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Notícia

Greve Nacional da Educação tem 48h de intensa mobilização em Pelotas

A participação dos docentes e técnico-administrativos foi deliberada em assembleias da ADUFPel-SSind, Sinasefe IFSul e ASUFPel-Sindicato


Após dois dias de luta, encerrou-se a Greve Nacional da Educação que paralisou todas as atividades da UFPel e do IFSul por 48h e mobilizou toda a comunidade acadêmica contra a tentativa de desmonte da educação pública promovida pelo governo federal. A Greve teve como pauta central os cortes orçamentários, que ameaçam o funcionamento das instituições, o programa Future-se e a intervenção do Ministério da Educação na nomeação de reitores. 


Piquetes bloquearam as principais entradas da Universidade logo no início das manhãs dos dias 2 e 3 de outubro. Depois, a agenda de lutas teve continuidade com diversos debates, lançamento de livro e ato político-cultural, que buscaram atentar a população para a importância do papel desempenhado pelas instituições de ensino superior para Pelotas e região. 


No primeiro dia (2), foi realizado um almoço em frente ao IFSul-Campus Pelotas e, durante a tarde, aconteceu uma roda de conversa sobre lutas autônomas, partidárias, sociais e de massa; militância no cotidiano; cortes e precarização no trabalho, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAUrb). 


Lançamento de livro e debate sobre situação do país em um momento de crise

Ainda, no dia 2 de outubro (quarta-feira), foi lançado o livro "Revolução Africana - Uma Antologia do Pensamento Marxista", de autoria de Jones Manoel e Gabriel Landi Fazzio, e ocorreu o debate "Por que o Brasil está assim?". As duas atividades foram organizadas pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UCPel, Primavera De Luta, e fizeram parte do calendário da Greve Nacional da Educação.


O livro "Revolução Africana" reúne artigos que atravessam três décadas da luta revolucionária na África e permitem uma visão não apenas de diversas experiências políticas, mas de toda a riqueza e variedade do pensamento marxista africano. Entre os autores estão: Frantz Fanon, Kwame Nkrumah, Amílcar Cabral, Eduardo Mondlane, Samora Machel, Agostinho Neto, Thomas Sankara e Samir Amin. Os textos abordam temas como o racismo na sociedade de classes, a mentalidade colonial, a idealização do passado africano e a opressão patriarcal no continente, além de questões de tática e organização política. 


"Por que o Brasil está assim?"

Logo após, ocorreu o debate "Por que o Brasil está assim?". Com o mini-auditório da sala 410 da UCPel lotado, os convidados Jones Manoel, historiador e educador, e Humberto Matos, educador e vlogger do Saia da Matrix, abordaram a atual situação do país em um momento de crise política, econômica e social e suas consequências para a população. 


Matos atentou para as consequências da despolitização, a colocando não como a causa dos problemas que o país enfrenta, mas como um fator que contribui para o agravamento dos problemas. 'Se a gente chegou a esse ponto no país, hoje, é justamente por não falar de política", afirmou. Segundo ele, Bolsonaro não está no poder por acaso. Ele é resultado do momento de crise prolongada do capitalismo que vivenciamos. Essa crise tem como consequência uma onda de neofascismo que espalha-se pelo mundo todo, então, torna-se fundamental tentar entender porque isso está ocorrendo. 


De acordo com o militante, toda vez que o capitalismo passa por um momento de crise, surgem duas alternativas: o fascismo ou o anticapitalismo (proposta socialista e comunista). "Estamos vendo o ressurgimento dessa onda fascista no mundo todo. Isso é sintomático. (...) É um momento muito complicado de caos e ataques generalizados e violentos à educação e à classe trabalhadora e isso é muito perigoso". O educador ainda destaca que, no entanto, em algum momento, essa onda irá passar, e, quando isso acontecer, será o momento de disputar qual projeto de Brasil e de mundo que queremos. 


Manoel ressaltou que vivemos um momento histórico de uma derrota estratégica da formulação que guiou a maioria das esquerdas e a classe trabalhadora nas últimas décadas, que é a estratégia democrático popular. O professor apontou que na história da classe trabalhadora brasileira há três estratégias que conformam três grande períodos históricos que guiam a ação da classe trabalhadora. 


