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Projeto desenvolvido na UFPel leva terceirizadas/os da limpeza de volta à sala de aula

No Brasil, 35% das pessoas em idade de trabalhar não concluíram o ensino fundamental, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Diversos são os fatores que contribuem para o abandono escolar no país e dificultam a inserção no mercado de trabalho. Entre os principais estão baixa renda, raça e gênero. A condição socioeconômica, geralmente medida por índices de renda familiar e escolaridade dos pais, pode incidir significativamente sobre o desempenho e comportamento do estudante.


Na UFPel, dos/as cerca de 160 trabalhadoras/es terceirizadas/os que realizam o serviço de limpeza, mais de 50% não possuem ensino fundamental completo. Porém, a possibilidade de retornar aos estudos tornou-se uma realidade nos últimos meses. Ao constatar a situação precarizada das/os trabalhadoras/os da limpeza da Universidade, constituídos em sua maioria por mulheres, um grupo de seis servidoras (uma docente e cinco Técnica-Administrativas em Educação) e duas discentes decidiu criar um projeto que pudesse fortalecer o sentimento de pertencimento dessas/os funcionárias/os e instrumentalizá-las/os para o Exame Nacional para Certificação de Jovens e Adultos (Encceja). 


Segundo a servidora técnica-administrativa, Rogéria Garcia, uma das coordenadoras do “Peleja - Projeto de Extensão de Educação de Jovens e Adultos Trabalhadores Terceirizados da UFPel”, ele foi pensado a partir de algumas demandas percebidas pelo coletivo auto-organizado de servidoras da instituição. E o que impulsionou a sua realização foi a necessidade de possibilitar acesso ao que se produz dentro da Universidade.


“Era um incômodo muito grande nosso e a gente começou a dialogar em relação a isso, dessa percepção que a gente tinha em relação principalmente a essas mulheres. Nós temos trabalhadores homens também no curso, mas a grande maioria de mulheres que não tinham acesso ao que se produz na Universidade, embora sejam fundamentais para a manutenção da Universidade, da construção do conhecimento”, explica Rogéria. 


Pertencimento 

Estimular o sentimento de pertencimento é um dos principais pontos do projeto. Conforme contam as coordenadoras, muitas/os terceirizadas/os não se sentiam parte da Universidade, muito menos conheciam como a instituição funciona e como chegar até ela. “A gente se reuniu enquanto grupo de servidoras da UFPel, e a gente tinha uma preocupação em inserir elas [terceirizadas] nos nosso meio, porque não sentem parte, não se identificam como trabalhadoras da UFPel. Elas vêm aqui, fazem o trabalho delas e vão embora”, destaca Adriana Gomes, também coordenadora. 


A professora do Instituto de Ciências Humanas (ICH) da UFPel, Alessandra Gasparotto, única docente que integra a coordenação do Peleja, avalia que o projeto busca exercer a função social da Universidade, que é proporcionar que o acesso à educação seja universal. Segundo ela, o objetivo é “justamente conseguir garantir oportunidades de acesso à educação, à formação para pessoas que trabalham na Universidade, que é o espaço do conhecimento, e que, muitas vezes, por diferentes circunstâncias da vida, não puderam ter acesso à educação formal”. 


Para a coordenadora Sara Munaretto, neste momento de guerra contra a educação pública, contra o trabalhador e a trabalhadora e de retirada de direitos, o Peleja atenta também para questões mais coletivas e políticas: “o projeto tem uma preocupação de uma dimensão política. Além disso, tem a questão de criar um espaço onde esse desejo de estudar, de ter uma outra possibilidade na vida, esse desejo individual aconteça”, afirma. 


Como funciona?

O Peleja, construído juntamente ao NUGEST (Núcleo de Gestão de Serviços Terceirizados) e a SUINFRA/UFPel, oferta aulas para terceirizados/as da limpeza da UFPel. De junho a agosto, 30 trabalhadores/as participaram das aulas preparatórias para o Encceja, todas as quartas-feiras, das 14h às 16h. Foram abordados conteúdos de diferentes áreas do conhecimento, solicitados pelo Exame: matemática, ciências, história, geografia, português e redação. 


