Live debate educação e luta durante pandemia de Covid-19
Entidades sindicais da educação de Pelotas realizaram, na noite de quarta-feira (3), mais uma live conjunta no Facebook. O debate teve como tema "Trabalhadores e trabalhadoras em Educação precisam ter voz: são nossas vidas!"
Participaram Ângela Moreira Vitória, professora de Medicina da UFPel e diretora da ADUFPel, e Cristine Jaques Ribeiro, docente de Serviço Social da UCPel. A mediação foi de Celeste Pereira, presidente da ADUFPel. Organizaram o debate ADUCPel, ADUFPel, ASUFPel, CPERS, SIMP, SINASEFE, SINPRO-RS e SINTAE-RS.
A primeira intervenção foi de Ângela. A docente da UFPel, que é médica de família em comunidade, mestre em epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutoranda em saúde coletiva na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), focou sua fala em qual é o papel do trabalhador da educação em meio à pandemia de Coronavírus (Covid-19), citando também especificidades do trabalho de educação em saúde.
“O que é preciso ensinar e aprender para enfrentar a pandemia?”, questionou. Para Ângela, há dois elementos centrais para tentar combater o vírus. O primeiro, de mais fácil realização, é eliminá-lo nas superfícies, usando álcool 70% ou água sanitária dissolvida em água. O mais difícil, porém, especialmente levando em conta a realidade social de grande parte da população brasileira, é manter o isolamento e o distanciamento social.
A mudança de comportamento necessária para isso é diferente em cada localidade, em cada domicílio. É necessário mudar as formas de trabalho, de ficar em casa, de se deslocar, levando em conta a realidade da parcela mais pobre da população brasileira.
“Por que isso é difícil? Há lugares diversos, domicílios diversos. O tipo de orientação e plano de como cuidar o domicílio tem que ser feito individualmente, para cada domicílio, cada território. Para isso são necessários muitos trabalhadores da educação”, citou Ângela.
A docente da UFPel acredita que é o momento de discutir o que se quer de políticas públicas para educação e saúde. E do que é importante ensinar agora, durante a pandemia. Para ela, é justamente como enfrentar a pandemia. “Pensar em usar uma dinâmica nova, como o EAD ou ensino remoto, para trabalhar outros conteúdos que não o enfrentamento da pandemia é deseducar. Nos dedicar a isso não é educativo”, concluiu Ângela Moreira Vitória.
Pandemia explicita e aprofunda a desigualdade
Em seguida, falou Cristine Jaques Ribeiro, docente de Serviço Social da UCPel. Para ela, é necessário problematizar as condições de vida do período pandêmico, que ressalta as enormes desigualdades sociais do país.
“Há condições desiguais de existência. O tipo de projeto de sociedade não corresponde à realidade de quem habita os territórios”, comentou, citando o conceito de necropolítica - a política da morte - do camaronês Achille Mbembe.
Segundo a docente, em meio ao neoliberalismo, a pandemia acentua e expressa mais a desigualdade e reforça a violação de direitos sociais e humanos, quando deveriam ser protegidos. Um exemplo disso é a manutenção dos processos de remoção e despejo, que não deveriam ocorrer nesse período.
O momento político - de fascismo, racismo, LGBTfobia e segregação territorial acontecendo de forma acelerada - rebate, de acordo com Cristine, nos trabalhadores da educação.
“Muitas famílias em Pelotas não tem saneamento básico, água potável, moradia, alimentação nutricional adequada. Como garantir higiene? Acelera-se a criminalização da pobreza, especialmente da população negra e de mulheres”, criticou. Para a docente da UCPel, só é possível enfrentar a desigualdade e a violência com processos coletivos.
Ao mesmo tempo em que há violação de direitos, existe a preocupação de pensar o direito à cidade para todos, colocada pela sociedade civil organizada. “A pandemia é responsabilidade da sociedade. Nem todo mundo está na mesma condição de proteção e o responsável por isso é o Estado. O maior desafio é evidenciar que na pandemia as condições de existir são desiguais e exigir do Estado respostas a isso”, concluiu, ressaltando a necessidade de debater políticas distributivas.
Primeira Live
Clique aqui para saber como foi a primeira live das entidades, que abordou a educação em disputa em tempos de pandemia e o que dizem os trabalhadores e as trabalhadoras.
Assessoria ADUFPel