Salários e estabilidade “podem ser revistos”, diz Weintraub
Depois dos cortes de 30% no orçamento das universidades e institutos
federais, outros ataques podem recair diretamente sobre docentes e
técnico-administrativos, entre eles o corte salarial e a demissão de servidores
públicos. A hipótese foi colocada na mesa pelo ministro da Educação, Abraham
Weintraub, na Comissão Especial de Educação da Câmara, na manhã de quarta-feira
(22).
Convidado, Weintraub buscou apresentar um diagnóstico da educação no
Brasil. Insistindo na palavra “contingenciamento”, ele disse que ninguém foi
mandado embora das universidades e que “o professor está recebendo salário
pontualmente”. Weintraub disse que salários e aposentadorias compõem uma fatia
do orçamento que não pode ser “contingenciada”.
A argumentação do ministro é que “o Brasil está no limite da insolvência fiscal”. Segundo disse, se a reforma da Previdência não for aprovada “pactos consagrados terão que ser revistos”, reforçando a chantagem que já tinha feito antes. Ele afirmou que o “gasto com pessoal” no ensino superior aumentou muito nos últimos anos, o que “engessou toda estratégia de educação no Brasil”. Ele destacou a situação dos servidores do estado do Rio Grande do Sul e de países como Grécia e Irlanda.
Disputa de narrativas
Tentando relativizar o caos que o governo Bolsonaro tem se tornado, o
ministro disse que estaríamos vivendo uma disputa de narrativas. Um dos
exemplos, segundo afirmou, é que os problemas das universidades só começariam
em setembro, e que os Institutos Federais de Ensino estariam funcionando
plenamente.
O ministro foi rebatido por parlamentares, que destacaram que os cortes
já inviabilizam pesquisas e o funcionamento das várias universidades. Inclusive
os hospitais universitários, muito atingidos pelos cortes, segundo Weintraub,
estão funcionando normalmente.
Sobre a nomeação de reitores, o ministro disse que cumprirá estritamente
a lei e retomou uma afirmação que já havia dito em outra ocasião: as
universidades são autônomas, mas não são soberanas. Em seguida, disse ser
favorável que forças policiais entrem nos campi.
Para Antonio Gonçalves, presidente do ANDES-SN, a cada fala do ministro da Educação revela-se o projeto educacional do atual governo federal. “É um projeto que vai além dos cortes orçamentários, mas que visa atacar a autonomia das IES e os servidores públicos”, afirmou. “O 15M foi uma grande demonstração da nossa capacidade de organização e reação. Agora precisamos avançar na construção do 30M e da Greve Geral em 14 de junho”, reforçou.