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Em live da ADUFPel, docentes tratam das implicações do Ensino à Distância na educação pública superior

No final da tarde desta quinta-feira (7), a ADUFPel realizou a sua segunda live, transmitida pelo Facebook, sobre o tema “Ensino à Distância (EaD) e precarização do ensino superior público”. Por cerca de 1h, foram abordadas as implicações das aulas remotas e do EaD no ensino e na aprendizagem, bem como de que forma essas questões afetam o trabalho docente e contribuem para o aprofundamento da precarização do ensino público. 

O debate foi mediado pelo jornalista da entidade, Mathias Rodrigues, e contou com a participação do docente do Centro de Letras e Comunicação e primeiro secretário da ADUFPel, José Carlos Marques Volcato e da professora do curso de licenciatura em Música da UFPel, Regiana Blank Wille. A live foi traduzida por dois intérpretes de Libras e teve a produção de Gabriela Venzke, jornalista da ADUFPel.

Crítica ao modelo de educação à serviço do capital

Regiana começou a discussão destacando que, neste ano, o país passou por dois “Tsunamis sociais”. O ano de 2020 começou com uma crise econômica que vem se intensificando desde janeiro, e a difusão perigosa da Covid-19. A partir disso, a pandemia acarretou na suspensão das aulas nas escolas e universidades e trouxe à tona a questão dos ensinos remoto e à distância, os quais segundo a docente, são formas precarizadas de atuação e que integram uma agenda neoliberal antes mesa da pandemia. 

Segundo ela, esses modelos fazem parte da tentativa de privatização da educação ordenada por um conglomerado de corporações interessadas em “usurpar o ensino público e gratuito do país”. E, diante de uma crise econômica como essa, o governo, sem um plano para agir e sem saber indicar uma alternativa, acaba por entregar a educação nas mãos do capital. 

“Esse modelo referenciado na agenda empresarial se localiza no capital humano e nas competências, viabilizando tudo isso à revelia dos trabalhadores da educação. Essa agenda do capital está por detrás dessas ações. Empresas de tecnologia já vêm trabalhando dentro do governo  vendendo esses pacotes, tentando a privatização da universidade”. 

Frente a isso, aponta que devemos olhar de forma crítica ao Ensino à Distância e que o problema não é o uso das tecnologias da informação, mas o contexto e a forma como são utilizadas. “Os meios tecnológicos para a interação precisam ser assegurados para todos e não é, nesse momento, em que a gente está vivendo uma pandemia, que nós vamos disseminar algo que não é direito de todos, como o acesso à internet”. 

Para a professora, devemos atentar para o que está por trás dessas aulas remotas, nas quais há muitas problemáticas envolvidas, e o EaD precisa passar pela construção de estratégias de interesse da classe trabalhadora. “Nós, profissionais da educação, não podemos nos transformar em entregadores de tarefas. Nós temos que pensar no sentido criador e emancipador do trabalho humano. (...) Não podemos nos deixar assolar por grandes corporações que querem transformar o nosso trabalho”, salientou. 

De acordo com Regiana, a escola e a universidade são instituições que devem ser comprometidas com a cidadania e a justiça social e por isso devemos questionar esse modelo e seguir lutando pela educação pública universal. “Nós estamos sendo totalmente injusto ao deixar que isso aconteça e a gente sabe que os que vão ser prejudicados são os mais pobres e os negros, principalmente”, disse. 

Ao questionar que sociedade queremos, em que o EaD atenderá apenas uma parcela da população, ela afirmou que, dentro deste período de anormalidade, “salvar” o calendário acadêmico não deve ser o mote da questão. Para a docente, agora, o importante é pensar na vida e lutar por igualdade social. 