Nesse sentido, Manoel cita três elementos que foram fundamentais na história de debates estratégicos da esquerda e da classe trabalhadora brasileira, que são: a particularidade do capitalismo brasileiro, que classes vão compor o processo revolucionário e o papel do estado burguês na estratégia política. De acordo com ele, nós somos um país capitalista dependente, periférico e subdesenvolvido, que faz política na periferia do sistema, o que é muito diferente de fazer política no centro. “Todo o capitalismo por mais democrático-burguês que ele aparenta, em um momento de crise revolucionária ele se arma até os dentes e não tem problema nenhum em passar o cerol na classe trabalhadora e nos sindicatos”, destaca. 


Educação na Rua 

Durante a tarde do dia 3 de outubro (quinta-feira), trabalhadores/as da educação e estudantes ocuparam o largo do Mercado Central para o ato político-cultural “Educação na Rua”, em defesa da educação pública. Por mais de três horas, foram realizadas apresentações artísticas, oficina de fabricação de instrumentos musicais pelo Programa de Extensão em Percussão (Pepeu), e ofertados serviços do projeto Barraca da Saúde e da Tenda do Afeto Popular – espaço itinerante formado por professores e estudantes de pós-graduação, ambos da UFPel.


A Barraca da Saúde é um projeto de extensão, multidisciplinar, que envolve 15 cursos da UFPel e mais de 150 alunos. Por meio dele, são promovidas educação, prevenção e capacitação profissional em Pelotas e na região sul. O projeto está presente em todas as manifestações em defesa da educação e, segundo o coordenador discente, Gabriel Moura Pereira, a participação tem como objetivo mostrar para a população a importância e a qualidade das atividades de extensão desenvolvidas pela Universidade e que correm risco de acabar, diante dos inúmeros ataques do governo federal. Durante toda a tarde, foram realizadas avaliações bucal e nutricional, aferição de pressão arterial e testes para a identificação de infecções sexualmente transmissíveis. 


O Pepeu, criado em 2013, promove o diálogo com a comunidade a partir da música de percussão, bem como a aproximação da Universidade com espaços e pessoas ligadas à educação musical, a cultura popular e a música de percussão. O projeto já realizou, até então, oficinas para professores e alunos de diversos cursos da UFPel e de outras instituições de ensino superior, escolas e comunidade. 


O ato também contou com diversas apresentações. O grupo de choro "Feito a Martelo"; as bandas "Candé", "Coletivo Casa Verde", "Afro Black Soul" e "O Processo"; o grupo "Slam das Minas" e o ator Cid Branco apresentaram-se antes da marcha que percorreu as principais ruas do centro da cidade. As atrações foram intercaladas por falas de representantes sindicais e estudantis. 


Entidades sindicais avaliam movimento 

Em entrevista à ADUFPel, os representantes da três entidades sindicais que construíram a mobilização em Pelotas avaliaram a mobilização e destacaram a importância de defender as instituições de ensino superior que trazem diversas contribuições para toda a região extremo sul do estado. 


Roberto Vieira Júnior, diretor do Sinasefe IFSul, salienta: “Estamos lutando pela educação pública, gratuita e de qualidade. A educação é importante não só para a nossa geração, mas também para as futuras gerações. É uma obrigação dos governos federal, estadual e municipal manter a educação gratuita para as pessoas de modo geral. A gente vê que a ideia é privatizar a educação e atacar diretamente aqueles que não têm condição de pagar o seu estudo”. Ainda, destaca que as instituições de ensino superior atendem diretamente alunos e servidores e indiretamente todo a região, que também será afetada pelos cortes orçamentários. 


Maria Tereza Fujii, coordenadora geral do ASUFPel, destaca que a Greve foi vitoriosa e mobilizou toda a Universidade, que ficou por dois dias sem atividades. Tereza, recentemente aposentada, conta que passou mais tempo de sua vida dentro da UFPel do que em sua própria casa, exatos 43 anos, e que foi graças à Universidade que pode sustentar e criar seus filhos. “O amor que eu tenho pela UFPel não morreu quando eu me aposentei, ele continua. Por isso que eu continuo lutando para que essa universidade jamais feche as portas”. Fujii ainda afirmou que, caso as instituições fechem, o comércio da cidade estará completamente comprometido, já que 21 mil alunos da UFPel e do IFSul contribuem para a economia do município.  


