Estudantes da Odontologia estão paralisados
Falta de garantias na efetividade da esterilização é o principal
problema enfrentado na Faculdade
No dia de ontem (27), em
Assembleia, estudantes da Faculdade de Odontologia deliberaram por paralisação
das atividades clínicas e teóricas nos dias 28 e 29. As atividades teóricas
retornam na quinta-feira (30), enquanto as atividades clínicas ficam suspensas
até a resolução dos problemas da Central de Esterilização por completo e de
forma definitiva. A grande dificuldade enfrentada não só por estudantes, mas
também pelos técnico-administrativos e professores, é a precariedade dos procedimentos
de esterilização, essenciais para garantir a saúde dos discentes e usuários dos
serviços. “Temos 700 alunos e, fora eles, tem os alunos de pós graduação. Eu
preciso me dividir entre as máquinas que tenho, para atender às demandas de
todos”, afirma o técnico-administrativo José Francisco Seoane, que trabalha no
setor de esterilização. Seoane, na manhã de hoje, trabalhava sozinho: “Nós
éramos seis, dois em cada turno. Sempre um para receber o contaminado e um para
entregar o esterilizado. Mas com aposentadorias, e como a FAU demitiu
funcionários e não houve reposição de quadro, não tem servidor. Eu fiquei
sozinho nesse turno, atendendo o contaminado e entregando o esterilizado”,
afirma.
Outro problema no procedimento de
esterilização refere-se à tubulação dos equipamentos de autoclave. Cada máquina
deveria ter tubulação própria, mas isso não acontece. Ainda, o técnico deveria
aguardar 40 minutos após cada ciclo de funcionamento para, só depois, retirar
os equipamentos. Além disso, segundo a Resolução nº 15 da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, o monitoramento do processo de esterilização das
autoclaves deve ser feito em cada carga e a carga só deve ser liberada para a
utilização após leitura negativa do indicador biológico. Entretanto, a demanda
não permite que se tenha o tempo próprio de desligamento do equipamento. “Alguns
alunos terminam a aula às 12h30 e as 13h30 iniciam clínica novamente, com o
mesmo material”, diz Seoane. Para ele, um novo centro de esterilização deveria
ser construído, bem como o quadro de funcionários deveria ser dobrado para
atender efetivamente às demandas. Mas pondera: “imagina estrutura para montar
isso tudo dentro do serviço público com toda essa castração de verbas”.
A situação de falta de
investimento na Faculdade de Odontologia prejudica o ensino e a extensão para
os estudantes, professores e comunidade em geral, e oferece riscos. A
mobilização dos alunos, nesse sentido, busca uma resolução do problema, visando
proteger a saúde de todos os envolvidos. “Como faz um tempo que não se faz
testes biológicos para comprovar que a esterilização está funcionando, decidimos
parar para poder dar certeza ao paciente que nosso material está adequado”,
explica a estudante do 7º semestre , Caroline Pagani Martins.
Caroline afirma que, após
enviarem ofício para a diretora da Faculdade, Adriana Etges, foi respondido que
as medidas necessárias para a adequação da esterilização seriam tomadas em
médio e longo prazo. No período das férias de inverno, um aparelho de autoclave
que se encontra no térreo seria transportado para a sala da esterilização, no
segundo andar, no intuito de contribuir para sanar a demanda. O equipamento
pesa cerca de duas toneladas e necessita de uma adaptação hidráulica e de
estrutura de ar comprimido para funcionamento. Entretanto, os cerca de três
meses de espera afetam gravemente as atividades da comunidade acadêmica e da
comunidade pelotense que busca os serviços odontológicos na Faculdade. Por
isso, a estudante afirma que estão paralisando para que as medidas sejam
imediatas.
Na Faculdade de Odontologia,
ainda, existem dificuldades de estrutura (como encanamentos velhos, péssimas
condições dos equipamentos odontológicos de atendimento e infiltrações na
alvenaria do prédio) e de falta de materiais básicos. Os problemas são
recorrentes e estão na pauta da paralisação, embora a esterilização seja a
principal.
De acordo com a diretora Adriana,
a Faculdade de Odontologia enfrenta esses problemas há muitos anos. “Quem
acompanha a história sabe que temos sérios problemas há muito tempo. O que
acontece é que a Faculdade de Odontologia deve ser vista com um outro olhar
porque aqui somos uma casa de ensino, composta por professores alunos,
técnicos, docentes, mas além disso temos a função de casa de saúde que nos traz
toda uma carga que, talvez, as outras unidades não tenham”, explica. Para ela a
estrutura, por ser muito grande, necessita de constante manutenção e a verba
destinada é praticamente toda utilizada para compra de materiais de consumo
como resina, massas, clareador. Uma série de materiais que são utilizados na
clínica. “Queremos que a Universidade entenda a Faculdade de Odontologia de uma
forma diferente”, afirma Adriana.
Segundo Adriana, outro problema
enfrentado pela Faculdade é a falta de funcionários que foram extintos do
quadro da Universidade, como almoxarife e lavadeira, cuja tarefa é realizada
hoje por terceirizados da limpeza. Ainda falou que não há um treinamento
específico para os funcionários terceirizados trabalharem com a limpeza da
clínica. “Eles fazem um esforço muito grande, mas não têm treinamento. O ideal
seria um contrato específico de funcionários especializados”, destacou.
Adriana fala que a grade curricular é outro problema enfrentado. “A Odontologia tem uma grade de horas muito cheia. O Núcleo Docente Estruturante (NDE) e o Colegiado de Curso estão fazendo a reforma do currículo para que haja mais espaço para os alunos estudarem ao invés de estarem clinicando constantemente. Esse currículo inchado causa uma falta de espaço entre uma clínica e outra para que a gente faça uma boa limpeza, pois tudo é feito de uma forma muito corrida.”
A Diretoria da ADUFPel - Seção
Sindical do ANDES-SN manifesta solidariedade e apoio à mobilização dos
estudantes e do Centro Acadêmico do Curso de Odontologia da Faculdade de
Odontologia da Universidade Federal de Pelotas em prol de melhores condições de
Trabalho, Ensino/Aprendizagem e Atendimento à população.
Leia a moção de apoio completa
aqui.
Veja mais fotos na galeria: http://goo.gl/JP8oFR
Assessoria ADUFPel