Proposta deve ser discutida de maneira crítica

O professor e diretor da ADUFPel, José Carlos Marques Volcato, destacou que, não apenas neste momento da pandemia, é sempre importante a reflexão sobre as práticas docentes, aspectos relacionados a soluções propostas na área da educação e seus desdobramentos. Para ele, é fundamental o debate sobre princípios pedagógicos, questões de concepção de ensino e de direitos que envolvem os estudantes, docentes e técnico-administrativos e suas famílias, antes de implementar esse modelo de ensino remoto na Universidade.

Para José Carlos, as diferenças entre as modalidades de ensinos remoto e à distância têm sido utilizadas para justificar a defesa da adoção do ensino remoto, que, segundo ele, tem como principal objetivo a maximização do lucro. Essa forma de educação mediada por tecnologia é considerada grave pelo docente, que ressalta que deve ser questionada por poder ser utilizada para impor uma realidade difícil de reverter no futuro. 

Volcato explica que no contexto do ensino superior público, gratuito, de qualidade e socialmente referenciado a modalidade de EaD não deve ser descartada, mas deve ser considerada de maneira crítica e precisa ter como princípios básicos a inclusão, assim como a ampliação do acesso e das oportunidades. 

“Em propostas voltadas ao ensino público isso não é suficientemente resolvido, uma vez que essas propostas não conseguem superar aquilo que já há muito tempo é caracterizado por diversos autores como ‘Apartheid’ digital. O que seria a exclusão sistemática, geralmente por fatores de natureza econômica, de certos grupos sociais e mesmo regiões inteiras do nosso planeta do acesso ao mundo digital e os inegáveis benefícios que se derivam desse acesso”. 

O professor explica que essa já é uma realidade no mundo todo e, junto a outras medidas já postas, como as reformas trabalhista e previdenciária, a aprovação da terceirização ilimitada e o projeto da Carteira Verde e Amarela, a proposta de EaD, por mais desenvolvida que seja, não consegue contemplar todos e substituir o ensino dentro de uma sala de aula, que constitui-se como um espaço de diálogo e de construção, levando em conta a opinião e a realidade de cada aluno. 

O que preocupa o professor é como a EaD e o ensino remoto poderão ser inclusivos já que a maior parte dos estudantes tem acesso precarizado aos recursos da tecnologia. “É um risco e, caso seja implementado, vai ser implementado de uma maneira que não contemple a diversidade, não contemple a cultura regional, os interesses dos alunos e das próprias comunidades”.

Nesse sentido, o docente defende que é preciso refletir sobre o assunto e continuar discutindo dentro da Universidade. “Será que não deveríamos focar todos os nossos recursos humanos, técnicos e financeiros de modo a pensar, criar, desenvolver e implementar as atividades alternativas que auxiliem o conjunto da comunidade no enfrentamento à pandemia? Será que é hora de eu voltar para a minha atividade regular de ensino?”, questiona José Carlos.

Ele propõe que sejam debatidas alternativas ao ensino remoto dentro da UFPel, pois esse, conforme enfatiza, é um momento que exige cautela, e a tomada de decisões não pode retroceder o que já foi conquistado. “É preciso evitar medidas que precarizam o trabalho docente e de técnicos administrativos em educação, fragilizam os estudantes e principalmente não contemplam os estudantes mais vulneráveis.”

A live completa pode ser acessada em nossa página no Facebook ou em nosso canal no YouTube.

Próxima live

Entidades sindicais da educação de Pelotas, entre elas a ADUFPel-SSind, irão realizar uma live no dia 13 de maio (quarta-feira), às 18h, sobre o tema “Educação em disputa em tempos de pandemia: o que dizem as trabalhadoras e os trabalhadores”. 

Participarão Olinda Evangelista (UFSC), Maria Raquel Caetano (IFSul) e Marcos Kammer (SINPRO-RS), com a mediação de Débora Sinoti (SIMP). A transmissão ao vivo se dará pela página dos sindicatos (ADUCPel, ADUFPel, ASUFPel, CPERS, SIMP, SINASEFE, SINPRO-RS, SINTAE-RS) no Facebook. 


Assessoria ADUFPel



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