Por corte de recursos, UFRGS suspende pagamento de auxílio material a estudantes
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Estudantes dizem que medida irá dificultar a permanência de estudantes de baixa renda na universidade | Foto: Guilherme Santos/Sul21
No dia 10 de abril, a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) encaminhou um e-mail para
estudantes informando que o pagamento do Auxílio Material de Ensino (AME)
estava sendo suspenso temporariamente em razão do decreto do governo de Jair
Bolsonaro (PSL), que contingenciou 30% dos recursos repassados pelo Ministério
da Educação (MEC) à universidade. De acordo com a UFRGS, caso o corte de
recursos não seja revertido, os pagamentos não serão retomados em 2019.
O AME é um
auxílio financeiro no valor de R$ 180 por semestre — uma parcela é paga no
início do ano e outra na metade — destinado a ajudar alunos que ingressaram por
cotas de baixa-renda a pagar parte das despesas com material de ensino. “Se não
houver descontingenciamento, ele não será pago esse ano. Pois, como está
previsto no nosso edital, ‘o pagamento dos benefícios dependerá da
disponibilidade de recursos no exercício orçamentário vigente, bem como, dos
prazos necessários aos procedimentos de confecção das folhas e dos processos de
pagamento'”, disse a universidade em nota.
O decreto
9.741, publicado no Diário Oficial da União em 29 de março, determinou o corte
de R$ 5,839 bilhões nas verbas de custeio e investimentos das universidades
públicas brasileiras, isto é, nos valores que não usados para o pagamento de
pessoal. O valor é cerca de 25% do total da verba prevista para 2019, que já
havia sido fortemente
O AME é uma das
sete modalidades de auxílios e bolsas disponibilizados pela PRAE. Segundo a
UFRGS, as demais modalidades só serão afetadas em caso de novos
contingenciamentos. Contudo, em março, a pró-reitoria havia informado os
estudantes sobre o atraso no pagamento de auxílio-transporte, auxílio-creche e
da Bolsa Promisaes, esta última voltada para estudantes estrangeiros que cursam
graduação na universidade.
Cilas Machado,
estudante do curso de Administração Pública e Social da UFRGS e integrante dos
movimentos Juntos e Balanta, lamenta que a universidade esteja perdendo “o
pouco” que conseguia garantir de assistência voltada para a permanência de
estudantes de baixa renda no ensino superior.
“Eu estava
conversando com uma amiga na semana passada e ela estava perguntando se a
universidade dispõe de algum recurso para cópias para os estudantes, porque a
gente gasta muito com xerox. Mas a gente não gasta só com xerox. Tu pega um
curso como Odontologia, por exemplo, que gasta muito com ‘ene’ tipos de
materiais. Tu pega um curso como Arquitetura, que também gasta com outros tipos
de materiais. A gente tirar um valor que era pouco já e não repassar nada para
o estudante é muito ruim”, diz Cilas, que recebia o auxílio em semestres
anteriores.
O estudante
destaca que o movimento estudantil compreende que os contingenciamentos
impostos à UFRGS fazem parte de uma política de ataques dos últimos governos
federais às universidades públicas, mas diz que também é preciso debater a
transparência sobre as contas da instituição e porque de os cortes atingirem a
assistência estudantil.
“Temos que
discutir onde está sendo cortado, por que está sendo cortado? Porque é sempre,
infelizmente, no lado mais fraco que as reitorias tendem a cortar. É no lado do
estudante mais precário, que tem mais necessidade de ter um auxílio para ir
cursar, que a universidade escolhe contingenciar, fazer os cortes de verbas. A
gente não vê como razoável que esses cortes sejam colocados naqueles estudantes
que já têm dificuldade de frequentar a universidade e que sem esse auxílio essa
situação só vai se agravar. É um sonho de jovens que está em jogo e que podem,
daqui a alguns dias, parar de ir à universidade porque não têm mais condições
de se manter nela”, diz.
Em nota
divulgada no dia 11 de abril, o Diretório Central dos Estudantes da UFRGS (DCE)
também lamentou o corte. “A assistência estudantil é o real garantidor das
ações afirmativas e do início da popularização do ensino público. Têm papel
crucial não só em mudar a vida de milhares de brasileiros que tiveram acesso ao
ensino superior por causa de tais políticas, mas também para o próprio
desenvolvimento nacional, uma vez que uma pluralidade na pesquisa só é possível
a partir do confronto de ideias de pessoas de realidades diferentes. Cortar
esses recursos é atacar diretamente o conjunto de estudantes que vive uma
situação de vulnerabilidade, colocando em risco a permanência na Universidade”,
diz nota do DCE.
Fonte:
Sul 21, por Luís Eduardo Gomes