Ontem (21), ocorreu a última aula antes da prova, que acontece neste final de semana. No entanto, o projeto não irá parar e, na próxima semana retorna voltado ao tema “Educação e Trabalho”. Durante todo o segundo semestre, acontecerão aulas sobre demandas apresentadas pela turma, como educação, direito previdenciário, direito do trabalho, informática e até mesmo sobre o que significa ser um trabalhador terceirizado. 


Por enquanto, o Peleja é destinado apenas a terceirizadas/os da limpeza, que, segundo as coordenadoras, encontram-se em maior precariedade de formação, possuem uma demanda maior de trabalho e realizam dupla jornada. A intenção, para o futuro, é abarcar outros/as trabalhadores/as. Todas/os as/os participantes são liberadas/os do trabalho durante o horário das aulas.


Projeto cresce 

A professora Alessandra Gasparotto conta que já havia realizado um projeto parecido em 2017,  junto ao diretor do Instituto na época, Sidney Vieira. Um grupo menor, com 16 terceirizadas/os participaram das atividades, mas uma série de dificuldades fez com que o projeto não seguisse adiante. Nesse período, não havia acordo entre a UFPel e a empresa responsável para liberação dos/as funcionários/as em horário de trabalho.


”A gente pensou em fazer o projeto esse ano com o fôlego maior, garantindo do espaço semanais de formação. Então, aquele projeto-piloto foi uma primeira experiência e hoje a gente consegue acesso a um público bem maior porque da outra vez a gente fez só no ICH e entorno. Hoje a gente consegue acessar trabalhadores e trabalhadoras de diferentes unidades da universidade”, afirma Alessandra. 


A ideia inicial era, também, realizar algumas aulas no Campus Capão do Leão. Foram feitos três encontros no local - auxílio para inscrição, uma aula preparatória de redação e uma aula de dica gerais sobre a prova -, porém faltaram condições para oferecer aulas semanais, conforme explica a docente. 


Estímulo para mudar de vida 

Rogéria Garcia ressalta que, ao longo do processo, o projeto proporcionou a criação de uma identidade, de uma coletividade entre os/as alunos/as e de se perceberem no processo acadêmico. Além disso, motivou alguns deles “a repensar as suas vidas nessa perspectiva de continuar estudando, de procurar outras atividades para fazer”, aponta. A servidora conta que um dos funcionários que participam do curso voltou a estudar à noite na rede regular de ensino do EJA. 


Gleice Beatriz Costa (de moletom vermelho na foto ao lado), 48 anos, é uma dessas pessoas que demonstram que nunca é tarde para voltar para a sala de aula. A funcionária terceirizada estudou apenas até a sexta série e busca mudar de vida a partir do Peleja. Ela revela que sempre teve vontade de retomar os estudos, mas pensava que “era uma perda de tempo” por ter seis filhos para cuidar. No entanto, foi estimulada pelos filhos a participar do projeto para realizar o seu sonho: cursar Enfermagem. 


Sobre o projeto, comenta: “Eu achei muito importante, tão bonito eles darem oportunidade para a gente. A gente trabalha na faculdade, passa nos corredores e vê as salas cheias, e depois tu estar ali estudando é muito legal. A gente se sente mais humana. É uma sensação boa de que a gente também tem direito de ser alguém, de ter uma profissão”. 


A funcionária também destaca que se vê como exemplo para os filhos. As duas filhas mais novas de Gleice, de 9 e 16 anos, já pensam em tomar outro rumo na vida e cursar uma faculdade, diferentemente de seus irmãos. A menina de 9 anos gosta de estudar e pretende ser bióloga, enquanto a outra quer ser inspetora de polícia. Elas ajudam a mãe nos estudos e a estimulam: “Elas ficam bem felizes de eu estar estudando, de estar pensando em fazer o que eu gosto. Estão sempre mandando eu continuar”. 



Assessoria ADUFPel

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