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Sarau envolve mulheres no debate feminista

Na tarde de sábado (12), em Pelotas (RS), aconteceu o sarau feminista proposto pelo grupo “Mulheres em defesa da vida – 8 de março é dia de luta!”, do qual a ADUFPel-SSind é uma das entidades organizadoras. Durante o evento, que ocorreu na Praça Coronel Pedro Osório, houve roda de conversa, oficina de stencil, varal de poesia e outras atividades.

A atividade teve início com a fala de Franciele Garcia, que convidou as e os presentes a participarem do evento: “o microfone estará sempre aberto, quando se sentirem à vontade podem pegar uma poesia, trazer aqui, fazer uma leitura e contribuir para esse espaço, que é feito para nós”. Garcia, que é estudante de Teatro na UFPel e militante do Alicerce, também recitou a poesia “Uma ladainha pela sobrevivência”, de Audre Lorde.

Rodas de conversa

Logo, houve as rodas de conversa "Situação política na perspectiva feminista", conduzida por Winnie Bueno, Daniela Luz e "Mulheres negras e a resistência a partir da cultura e comunicação”, por Ediane Oliveira. Bueno, bacharel em Direito e militante do Coletivo Juntas!, mencionou o fato de que a categoria ‘mulher’ não pode ser universalizada: “Se a gente vai trabalhar com a questão política na perspectiva de mulheres em um país como o Brasil, em que mais de 50% das mulheres são negras, essa perspectiva tem que partir, na minha opinião, das mulheres negras”. A bacharel falou sobre o contexto de crise que vivemos e o quanto ela atinge as mulheres, especialmente as mulheres negras e periféricas, que precisam lidar com os altos índices de inflação e seus impactos na qualidade de vida de suas famílias. Ainda, ressaltou que as saídas apontadas pelas diversas instâncias do poder público, como o congelamento de salários, fragilizam ainda mais as classes populares. “O que nós, enquanto mulheres, precisamos para enfrentar essa situação política de crise econômica e financeira?”, indagou, respondendo que uma das saídas postas é a organização das/os trabalhadoras/es, movimentos de mulheres, movimento negro, de juventude e campesinos.

Daniela Luz, estudante do curso de Agronomia da UFPel e militante do Alicerce, também falou sobre o período de ajuste fiscal que vivemos hoje e sobre o quanto ele afeta a classe trabalhadora e, em especial, as mulheres negras e pobres. “A gente vive um período que é reflexo dessa crise econômica mundial em que vivemos e se coloca para o Brasil a tarefa de ter a mão de obra barata para ser mais atrativa ao capital internacional”, reflete Luz. A estudante citou o andamento, no Congresso Nacional, de reformas conservadoras que impedem cada vez mais a organização da classe trabalhadora. “A lei antiterrorismo, a PEC [Projeto de Emenda Constitucional] da redução da maioridade penal e o PL [Projeto de Lei] 5.069 são demonstrações do aumento do conservadorismo de forma a criminalizar ainda mais os setores que vão se levantar contra a retirada de direitos trabalhistas e dificultar cada vez mais nossa mobilização e nossa vida”. Daniela também falou sobre a violência de gênero, chamando a atenção para o fato de que o machismo vem de um sistema que violenta as mulheres e que perpassa também todas as esferas do Estado, seja Executivo, Legislativo ou Judiciário.

Ediane Oliveira, jornalista e produtora cultural, foi facilitadora da roda "Mulheres negras e a resistência a partir da cultura e comunicação" e iniciou sua fala problematizando a mídia tradicional e seu papel no reforço de estereótipos da mulher negra. “Seja em novela, filmes, no entretenimento, como ela é representada? Ela parou no período da senzala. Ainda tendem a limitá-la nesses papeis subalternos, ainda as manchetes de jornais tendem a excluir nossas ‘Claudias’, as nossas tantas e tantas mulheres que são assassinadas pela polícia”. Oliveira também mencionou o fato de que as atividades culturais e a própria cidade de Pelotas serem construídas de forma racista, lamentando o fato de que as mulheres negras são sempre a minoria nos espaços de fala e representatividade. “Ser negra em Pelotas e jornalista que trabalha com uma comunicação independente na luta por uma comunicação que não seja racista ainda é um desafio que estou vivenciando aqui, e que sei que cada uma nas suas esferas resiste e luta numa cidade em que as pessoas ainda vão te subestimar pela pigmentação da tua pele, pelo único fato de tu seres mulher e isso a gente ainda precisa avançar”, refletiu. A jornalista, por fim, saudou o espaço que, para ela, representa um esforço de dialogar e unificar as lutas feministas.

