Governo desconsidera realidade brasileira ao autorizar isolamento vertical durante a pandemia
A pandemia do novo Coronavírus se espalhou pelo mundo e colocou a população mundial em uma situação incomum: em isolamento social. Neste momento, seguir a recomendação de ficar em casa é fundamental para conter o avanço da Covid-19 tanto quanto manter a higiene das mãos. Porém, a taxa de isolamento tem diminuído em todos os estados e, além disso, o governo autorizou o afrouxamento das medidas e adoção do isolamento vertical, modelo criticado por especialistas.
As recomendações de isolamento social do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde para conter o avanço do Coronavírus vêm sendo desrespeitadas pelos brasileiros, que estão saindo mais de casa desde o final de março, segundo levantamento da empresa de tecnologia “In Loco”. Outra pesquisa, realizada pelo instituto de pesquisa Ipsos, apontou que 56% da população brasileira acredita que o isolamento social não vai impedir o alastramento do Coronavírus pelo país.
Enquanto isso, o presidente da República, Jair Bolsonaro, ignora o fato de que o Brasil ocupa o 14º lugar no ranking de infectados e de que a taxa de letalidade subiu para 4,9% nos últimos dias. E, continua a criticar o isolamento social como medida de contenção, ignorando os resultados que teve em outros países como a Itália e a Espanha.
Medidas do governo contra o isolamento colocam país em risco
Jair Bolsonaro age de forma irresponsável e, inclusive, atribuiu recentemente o aumento do desemprego ao isolamento social, desconsiderando que tem aumentado no Brasil desde antes da pandemia. Além disso, tem apoiado carreatas que pedem a reabertura do comércio.
A mais recente medida do governo, que coloca em risco a população brasileira, é a autorização de isolamento vertical para estados menos afetados pelo Coronavírus. A decisão foi anunciada pelo Ministério da Saúde e começa a valer a partir desta segunda-feira (13).
Isso significa que os municípios e estados que não tiveram ultrapassado o percentual de 50% de ocupação dos serviços de saúde, poderão iniciar uma transição para o formato de isolamento vertical, onde apenas os grupos de risco ficam em quarentena. O objetivo, conforme explica o Ministério, é promover o retorno gradual da circulação de pessoas.
No entanto, o modelo é criticado por especialistas que afirmam que as características do Brasil não permitem esse tipo de isolamento. Segundo o docente Inácio Crochemore da Silva, mestre e doutor em Epidemiologia pela UFPel, não há evidências sobre a efetividade desse formato.
“Em países como o nosso, onde as condições de vida são precárias para a grande parte da população, o isolamento vertical não é nem mesmo possível. Os idosos, por exemplos, coabitam, dividem cômodos, muitas vezes, com outras pessoas que estariam vivendo normalmente nas ruas e em condições normais de transmissibilidade da doença. Nesse momento, me parece uma proposta de quem ou não conhece o povo e as condições de vida dele ou de quem não coloca a vida em primeiro lugar”, destaca o docente.
Resultados positivos do isolamento
Segundo o professor, a importância do isolamento social está relacionada com a capacidade dos serviços de saúde públicos e privados para atender a demanda. “Com o distanciamento social, a velocidade da transmissão do vírus é reduzida, fazendo com que o número de casos na população seja distribuído ao longo do tempo. O distanciamento social é a medida que tem maior potencial de salvar vidas”.
Para o epidemiologista, o isolamento social horizontal, no qual não há seleção de grupos, já tem sido efetivo em diversos lugares do mundo. “Na prática, o distanciamento social tem oferecido aos municípios um período de extrema importância para a organização dos serviços e aumento das suas capacidades de entendimento. A atenção básica precisa de um tempo para organizar os seus processos, precisa de tempo para a chegada de materiais e outras estruturas para atender a população e esse tempo é extremamente necessário para aumentar a capacidade hospitalar, o número de leitos clínicos e UTIs”, explica.
O docente ainda alerta que no caso de ausência ou relaxamento das medidas de distanciamento no contexto atual, seria esperado um aumento expressivo no número de casos, que fariam com que o sistema entrasse em colapso - uma demanda maior que o sistema suporta. O desrespeito a essas medidas de prevenção ocasionaram, também, conforme aponta, a ampliação da severidade da Covid-19 em pessoas que não integram os grupos de risco, pois não teriam acesso ao tratamento adequado.
Por conta disso, ele ressalta a necessidade de retardar o máximo possível o aumento do número de infectados, pois o serviço de saúde ainda não está pronto para a demanda potencial da pandemia em caso de encerramento das medidas preventivas como o distanciamento social.
Assessoria ADUFPel
Com informações de BBC e G1
Foto: Carolina Antunes/PR