Encontro debate conjuntura e estratégias de mobilização docente no RS
O XII Encontro da Regional Rio Grande do Sul do ANDES-SN aconteceu emPelotas (RS) nos dias 10 e 11 de julho, com o tema ?Conjuntura e estratégias demobilização docente?. Durante os dois dias, participantes das seções sindicaisADUFPel, Aprofurg, SEDUFSM, Sesunipampa e Seção Sindical do ANDES na UFRGSdebateram o contexto de crise financeira, medidas de austeridade e retirada dedireitos dos trabalhadores, pensando em estratégias de organização quepossibilitem uma frente de luta contra o ataque à classe trabalhadora, à educaçãopública e à categoria docente. O encontro ocorreu na sede da ADUFPel.
Crise,austeridade e a universidade pública
A primeira mesa tratou de conjuntura e foi conduzida porPaulo Rizzo, presidente do ANDES-SN. O professor falou sobre as medidas deajuste fiscal aplicadas pelo governo federal, o caráter público dasuniversidades brasileiras, as ameaças a esta essência, e também sobre asmobilizações em defesa da educação pública.
Rizzo trata do ajuste como uma medida política que visa?garantir a lucratividade do capital, retirar direitos da classe trabalhadora,flexibilizar as relações de trabalho, reduzir os gastos públicos e precarizaras condições de trabalho de forma muito intensa?. O presidente do ANDES-SNacredita que a crise financeira é um momento muito perigoso, já que é utilizadapara fazer avançar projetos privatistas.
Sobre a universidade pública, o professor mencionou o fatode o Brasil é o único país da América Latina que ainda mantém o caráter públicodo ensino superior federal, mas essa essência vem sendo descumprida. Dandoexemplos da Colômbia e Argentina, onde os professores não têm estabilidade, edo Chile, onde hoje acontecem inúmeras manifestações que tentam reverter ocaráter mercantilizado do ensino, apontou que é preciso mobilizar-se para que auniversidade brasileira não percorra o mesmo caminho. "Já levantamos situaçõesde terceirizados trabalhando na Universidade Federal Fluminense [UFF] e na Universidade Federal do Pará [UFPA]. Geralmente, são contratados via fundação,sem férias e outros direitos", afirmou.
A greve, assim, não é só pelo salário, mas principalmenteem defesa do caráter público das instituições de ensino superior. Paulo Rizzoressaltou que o movimento grevista docente vem crescendo gradualmente. Quandose deflagrou a greve, eram 18 instituições. Hoje, são mais de 40. Ainda, amobilização estudantil e entrada de outras categorias em greve, como oSindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional eTecnológica (Sinasefe) e a Confederação dos Trabalhadores no Serviço PúblicoFederal (CONDSEF), permite pensar e articular uma unidade da luta.
"É uma crise profunda e vamos enfrentar as tentativas deimplantar essas medidas que ampliam a mercantilização".
Ajuste fiscal e precarização da carreira docente
A segunda mesa de debates do Encontro teve como tema?Ajuste fiscal e precarização do trabalho docente? e a participação do diretorda ADUFPel, Giovanni Frizzo e do professor Carlos Schmidt, representando aSeção Sindical do ANDES-SN na UFRGS. Schmidt abriu a mesa falando sobre a crisedo capitalismo; a história do capital; e fez uma breve análise sobre a crise naGrécia. O professor explicou que as medidas de austeridade do governo federalgeram sérias consequências para os trabalhadores brasileiros, como a redução damassa salarial e dos empregos. Ainda, afirmou que a crise no Brasil só não éigual a que se instalou na Grécia porque, aqui, dispomos de um grau maior deautonomia. Schmidt criticou a postura do governo brasileiro, que mantém a mesmaestrutura macroeconômica desde o governo do Fernando Henrique Cardoso. Sobre osistema tributário, elucidou: ?temos, no Brasil, um sistema tributário em queas pessoas que recebem até dois salários mínimos pagam 50% de imposto e as queganham acima de seis salários pagam 26%", destaca o professor. Comosolução para o ajuste fiscal apontou: ?é fundamental acabar com o regime demetas e inflação. Temos que fazer uma reforma fiscal?.
Frizzo destacou as consequências do ajuste e daprecarização do trabalho docente. Para ele, ?o governo retira os recursos dosetor público enquanto amplia os do setor privado e ataca os direitos dostrabalhadores?. Sobre as consequências de programas como o Prouni (ProgramaUniversidade para Todos), explicou que existe uma concepção que tem como objetivoacabar com as instâncias, com a retirada de departamentos dentro dasuniversidades. Sobre reestruturação da Carreira Docente, disse que a carreiraestá sendo vista como uma ?gincana?, na qual o professor tem a obrigação de serprodutivo e de se destacar para ?merecer? avançar. ?Estamos vivenciando umaprecarização enorme do trabalho docente. A demanda da universidade só aumenta,e, como resposta para resolver esse problema, o governo privatiza e terceirizao trabalho?.
Estratégiasde mobilização
A terceira mesa, que aconteceu durante a tarde do sábado(11), foi composta por representantes das seções sindicais dos docentes daFURG, UFGRS, UFPel, UFSM e Unipampa. Os professores Adriano Severo Figueiró, Carlos Alberto Gonçalvez, Dáfni Fernanda Zenedin Marchioro, Daniela Hoffman e Elmo Swoboda falaram sobre as especificidades e a mobilização docente em suasuniversidades. Após, pensaram conjuntamente estratégias de mobilização.
A comunicação foi apontada como um elemento essencial portodos os presentes, visto que uma parcela dos professores ainda não tem adimensão da crise da universidade pública. Ainda, o professor Carlos Alberto Gonçalves, da Seção Sindical do ANDES na UFGRS, apontou a questão do medo."Muitos professores têm medo de não ganhar nada. É preciso dizer que, se não lutarmos agora, além de não ganharmos nada, nós iremos perder", disse.
O fortalecimento dos meios de imprensa sindical, bem como aampliação do caráter informativo das assembleias foram pontos destacados comoestratégicos para o fortalecimento do movimento. Daniela Hoffman, membro dadiretoria da ADUFPel, afirmou a necessidade de continuar realizando trabalhos de conscientização. "Precisamos fazer entender que esse é o momento deresistência".
Outro ponto foi levantado pelo professor Carlos Schmidt Arturi, da Seção Sindical do ANDES na UFGRS, que propôs trabalhar mais com a Auditoria Cidadã da Dívida. Este grupo parceiro investiga fraudes da dívida pública e trabalhou no Equador, onde descobriram que cerca de 70% da dívida não existia, era fraude. Atualmente, investiga a dívida grega. "Temos que levantar essa polêmica. Para nós fica claro que a dívida e a questão fiscal são uma barreira", apontou Schmidt.
A presidente da ADUFPel, Celeste Pereira, ressaltou a importância do Encontro: "Neste momento de crise, reunir as seções sindicais do Rio Grande do Sul, trocar experiências e ideias, saber das dificuldades e avanços de cada uma, é estimulante! Nossos contextos são muito parecidos e nos fortalecemos com essa interação. A presença do Paulo também nos trouxe a energia do movimento nacional e a unidade dos servidores públicos federais".
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Assessoria ADUFPel
Foto: Assessoria ADUFPel