 

Microfone aberto

Após as intervenções das facilitadoras, o microfone foi aberto para outras falas. As estudantes Isabela Mattozo e Mandy Mattozo lembraram a importância de se levar o debate do feminismo para as escolas onde, segundo elas, a discussão é ainda é muito frágil. “Na escola acontecem os primeiros convívios, primeiros contatos e se formam as primeiras opiniões e é onde o feminismo está fragilizado”, afirmou Isabela. Já Mandy ressaltou o fato de que no grêmio estudantil do colégio Pedro Osório há uma dificuldade de compor uma frente negra, “Quando uma menina vai falar sobre racismo, parece que é uma coisa engraçada, parece que o racismo é vitimismo e é um mito que as feministas inventaram”, pontuou, lembrando que é mais difícil ainda para as/os secundaristas abrirem o debate do feminismo nas escolas, pois são invisibilizadas.

Roberta Mello, militante do Juntas e servidora do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), também lembrou das dificuldades de ser mulher dentro do movimento sindical. “Acho que as companheiras que estão aqui e participam do movimento sindical sabem o que é isso. Os companheiros do movimento sindical acham que as mulheres são aquelas que vão servir o cafezinho, que é a responsável pela recreação do movimento”, afirmou. Mello também refletiu sobre o fato da mulher trabalhadora de esquerda do movimento sindical sofrer ainda mais ainda que o homem, já que toda vez que a gente vai falar a gente é desacreditada e precisa resistir também à violência simbólica, psicológica e física presentes. “Esse sindicalismo burocratizado, esse sindicalismo machista e homofóbico não nos representa mais”, afirmou a servidora, pontuando fragilidades do movimento sindical ao lidar com as opressões e a urgência de que tais reflexões sejam incorporadas pelo sindicalismo.

A luta segue

Ao fim da segunda parte da programação do grupo “Mulheres em defesa da vida – 8 de março é dia de luta!”, composto por 16 entidades que trazem o feminismo como pauta, a necessidade da continuidade da luta foi reafirmada. “São muitos temas para a gente pensar e colocar na luta das mulheres”, disse Daniele Rehling, socióloga e militante do RUA, que também lembrou da urgência de pensar na legalização do aborto para todas as mulheres, especialmente para as pobres e negras, que são as que mais sofrem com os procedimentos inseguros e de alto risco para suas vidas. Além deste tema, a importância de seguir o debate do feminismo como forma de resistência e transformação da sociedade brasileira, pontuada pelo machismo em todas suas esferas, foi lembrada pelas mulheres presentes.

A ADUFPel-SSind esteve representada no evento pela diretora Daniela Hoffmann. Para a professora, a importância do movimento do sábado estava refletida nas reações de quem passava pela praça: “Não havia quem ficasse indiferente à manifestação. Famílias se aproximavam da oficina de stencil e do varal de imagens e poesias, diversas pessoas sentaram em bancos próximos à roda para participar da conversa”. Hoffmann acredita que mesmo que a luta feminista ainda tenha muitas conquistas a fazer, este será um ano de seguir na resistência pela manutenção e recuperação de direitos outrora assegurados: “Ao falar em manutenção e recuperação de direitos, o feminismo luta não apenas pelo poder de decisão da mulher sobre o próprio corpo, mas incorpora-se às lutas da classe trabalhadora como, por exemplo, contra a lei antiterrorismo”. Finaliza lembrando que a passeata realizada no dia 8 de março pelo grupo foi abordada, ofensivamente, pela Brigada Militar.

A presidente da ADUFPel-SSind, Celeste Pereira, destaca a importância da discussão sobre as questões de gênero dentro e fora da universidade, “apontando todas as dificuldades enfrentadas, sinalizando os avanços e conquistas, ao mesmo tempo em que conclama a todas as mulheres e homens que desejam fazer deste um lugar melhor para se viver, construindo relações efetivamente fraternas pautadas na diversidade e no respeito às diferenças”.

Assessoria ADUFPel

 

Fotos: Assessoria ADUFPel 

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