Projeto de Moro pode aumentar letalidade policial
Na segunda-feira (4), o ministro da Justiça e Segurança Pública,
Sérgio Moro, apresentou um pacote contra a corrupção e contra o crime. Entre as
medidas estão as que alteram os artigos 25 e 23 do Código Penal, que tratam de situações em que a legítima defesa se aplica e sobre a responsabilidade de agentes policiais em casos de mortes de suspeitos, respectivamente. Para
especialistas em segurança pública, as propostas podem aumentar a letalidade de
forças policiais.
Atualmente, o artigo 25 do
Código Penal sustenta: “entende-se em legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou
iminente, a direito seu ou de outrem”. O projeto de Moro acrescenta: “o agente
policial ou de segurança pública que, em conflito armado ou em risco iminente
de conflito armado, previne injusta e iminente agressão a direito seu ou de
outrem”.
O texto apresentado por
Moro também propõe mudanças no artigo 23 do Código Penal, que trata da exclusão
de ilicitude. Pela proposta apresentada: “não há crime quando o agente pratica
o fato: em estado de necessidade; em legítima defesa; em estrito cumprimento do
dever legal ou no exercício regular de direito”.
Atualmente, a legislação
impõe que “o agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo
excesso doloso ou culposo”. Pela proposta de Moro, um policial que cometa um
assassinato no exercício de sua função poderá ter a pena reduzida à metade ou
não ser condenado, se o juiz entender que o crime foi cometido diante de
“escusável medo, surpresa ou violenta emoção”.
Especialista em Segurança Pública afirmam que as medidas
aumentarão a letalidade de forças policiais, autorizando a execução sumária.
Em 2017, cerca de 5 mil
pessoas foram mortas por forças policiais no Brasil. Foram 790 casos a mais em
relação a 2016, segundo levantamento feito pelo portal G1. O número de vítimas
em ações policiais cresceu 19% em um ano, aponta o levantamento realizado em
2018, com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal.
Nas mais de 61 mil mortes
violentas ocorridas em 2016 no Brasil, a maioria das vítimas eram homens (92%),
negros (74,5%) e jovens (53% entre 15 e 29 anos). Os dados são do Atlas da
Violência 2017, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Na contramão do projeto
apresentado por Moro, o Projeto de Lei (PL) 4.471/2012, que busca que os “autos
de resistência” sejam investigados, está parado para votação na Câmara. Os
autos, criados na ditadura empresarial-militar, são mecanismos utilizados por
policiais para evitar a investigação de crimes por eles cometidos.
Fonte: CSP-Conlutas/ Blog do Sakamoto
Edição de ANDES-SN. Imagem de CSP-Conlutas.