A presidenta da ADUFPel-SSind, Celeste Pereira, avalia os dois dias de Greve Nacional da Educação como “muito importantes na perspectiva da defesa da educação pública. Cumprimos a agenda prevista e tivemos muitas manifestações de apoio da comunidade. Mais uma vez, nem a chuva foi capaz de nos fazer desistir, e mostrou nossa capacidade de unidade na luta. Resistiremos!”. 


Servidores municipais e estaduais apoiam a mobilização

O ato também contou com o apoio e a participação de representantes do 24º Núcleo do Sindicato dos Professores e Funcionários de Escolas do Rio Grande do Sul (CPERS) e do Sindicato dos Municipários de Pelotas (Simp), que encontram-se em greve por conta do atraso no pagamento dos salários. Ambas categorias enfrentam o descaso dos governos estadual e municipal, administrados pelo PSDB, que seguem a mesma política de governar, atrasando e parcelando os salários dos servidores. 


Tatiane Rodrigues, presidente do Simp, afirmou que assim como governo federal, os governos Eduardo Leite e Paula Mascarenhas sucateiam a educação pública. “Sem salário, não tem trabalho. Então nós estamos em greve. Nós não aceitamos o raciocínio opressor de um governo que investe nos grandes empresários e não prioriza os seus trabalhadores, suas trabalhadoras e suas comunidades. (...) Não aceitamos a política de amizade que o governo Paula [Mascarenhas] tem com os grandes [empresários]. No dia que ela nos comunicou que estava atrasando os nossos salários, à tarde, ela estava inaugurando o calçadão, demonstrando total desrespeito que ela tem com os trabalhadores e com as trabalhadoras. (...) Então, nós lutamos por uma educação de qualidade e pela dignidade dos trabalhadores em todas as esferas. Fora Paula, fora Bolsonaro!”, exclamou. 


Agenda da Greve seguiu durante a noite 

A agenda de mobilização da Greve Nacional da Educação teve continuidade às 19h, com debate sobre movimento estudantil e docente e o programa Escola Sem Partido, no Diretório Acadêmico do curso de História da UFPel, e, às 20h, no ASUFPel-Sindicato, com o Buteco da Filosofia e III Jornada do É'LÉÉKO, que encerraram as 48 horas de mobilização. 


A III Jornada do Núcleo de Estudos e Pesquisas É’LÉÉKO: Epistemologias e Metodologias Descoloniais e Antirracistas, promovida pelo Curso de Psicologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da UFRGS.


Considerando que a jornada acontece em meio à Greve Nacional da Educação, a programação foi adaptada na perspectiva de unir esforços na luta pela universidade pública. Dessa forma, em parceria com o “Buteco da Filosofia” e com ADUFPel e o ASUFPel, foi organizada a roda de discussão intitulada “Descolonização do Pensamento e Democratização da Universidade Pública e Gratuita: Não ao Future-se!”. O debate contou com a presença de palestrantes nacionais e internacionais, como os/as docentes Lívia Natália Santos (UFBA), Alejandro de Oto (UNSJ/Argentina), Deivison Faustino (Unifesp), Miriam Cristiane Alves (UFPel/ADUFPel), Celeste dos Santos Pereira (ADUFPel) e a psicóloga Roberta da Silva Gomes (CRPRS). 


Com a casa cheia, os/as participantes apontaram para a necessidade de descolonizar o pensamento para democratizar a universidade com vistas a um novo olhar para o mundo. De acordo com a presidenta da ADUFPel-SSind, ao indicar a necessidade de rever os papéis da luta sindical e social e o da Universidade, bem como o seu compromisso com a sociedade, os debatedores corroboram a importância das políticas de ações afirmativas. Também, posicionaram-se veementemente contra o Future-se e as medidas predadoras do governo federal. “Garantir os princípios da autonomia financeira e de gestão é imperativo para um horizonte de igualdade e fraternidade!”, afirmou.


Assessoria ADUFPel

Fotos: Assessoria ADUFPel e Luana Ledermann (Buteco da Filosofia)


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