brasília (DF). Organizado pelo ANDES-SN, o evento ocorre no
auditório da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (Adunb –
SSind.)
Antonio Gonçalves, presidente
do ANDES-SN, e Eblin Farage, secretaria geral do Sindicato, participaram da
mesa de abertura. Eles ressaltaram a importância do seminário para a troca de
experiências e na identificação de estratégias para enfrentar o Capital.
Osvaldo Coggiola, 2º vice-presidente e encarregado de Relações Internacionais
do ANDES-SN, ressaltou a importância de resgatar o princípio internacionalista
da classe trabalhadora.
“Ciência, Tecnologia e
Capital: a ‘Caixa Preta’ da inovação” foi o tema da primeira mesa. Ela contou
com a presença de Francesco Schettino, docente do departamento de
jurisprudência da Universidade da Campânia, na Itália. Schettino estuda temas
como economia e desigualdade social.
Segundo Francesco Schettino, a
Ciência e o desenvolvimento tecnológico estão completamente submetidos ao
capital. “No modo de produção do Capital, a desigualdade e a desarmonia são
pressupostos e não consequência. Eles são elementos centrais para compreender,
nessa etapa, que muitos dos fenômenos econômicos e sociais são polarizados.
Estão criando um abismo cada vez maior em diversos grupos sociais”, disse.
O italiano explicou ser comum
que governos alterem metodologias de mensuração da concentração de renda,
construindo uma ideia de que a desigualdade social estaria menor. “A
desigualdade no mundo reduziu nos últimos 40 anos, em números relativos. No
entanto, isso está em contradição com os números absolutos. Então, quando se
adota os índices relativos, a desigualdade está reduzindo. Já adotando os índices
absolutos, ela está crescendo”, disse ao mostrar alguns gráficos relativos ao
índice de GINI. Este índice é medido de zero a um; uma sociedade menos desigual
tem seu índice de GINI mais próximo a zero.
O crescimento da desigualdade
social em números absolutos é acompanhado pela concentração de renda. No mundo
contemporâneo, há cada vez menos pessoas detendo mais riqueza. Segundo
Schettino, o aumento da concentração de renda está ligado ao desenvolvimento e
às inovações tecnológicas.
O docente explicou que a
aferição do grau de desenvolvimento tecnológico de um determinado país pode ser
feito pelo número de registros de patentes. E quando se olha para o registro de
patentes, segundo o italiano, há duas questões que devem ser consideradas: o
desenvolvimento de novas tecnologias, feito por cientistas e pesquisadores
assalariados de grandes empresas; e a propriedade dessas inovações
tecnológicas, cujo registro das patentes pertence a essas grandes empresas.
A partir de dados da Europa,
Schettino destacou que atualmente há menos empresas proprietárias de um número
maior de patentes. Quando esses dados são comparados com os índices de
concentração de renda, de acordo com o professor, percebe-se um vínculo entre a
concentração renda e o desenvolvimento de novas tecnologias. Dito de outro
modo, segundo Schettino, a inovação tecnológica tem contribuído para o aumento
da concentração de renda no mundo. Esse fato, segundo o docente, joga por terra
o argumento de que o desenvolvimento das forças produtivas, por si só, seria
capaz de reduzir desigualdades sociais.
Francesco Schettino também
falou do mercado de patentes no mundo, em que Estados Unidos e Japão aparecem
em primeiro lugar no ranking dos registros. Entretanto, após a crise mundial de
2008, o cenário começou a mudar. “A China tem investindo muito em inovação
tecnológica, principalmente, em alta tecnologia de engenharia elétrica, porque
entendeu que é fundamental para a competição”, disse.
De acordo com Osvaldo
Coggiola, docente de História Contemporânea da Universidade de São Paulo, e que
compôs a mesa, o número de patentes registradas no Brasil ainda é ínfimo,
quando considerados o tamanho da sua população e de sua economia.
O 2º vice-presidente da
Regional São Paulo do ANDES-SN ressaltou que medidas como o Marco Legal de
Ciência, Tecnologia e Inovação não resolvem a situação do país. Pelo contrário,
trata-se de uma medida que coloca as instituições públicas numa perspectiva
mercadológica e empresarial, alterando as relações de trabalho dos docentes. O
professor destacou os embates do ANDES-SN contra o Marco Legal, ressaltando a
importância da luta contra o capital. “Lutamos a favor de uma sociedade que os
meios de produção sejam de propriedade social”, defendeu Coggiola.
Debates
O seminário segue pela tarde
de quarta, com o debate sobre “Orçamento Público e Financiamento da Educação
Superior”. À noite, o tema será: “Dívida Pública e Usura Financeira”. Já na
quinta-feira (11) serão realizadas as mesas sobre “A Luta da Universidade
Pública e da Classe Trabalhadora na Argentina e no Brasil”, “A Luta das
Mulheres Trabalhadoras pelo Aborto Legal, Seguro e Gratuito” e “Decomposição e
Recomposição da Classe Operária”. Ao todo, o Seminário Internacional do
ANDES-SN é terá seis mesas, divididas entre os dias 10 e 11 de abril.
Fonte: ANDES-SN