Grupos mistos do Congresso homenageiam lutadores
O
38º Congresso do ANDES-SN tem uma novidade. Os grupos mistos, que ocorrem na terça (29) e quarta (30), estão homenageando
lutadores sociais assassinados em 2018. As expressões de respeito, junto a
pequenas biografias, estão expostas nas portas de cada um dos treze grupos.
Na terça tiveram lugar
os grupos mistos do Tema 2 – Plano Geral de Lutas. Os grupos visam aprofundar
as discussões sobre os Textos de Resolução (TRs) permitindo um diálogo com a
base da categoria, e preparando os debates das plenárias que virão.
A ideia de homenagear
lutadores surgiu na comissão organizadora do 38º Congresso. Eblin Farage,
secretária-geral do ANDES-SN e membro da comissão, explica que a intenção foi
dar visibilidade às pessoas assassinadas nesse último período. “Na nossa
avaliação, são assassinatos gerados por formas de ódio e por essa onda da
extrema direita. Pensamos que era uma maneira de politizar o espaço e
homenagear e lembrar esses militantes”, comenta.
A escolha foi feita a
partir de um levantamento entre os militantes assassinados em 2018. “Buscamos
não só os casos conhecidos, como o de Marielle e de Mestre Moa. Mas também de
lideranças indígenas e sem-terra, cujos assassinatos não tiveram tanta
visibilidade, mas que são crimes também produzidos pela extrema direita”,
afirma Eblin Farage.
Confira os lutadores
homenageados:
Raphaela Souza – era estudante
de serviço social e cabeleireira. Atuava no Conselho Estadual dos Direitos da
População de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (CELGBT) e era
representante do Grupo Social Coletivo Finas de Travestis e Transexuais. Ela
foi assassinada com três tiros na cabeça, em novembro de 2018, em Vitória da
Conquista, sudoeste da Bahia.
Moa do Katendê - considerado um
dos maiores mestres de capoeira de Angola da Bahia, começou a praticar capoeira
aos oito anos de idade, no terreiro de sua tia, o Ilê Axé Omin Bain. Premiado e
reconhecido internacionalmente, defendia um processo de “reafricanização” da
juventude baiana e do carnaval. Foi assassinado com doze facadas pelas costas
após o primeiro turno das eleições de 2018. Segundo testemunhas e a investigação
policial, o ataque foi motivado por discussões políticas, após Moa declarar ter votado em
Fernando Haddad.
Marquinhos Tigresa - um dos
principais líderes do movimento LGBT baiano, Marcos Cruz Santana, 40 anos, o
Marquinhos Tigresa, foi morto esquartejado na madrugada do dia 18 de agosto de 2018, no
município de Itororó, no sudoeste do estado. Além da genitália dilacerada,
Marcos tinha vários sinais de golpes de faca no pescoço.
Cacique Jorginho
Guajajara - era defensor
ambiental indígena na Amazônia maranhense, assassinado em uma das regiões mais
ameaçadas da floresta amazônica brasileira, no mês de agosto de 2018.
Matheusa Passarelli - estudante de
artes de Uerj e militante LGBTI, assassinada em abril de 2018. A estudante foi
morta - e provavelmente queimada - após ir a festa em uma favela carioca, em
mais um crime de LGBTfobia no Brasil.
Marielle Franco – era vereadora
pelo PSOL na cidade do Rio de Janeiro. A socióloga, ativista dos movimentos feminista e
negro, foi executada no centro da capital fluminense. Marielle, a quarta vereadora
mais votada na cidade, atuava na comunidade da Maré, onde morava, e, na semana
anterior a sua morte, denunciou a violência e os abusos policiais no bairro de
Acari. Anderson Gomes, seu motorista, também foi assassinado na ocasião.
Paulo Sérgio Almeida
Nascimento -
líder comunitário no Pará, assassinado em março de 2018. Nascimento era um dos
líderes da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia
(Cainquiama). Segundo a Polícia Civil, ele foi alvejado por disparos do lado de
fora de casa, na cidade de Barcarena. Nascimento era atuante nas denúncias
contra a refinaria Hydro Alunorte, responsável pelo vazamento de dejetos
tóxicos nas águas da região.
George de Andrade Lima
Rodrigues - líder
comunitário em Recife, assassinado em fevereiro de 2018. Rodrigues foi
encontrado com marcas de tiros e um arame enrolado no pescoço, após três dias
de buscas. O corpo dele foi achado em um matagal às margens de uma estrada de
terra. Ele havia sido sequestrado por quatro homens que se diziam policiais.
Carlos Antônio dos
Santos, o “Carlão” -
líder comunitário no Mato Grosso, assassinado em fevereiro de 2018. Carlão era
um dos líderes do Assentamento PDS Rio Jatobá, em Paranatinga, e foi morto a
tiros, por homens em uma motocicleta, em frente à prefeitura da cidade. Ele
estava dentro de um automóvel com a filha e a esposa, que chegou a ser atingida
de raspão. Carlão já havia feito várias denúncias à polícia de que estava sendo
ameaçado.
Leandro Altenir Ribeiro
Riba - líder comunitário
de Porto Alegre (RS), assassinado em janeiro de 2018. Ribas era líder
comunitário na Vila São Luís, ocupação da zona norte da capital gaúcha. Ele
havia deixado de dormir em casa desde alguns dias antes por conta da guerra
entre traficantes da região. No dia em que foi assassinado, voltou à vila para
pegar roupas, mas acabou morto. A polícia suspeita que Ribas tenha sido
executado pelos criminosos ao se apresentar como líder da comunidade e
questionar as ações do grupo.
Márcio Oliveira Matos - liderança do
MST na Bahia, assassinado em janeiro de 2018. Matos era um dos integrantes mais
novos da direção do movimento e morava no Assentamento Boa Sorte. Aos 33 anos,
foi morto em casa, com três tiros, na frente de seu filho.
Valdemir Resplandes - líder do MST no
Pará, assassinado em janeiro de 2018. Conhecido como 'Muleta', Resplandes foi
executado na cidade de Anapu, no Pará. Ele conduzia uma moto e foi parado por
dois homens. Um deles atirou pelas costas; já no chão, o ativista foi alvejado
na cabeça. A missionária norte-americana Dorothy Stang foi assassinada na mesma
cidade, em 2005.
Marcondes Nambla - líder indígena da etnia Xokleng, assassinado em janeiro de 2018. Professor e líder comunitário, o indígena Xokleng, Marcondes Nambla, 36, era formado no curso Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Lecionava na Terra Indígena Laklãnõ, em José Boiteux, no Vale do Itajaí a 161 km de Penha. Foi brutalmente espancado a pauladas no município de Penha, litoral de Santa Catarina. Depois de dois dias internado, Namblá não resistiu aos ferimentos e morreu.
Fonte:
ANDES-SN
Foto: Assessoria ADUFPel